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Foto: Arquivo pessoal

Ensino, oração e cuidado

Pastor e autor destaca os principais desafios inerentes ao ministério eclesiástico na atualidade

Por Patrícia Scott

Diante das tantas transformações da sociedade contemporânea, exercer o pastorado se tornou um grande desafio. Além da complexidade das questões atuais, o crescimento das igrejas aumenta ainda mais a pressão sobre seus líderes, devido às dificuldades inerentes ao aumento numérico do rebanho e às questões administrativas, que, hoje, envolvem esse trabalho. Muitos teólogos e estudiosos da área pastoral têm se debruçado sobre o tema, buscando entender quais seriam as melhores soluções, ou, melhor dizendo, como capacitar ministros do Evangelho de maneira que possam enfrentar as demandas do púlpito, do gabinete pastoral e da administração eclesiástica.

Assim, a fim de obter respostas sobre o assunto, a reportagem de Graça/Show da Fé conversou com o Pr. Fábio Bentes, 45 anos, autor de Derrubando gigantes– Como vencer os desafios do trabalho pastoral (RTM Editora). “No livro, falo sobre pontos importantes dos meus primeiros 15 anos como pastor, com o objetivo de servir a outros colegas de ministério e às pessoas do entorno deles.”

Além de pregar a Palavra, Bentes lecionou, durante uma década e meia, na área de ministério, na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, na capital paulista, e estuda com profundidade esse tema ao longo dos anos. Hoje, ele é um dos pastores da Igreja Evangélica de Maracanã, em Atibaia (SP), e desenvolve o devocional 100 Dias com Jesus, no Telegram. Nesta entrevista, o autor opina sobre alguns aspectos que considera fundamentais para o progresso do serviço pastoral na atualidade.

Biblicamente, qual é a função de um pastor?

Ensinar, levar instrução para a igreja, orar pela comunidade de fé e se dedicar ao aconselhamento, com o intuito de orientar as pessoas. Então, basicamente, é um ministério de ensino, instrução, oração, cuidado e visita.

As responsabilidades pastorais foram modificadas ao longo do tempo?

Sim. Na atualidade,  a dinâmica da Igreja Ocidental lembra a de uma empresa: conta com orçamento, diretoria, hierarquia, estatuto, reunião. Com isso, a atuação pastoral também foi mudando. Se, anteriormente, o pastor precisava ser exclusivamente um conhecedor da Bíblia, que orava e aconselhava pessoas, hoje, deve se comportar também como administrador, cuidando de agenda, orçamento, diretoria, eventos, além da liderança das pessoas que desempenham outros cargos na igreja.

Como é possível enfrentar as cobranças e as pressões inerentes ao ministério pastoral?

Com oração, coragem e convicção do chamado, a fim de enfrentar as dores. Além disso, deve-se lembrar de que qualquer preço é menor do que o pago por Jesus, conforme Hebreus 12.3: Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.

Em sua opinião, um pastor também necessita de referências humanas?

Sim. Ele tem o supremo Pastor, mas é importante alguém que seja referência para ele também. Jesus deixou como modelo o discipulado a ser desempenhado por pessoas que sirvam de exemplo para as outras. A essência disso é observar a vida de alguém e ver como ele se comporta na família, no casamento, na igreja e nos negócios, para que sirva de parâmetro. Assim, contar com líderes mais experientes traz um grande ganho. Sem isso, o pastor irá penar para aprender sozinho.

Como o pastor deve lidar com a atual relativização dos valores na sociedade?

Com firmeza e coragem, além de estar disposto a ser odiado pelo mundo. No final das bem-aventuranças, em Mateus 5, Cristo diz aos Seus seguidores que eles serão bem-aventurados quando forem perseguidos por causa do Nome dEle, conforme ocorreu com os profetas. Hoje, existem pastores que desejam ser amados pelo mundo, convidados para programas de televisão e considerados diferentes dos demais, para que a mídia não os compare com líderes fundamentalistas. Mas por que são diferentes? Porque não dizem às pessoas o que elas precisam ouvir. Muitos deles, principalmente os de linha intelectualizada, querem ser chamados para encontros filosóficos, a fim de receberem admiração e aplausos. Assim, deixam de cumprir seu papel profético.

Quais são os principais ensinos de Jesus sobre liderança pastoral?

Jesus é o Líder amoroso, que jamais procura prestígio ou reconhecimento. Ele possui um real interesse por vidas. Cristo é simples. Muitas pessoas se lançam ao ofício pastoral, porque querem holofotes, microfones e visibilidade, ou seja, uma carreira de sucesso. Isso é o oposto daquilo que o Salvador foi. Ele liderava com mansidão e humildade.

O avanço tecnológico tem sido desafiador para os ministros do Evangelho?

Depende do líder. Alguns enfrentam dificuldades para lidar com as ferramentas da internet, as redes sociais, como Facebook, Instagram e Tiktok. Mas os novos pastores usarão bem esses aplicativos.

Qual é a sua orientação aos pastores que, agora, sentem-se cansados das demandas do ofício?

Seja honesto e sincero com os próprios sentimentos. Tenha amigos para conversar a respeito do trabalho na igreja, a fim de perceber que eles enfrentam problemas iguais ou semelhantes. Ore, pedindo a Deus fortalecimento e livramento, em unidade com esses amigos. Busque socorro, caso a situação fique crítica. Esteja convicto do chamado e coloque os olhos na eternidade. O mais importante é buscar a Fonte de força, o Senhor. Assim, no fim da jornada, poderá dizer como o apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 4.7: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

Fábio Bentes
Pastor e autor

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