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25/10/2023Jornal das Boas-Novas – 293
22/12/2023Na medida certa
Apesar de ser uma ferramenta poderosa para a pregação da Palavra, a internet deve ser usada com cautela
Por Ana Cleide Pacheco
Cada vez mais, as novas tecnologias são utilizadas para suprir as necessidades humanas. Em contrapartida, várias pessoas têm se tornado dependentes desses recursos. Segundo especialistas, o melhor exemplo disso são os smartphones. A interação constante com esses aparelhos – especialmente quando se trata do acesso às redes sociais – leva muita gente a desenvolver a nomofobia. O termo deriva da expressão inglesa no mobile phone phobia (em tradução livre, angústia exagerada ou fobia de ficar sem o celular). [Leia, no final desta reportagem, o quadro Reações desproporcionais]
De acordo com estudiosos do tema, não há tanta diferença entre a dependência de drogas, de games ou de redes sociais, pois todas operam ativando o mesmo sistema de motivação e recompensa do cérebro. O celular é a heroína do século 21, afirmou o espanhol Marc Masip, criador de um programa de reabilitação para adolescentes dependentes de tecnologia, em entrevista à BBC News. Segundo ele, um tratamento para quem sofre dessa compulsão por aparatos tecnológicos pode se tornar ainda mais difícil do que recuperar um dependente de drogas, porque todo mundo já sabe que elas fazem mal, enquanto as novas tecnologias todos nós usamos sem saber o tamanho do dano que podem causar.
Essa discussão se amplia cada dia mais, inclusive nas igrejas. Afinal, os cristãos e até mesmo os ministérios utilizam a web para anunciar a Palavra. Entretanto, especialistas lembram que os crentes também se enveredaram pelo caminho da nomofobia sem perceber. Essas pessoas passam horas jogando na internet ou interagindo nas redes sociais, mas não encontram tempo para meditar nas Escrituras Sagradas, orar e vivenciar a comunhão presencial com os irmãos. “Todo extremo é perigoso, e esse é o problema, pois alguns exageram no uso da tecnologia, dando a ela o lugar de protagonista, quando deveria ser apenas coadjuvante”, analisa o Pr. Jeová Souza Pinto, da Assembleia de Deus Centro Cristiano Misionero Plenitud, em Guacara, no Norte da Venezuela.
De acordo com o líder assembleiano, há cristãos presentes nas redes sociais que não se identificam como servos de Deus no ambiente virtual: não postam versículos, não dão testemunho daquilo que vivem com o Senhor nem compartilham links de vídeos de pregações. “Não são difusores do que edifica e engrandece a Deus”, lamenta o Pr. Jeová.
A administradora de empresas Erica Lourenço, 45 anos, membro da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ), concorda com o ministro e pontua que muitos estão na rede mundial de computadores para fugir de problemas pessoais, e não para falar de Cristo. “Alguns acessam os recursos tecnológicos para não encarar a própria vida. Como não há rosto por trás das telas, podem falar ou agir como bem entendem”, aponta Erica, defendendo que os cristãos, como servos de Jesus, precisam ter o cuidado de agir de forma coerente com o que pregam, sendo os mesmos em todos os lugares, inclusive no ambiente virtual. “Precisamos ser como o Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação”, conclama, citando Tiago 1.17.
Pregação e testemunho – O consultor de vendas no mercado digital e pastor, Rubem Macedo França, 51 anos, da Assembleia de Deus do Brás, em Santa Bárbara D’Oeste (SP), lembra que as tecnologias têm um papel vital na divulgação do Evangelho. “Podemos usá-las para alcançar um público global, compartilhar recursos religiosos, realizar cultos on-line e conectar pessoas que partilham a mesma fé”, ressalta ele, acrescentando que, por meio das redes sociais, dos blogs e dos podcasts, é possível promover discussões construtivas sobre temas espirituais e criar comunidades virtuais que apoiem e inspirem outras pessoas. “Em última análise, a tecnologia é uma ferramenta valiosa para expandir a mensagem de amor e redenção pregada por Cristo.”
Para o Pr. Saul de Souza Ferreira, 41 anos, da Igreja Evangélica Avivamento Bíblico, no bairro Ponta da Praia, em Santos (SP), os cristãos precisam focar em dois aspectos fundamentais para usar bem as novas tecnologias: “Em primeiro lugar, a pregação da Palavra deve ser feita com responsabilidade e fidelidade ao Texto Sagrado. Com temor e tremor, devemos apresentar Cristo de forma clara, mantendo a integridade do Evangelho. Além disso, dar bom testemunho é essencial. Muitas vezes, o Nome de Jesus é envergonhado por comportamentos inconsistentes dos cristãos nas redes sociais”, afirma o líder espiritual.
