Caixa a dois

Casais que unem as finanças e têm conta bancária conjunta são mais felizes, revela pesquisa

Por Evandro Teixeira

Em seu livro, Amós faz o seguinte questionamento: Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo? (Am 3.3). No contexto em que escreveu essas palavras, o profeta se referia ao Senhor e ao povo de Israel, que estava em pecado (Am 3.1). Na sociedade de hoje, assim como em tempos imemoriais, a necessidade de caminhar em harmonia permeia e fortalece as interações humanas. No casamento não é diferente. O consenso é fundamental para manter a vida a dois e está presente em diversos temas, desde a criação dos filhos até o tipo de alimentação a ser adotada pela família.

Porém, se existe um ponto crucial em que o casal precisa estar em concordância é a administração das finanças. Quando se unem em matrimônio, homem e mulher têm de decidir: devem juntar suas rendas, abrindo uma conta bancária conjunta, ou é melhor manter o dinheiro em contas separadas? Uma pesquisa recente mostrou que a resposta para essa pergunta pode definir tanto o sucesso quanto o fracasso do relacionamento. O estudo, realizado pela Escola de Negócios Kelley, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, revelou que os casais que administram as finanças em conjunto tendem a ser mais felizes no matrimônio.

O levantamento, publicado recentemente no periódico especializado Journal of Consumer Research, analisou dois grupos: um de noivos e outro de recém-casados, por um período de dois anos. No primeiro grupo, os casais partilhavam a administração da renda por meio de uma conta conjunta; no segundo, mantinham o dinheiro em contas separadas. A pesquisa constatou que a qualidade do relacionamento daqueles que dividiam a mesma conta havia melhorado ao longo do tempo, em contraste com os casais que mantiveram o dinheiro em contas distintas. Entre estes, em geral, houve uma queda na qualidade da relação nos primeiros dois anos de casamento.

Levantamentos anteriores já sugeriam essa correlação entre finanças e felicidade no matrimônio. Entretanto, esse foi o primeiro estudo a demonstrar uma relação causal entre ter uma conta conjunta e a qualidade das uniões conjugais. A pesquisa revelou ainda que casais optantes pela conta bancária única brigam menos por dinheiro e se sentem melhor sobre a administração das despesas domésticas.

De acordo com o contador Alcir Guimarães, juntar as finanças é o caminho correto para evitar problemas e manter a harmonia entre os cônjuges. Na opinião dele, compartilhar informações financeiras por meio de uma comunicação clara gera uma maior transparência na relação. “A decisão de abrir uma conta conjunta, além de ser reflexo de um casamento harmonioso, permite ao casal não ter segredo nessa área.” Para Guimarães, o modelo usado em alguns casamentos, em que cada cônjuge paga as próprias contas, não é o ideal. “Quando unem forças, os dois têm mais capacidade de crescer juntos”, pontua o contador, destacando a importância de haver uma educação financeira familiar. “Ambos saem ganhando.”

Infidelidade financeira – Gerente de uma rede de farmácias e formada em Ciências Contábeis, Liliane Ramos Nunes Soares reforça a necessidade de o casal buscar conhecimento sobre organização orçamentária. Ela lembra também que, havendo discordâncias nessa área, marido e mulher precisam estar dispostos a discutir a questão, a fim de identificar os erros e, juntos, encontrarem as soluções. “A ajuda de um especialista em finanças pode ser necessária quando os problemas são complexos, persistentes ou estão afetando o relacionamento”, recomenda Liliane Soares.

Outros especialistas opinam que estar atento a essas questões é fundamental porque os desentendimentos a respeito do uso do dinheiro estão entre as principais causas de divórcio no Brasil. Alguns estudiosos até já alcunharam a expressão infidelidade financeira para designar a falta de honestidade de um dos cônjuges em relação às finanças da família. Isso acontece, por exemplo, quando uma das partes mente sobre quanto ganha, esconde uma compra, descumpre o limite de gastos estabelecido, engana o outro quando há problemas, como dívidas, ou não considera a opinião do cônjuge para tomar decisões que impactam a renda familiar, como trocar de carro.

