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02/08/2024“Quem viver e ler verá”
Publisher fala do crescimento do mercado editorial evangélico e avalia que há editoras evangélicas com qualidade superior às seculares
Por Cleber Nadalutti
No mercado editorial há 33 anos, o publisher Marcos Rodrigues Simas, 57 anos, lançou mais de 600 projetos editoriais em língua portuguesa. Atualmente, é consultor de aquisições e diretor de direitos autorais (para idiomas africanos e para o espanhol e o português) da Riggins Rights Management (RRM), a maior organização de gerenciamento de direitos autorais de livros religiosos do mundo.
Pesquisador de assuntos, como religiosidade digital e pertencimento religioso, Marcos Simas, teólogo e doutor em Ciências da Religião, tem analisado na academia, desde 2013, a influência da web e das mídias sociais digitais na Igreja Evangélica brasileira. “A internet, no sentido amplo, é apenas mais uma ferramenta utilizada de múltiplas formas para comunicar o Evangelho. Inclusive, tornou o acesso à Bíblia globalmente mais fácil, rápido e sem custo”, destaca ele, indicando que, no espectro das redes sociais, a web é, ao mesmo tempo, ferramenta de evangelização e de ampla exposição dos crentes. “Por um lado, auxilia na divulgação de conteúdos evangélicos variados e é um espaço para o surgimento de novos líderes no cenário nacional. Por outro, essas mesmas mídias expõem o que há de pior no meio evangélico, com direito à difusão instantânea de escândalos. Estamos mais presentes, mas também mais expostos.”
Casado com Alzeli há 37 anos, pai de Pedro e de Maria Clara e membro da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói (RJ), nesta entrevista à Graça/Show da Fé, Simas conta um pouco sobre sua experiência no mercado editorial e comenta a visão que o ambiente secular tem dos evangélicos.
Recentemente, o canal de TV a cabo GNT estreou uma série intitulada Evangélicos, que apresenta a trajetória de pessoas transformadas por Cristo. Em sua opinião, a série retrata honestamente a fé em Jesus?
Assisti a dois episódios e confesso que gostei do que vi. Até aqui, parecem tentar reproduzir, com boas lentes, histórias reais, emocionantes e fortes, que ocorrem diariamente nesse contingente religioso que cresce sem parar e sem limites. O tempo dirá se irão seguir com os “olhos bons” ou não. Ainda há muitas histórias – de mudança de vida, recuperação, esperança, fé e amor – para explorarem na experiência evangélica brasileira.
Desde 2018, o senhor tem atuado como diretor de direitos autorais da Riggins Rights Management (RRM). Em que consiste essa atuação?
A Riggins completou 20 anos em 2023. Já negociamos quase 10 mil contratos em mais de 75 idiomas diferentes ao redor do mundo. Meu trabalho é fazer contatos e fechar contratos de direitos autorais – em geral, oferecendo e sugerindo títulos junto aos editores dos idiomas português e espanhol e das línguas do continente africano.
É complicado convencer uma editora secular a lançar obras evangélicas em nosso país?
Não é fácil, porque eles não entendem a cultura evangélica multifacetada e plural. Mas alguns autores evangélicos também são autores de crescimento e desenvolvimento pessoal (autoajuda) e light business, e isso facilita o diálogo. Alguns autores com os quais trabalhei fizeram parte do top 10 da Editora Planeta por anos. No entanto, hoje me dedico pouco a isso pela falta de tempo e por priorizar a Riggins.
Observando o mercado editorial, quais são as tendências?
Uma forte tendência é o audiolivro. Com o auxílio da inteligência artificial (IA), e, por causa do baixíssimo custo da narração em áudio que ela proporciona, muitas obras serão editadas dessa forma em um futuro muito próximo. Alguns grupos seculares internacionais estão trabalhando nisso intensamente. É o caso do Grupo Harper Collins, dos Estados Unidos, que assinou contrato de parceria com uma empresa especializada em IA. Além disso, a expectativa é de que as vendas on-line cresçam e cada vez mais livrarias ofereçam algo mais do que a simples venda de livros.
O senhor tem experiência como professor em cursos de MBA em Book Publishing, nos quais ensina sobre o mercado de livros religiosos e a aquisição de títulos e autores. Há bastante procura por esse conhecimento no Brasil atualmente?
Faz tempo que essa indústria editorial está se profissionalizando. E a linha de obras religiosas tem realizado tudo muito bem. Afinal, a Bíblia é o livro mais vendido do mundo, além de ser o “produto” editorial mais traduzido. Há editoras evangélicas com qualidade técnica superior à maioria das seculares.
Boa parte das revistas e dos jornais evangélicos não existe mais. Isso não parece contraditório, considerando-se que o povo evangélico cresce a cada ano?
A internet vem suprindo esse papel para diversos públicos, através das mídias sociais e dos sites. Contudo, o volume de informação e leitura da web não necessariamente gera conhecimento e edificação espiritual. Pode ser apenas um aumento de acesso à informação, mas não de formação. Acredito que as revistas e os livros impressos têm seu papel, e a vida dessas mídias ainda é longa. Veja o caso do rádio, que apenas se reconfigurou, tornando-se tecnologicamente adaptado ao mundo digital. A revista está passando pelo mesmo processo em todo o mundo. Quem viver e ler verá.
Como o mercado editorial secular enxerga o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil?
Essa expansão assusta pela incapacidade de compreender o fenômeno. A mídia, a elite e a academia tentam explicá-lo, mas usam metodologias científicas atrasadas e erradas, além de lentes equivocadas e preconceituosas. Infelizmente, algumas editoras ainda mantêm a errônea ideia de que os crentes em Jesus são radicais, fundamentalistas e ignorantes, avessos ao conhecimento humano e à ciência.
Qual é a sua visão sobre o trabalho desenvolvido pelas igrejas evangélicas na internet, especialmente nos sites institucionais e em suas redes sociais?
É um mosaico difícil de analisar de maneira sucinta, pois tantos o fazem de variadas e criativas formas, na intenção de pregar o Evangelho, ou mesmo de abençoar a Igreja. Há muita coisa boa, assim como alguma coisa ruim. Em geral, tudo depende das buscas feitas pelo internauta. Até aqui, os evangélicos têm utilizado essas ferramentas de modo intenso e cada vez mais profissional.
Marcos Rodrigues Simas
Publisher, consultor de aquisições, teólogo e doutor em Ciências da Religião