Na opinião de Ferreira, os servos do Senhor precisam se lembrar da ordem expressa pelo apóstolo Paulo em Colossenses 4.5,6: Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um. “Portanto, nossa conduta on-line deve refletir o amor e a graça de Cristo, atraindo pessoas para a mensagem que compartilhamos. Isso significa ser o bom testemunho por meio de palavras e ações, de modo que quem não compartilha da fé em Jesus possa ser impactado positivamente pela maneira como vivemos e nos relacionamos com os outros”, aconselha.
O teólogo Leonardo Ferreira Nascimento, 45 anos, concorda com a ideia de que as tecnologias podem ser grandes aliadas na pregação do Evangelho e na expansão do Reino de Deus. Entretanto, reforça que essas ferramentas sejam usadas de maneira responsável, buscando alcançar pessoas e mudar a vida delas para melhor. Nascimento, pastor da Comunidade Evangélica Habitar, no bairro Coelho, em São Gonçalo (RJ), acrescenta que os recursos digitais precisam ser utilizados com equilíbrio e consciência. “Tudo em excesso pode gerar malefícios”, alerta.
Vantagens e desvantagens – O militar Willy Chagas da Silva, 28 anos, líder de juventude do Projeto Água da Vida do Fonseca, em Niterói (RJ), afirma que as novas tecnologias não são de todo ruins, mas alerta para o fato de que muitas pessoas têm sido prejudicadas pelo mau uso delas. Ele ressalta que as redes sociais são programadas para “aprender” acerca dos gostos e preferências dos usuários, a partir de suas interações na internet. “Somos bombardeados de informações, vídeos e posts relacionados aos nossos assuntos favoritos. Então, quando nos damos conta, perdemos o tempo de preparação para uma prova, ou deixamos de lado os afazeres domésticos.”
O servidor público João Vitor Santos Ferreira, 42 anos, membro do Projeto Água da Vida do Fonseca, em Niterói (RJ), onde lidera jovens casados, sinaliza que as tecnologias, ao longo da História, apresentam vantagens e desvantagens. Ferreira lembra que o surgimento do fogo, apesar de ter sido uma descoberta que ajudou a humanidade a se aquecer e proporcionou o cozimento dos alimentos, também fez com que os seres humanos inalassem dióxido de carbono. “Se pararmos para analisar, sempre há pontos positivos e negativos nas invenções. Com a internet não seria diferente, pois ela tem a capacidade de aproximar quem está distante fisicamente, mas, em contrapartida, distancia quem está perto.”
Na opinião do servidor, esse desequilíbrio ocorre em diversas áreas. E o antídoto para a nomofobia e outros males decorrentes do uso incorreto das novas tecnologias é buscar a sabedoria do Senhor, conforme registra o Salmo 90.12: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio. “Esse é o caminho de equilíbrio do nosso tempo”, conclui.
Reações desproporcionais
A nomofobia é um termo utilizado no meio acadêmico desde 2008. Refere-se ao medo ou à ansiedade que algumas pessoas experimentam ao ficarem sem o celular, ou ao não poderem usá-lo, por diversos motivos, como bateria fraca, falta de cobertura de rede, ou quando o aparelho foi perdido ou está quebrado.
Abaixo, listamos alguns sinais do distúrbio:
– Ficar ansioso ao passar muito tempo sem o celular.
– Necessidade de fazer várias pausas no trabalho para utilizar o aparelho.
– Acordar no meio da noite para usar o smartphone (foto).
– Verificar o telefone frequentemente para ver se há notificações.
– Sentir medo desproporcional de perder chamadas ou mensagens consideradas importantes.
– Ficar ansioso por estar em um ambiente sem sinal de internet.
– Preocupar-se excessivamente em perder ou danificar o telefone.
– Entrar em pânico quando a bateria do celular está fraca e não há carregador ou tomada disponível.
– E, diante das situações listadas, apresentar sintomas físicos, como aumento do batimento cardíaco, transpiração excessiva, agitação e respiração rápida.
(Colaborou Élidi Miranda, com informações de Tua Saúde)