A fim de evitar esse tipo de situação, os noivos já devem ter um entendimento a respeito do gerenciamento conjunto das finanças antes de trocarem alianças. É o que pensa o Pr. Carlos Alexandre Pontes, auxiliar na sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Amazonas. Ele salienta que é bastante comum alguns casais já começarem a vida a dois com dívidas devido às despesas relacionadas à aquisição de bens ou à festa de casamento. “Esse cenário pode desencadear problemas futuros. Nesse caso, devem ter muita sabedoria e disciplina para enfrentarem essas questões juntos e da melhor forma”, recomenda.

Para o ministro, a administração financeira deve ser compartilhada, mas o ideal é que cada cônjuge tenha uma fonte de renda. Desse modo, caso um deles fique desempregado, a família não ficará descoberta, o que pode até evitar uma crise matrimonial. Por outro lado, Pontes ressalva que marido e mulher precisam olhar sempre para Aquele que cuida de todas as coisas. “Quando o casal dá uma importância exagerada ao dinheiro, tende a esquecer de Deus, do amor e do respeito”, pondera.

O engenheiro eletricista Alberjan de Jesus Jean Pinto, 45 anos, sabe bem como é fundamental a comunhão com o Altíssimo para o equilíbrio do matrimônio, incluindo o lado financeiro. Casado há 20 anos com a dona de casa Ilkelane Assis Pinto, 39, ele conta que, em 2010, desfrutava de uma vida financeira equilibrada, mas se afastou dos caminhos do Senhor. Em 2013, porém, passou por uma crise financeira: perdeu o emprego e viu as estruturas de seu casamento serem abaladas. “Nossa vida conjugal passou a oscilar entre momentos bons e ruins”, lembra-se.

De 2014 a 2017, o problema foi se agravando porque o engenheiro não parava em emprego algum. Na época, o casal já tinha duas filhas: Maria Eduarda, hoje com 16 anos, e Ana Júlia, 14 anos. No final daquele período complicado, nasceu Rafaela, agora com 7 anos. Em 2017, endividado e com o casamento em frangalhos, Alberjan entendeu que o melhor caminho para salvar sua vida financeira e seu relacionamento era buscar o Senhor. Ele se reconciliou com o Todo-Poderoso e, em apenas três dias, conseguiu uma ótima oportunidade de emprego, no qual trabalha até hoje e se tornou o principal executivo da companhia. “Embora tenhamos uma vida financeira estabilizada, sei que isso não seria possível se Deus não estivesse no centro de nossa vida”, comemora ele, que é membro da sede estadual da IIGD no Amazonas, feliz pela restauração de seu casamento.

Respeito e cuidado – Na opinião doPr. Elber Paixão da Conceição, da Igreja Batista Herança da Graça, em São Gonçalo (RJ), a falta de estabilidade financeira tem, de fato, o poder de impactar o casamento, mas adverte que o dinheiro não pode ser a base da união a dois. Segundo ele, se assim fosse, todos buscariam pessoas com excelentes condições financeiras para se casar e, assim, garantiriam uma relação conjugal bem-sucedida. “Embora uma boa saúde financeira ajude no casamento, o que o sustenta é o amor”, afirma.

De acordo com o Pr. Marison Roberto Rosendo Barbosa, da Igreja do Evangelho Quadrangular no bairro Felipe Camarão, em Natal (RN), os casais precisam receber orientações financeiras e matrimoniais focadas nos princípios bíblicos. Citando as palavras de Jesus registradas em Lucas 14.28 (Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?), Barbosa ressalta que o Senhor deve ser o alicerce para qualquer estrutura e assinala: “Na relação conjugal, deve haver o compartilhamento de respeito, cuidado e amor”.

Já o Pr. Washington Martins, da Igreja da Graça em Ponte Nova (MG), afirma que tanto a escassez de recursos como o excesso de dinheiro e bens podem ser prejudiciais para a saúde do casamento. Para o líder, a verdadeira base de um relacionamento feliz passa pela fidelidade a Deus. “Antes de qualquer coisa, somos servos dEle”, destaca o pastor, ressaltando que os cônjuges precisam estar de acordo, tal como ensina o texto de Amós 3.3 citado no início desta reportagem, e sendo fiéis nos dízimos e nas ofertas, conforme orientação de Provérbios 3.9,10: Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e trasbordarão de mosto os teus lagares. “Dessa forma, estaremos agradando ao Altíssimo e, consequentemente, sendo abençoados e conquistando a felicidade em todas as áreas, inclusive no casamento.”

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