Vida Cristã
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Diante de questionamentos da fé, as pessoas não deveriam se afastar da Igreja, e sim aproximar-se dela, defendem pastores
Por Evandro Teixeira
Uma das missões da Igreja é anunciar a mensagem de Cristo a todas as pessoas, conforme o Senhor orienta em Marcos 16.15: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. No entanto, se de um lado estão as comunidades evangélicas pregando a Palavra da salvação, do outro estão os ouvintes das Boas-Novas; os quais, não raramente, têm questionamentos a respeito da fé e hesitam em abraçá-la.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos revelou que 52% dos adultos e adolescentes daquele país vivenciaram algum tipo de dúvida relacionada à religião nos últimos anos. O levantamento Dúvida e Fé: Principais Razões pelas quais as Pessoas Questionam o Cristianismo, realizado pelo Grupo Barna, ouviu dois mil norte-americanos em dezembro de 2022. Os resultados foram divulgados em março deste ano.
Os pesquisadores buscaram saber também os principais motivos que levariam os estadunidenses a se manterem longe da fé e das igrejas cristãs. Entre outras respostas elencadas na sondagem, os participantes que não tinham qualquer filiação religiosa citaram aspectos negativos, como a hipocrisia das pessoas de fé (42%), experiências desagradáveis com a religião no passado (23%) e a má reputação das igrejas (23%). No texto de apresentação do relatório, o Instituto Barna asseverou que a pesquisa sublinha a necessidade de as igrejas se tornarem lugares seguros para que pessoas de todas as idades e estágios na fé possam apresentar seus questionamentos, sejam aqueles que as impedem de abraçar plenamente as crenças cristãs, sejam os que as cativam e conduzem na direção da fé. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Outros dados]
O Pr. Marcus Vinícius Marques, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Gama (DF), acredita que todo líder deve estar preparado para receber qualquer tipo de questionamento acerca da fé cristã. “A forma como lidará com as questões exigirá muito cuidado. Será importante estar disposto a ouvir primeiro a fim de não tomar decisões precipitadas, tendo discernimento espiritual para entender a situação”, recomenda o pregador, assinalando que é necessário deixar que as pessoas se sintam à vontade para expor suas dúvidas.
Ao ser indagado a respeito de quem declara ter vivido experiências ruins em uma comunidade de fé, Marques entende que o problema não deve ser associado necessariamente à Igreja de Cristo e que cada caso precisa ser avaliado individualmente. “Essas declarações costumam vir de pessoas não muito dispostas a adquirir maturidade espiritual”, afirma o ministro, acrescentando que, em razão disso, esses indivíduos tendem a se sentir fragilizados diante de qualquer circunstância adversa.
Segundo o Pr. Marcus Vinícius, há quem não renuncie às convicções pessoais e feche o coração, impedindo que o Espírito Santo atue em sua vida. Além disso, observa que, em qualquer igreja, por mais que o cristão deseje servir ao Senhor fielmente, sempre existirá a possibilidade de ele se deparar com experiências desagradáveis. “Porém, nenhuma situação pode ser motivo de um servo de Deus abandonar a fé. Como diz a Palavra, quem lança a mão do arado não pode olhar para trás”, adverte, referindo-se ao texto de Lucas 9.62.
“Seres humanos” – Por sua vez, o Pr. Denis William da Silva Gonçalves, da Igreja Batista do Parque José Bonifácio, em São João de Meriti (RJ), na Baixada Fluminense, concorda com o Pr. Marcus Vinícius Marques, mas alerta para o fato de que as situações ruins se originam de pessoas que têm dificuldade de conviver em comunhão e, por isso, acabam atrapalhando os demais membros da congregação. Na opinião de Denis Gonçalves, esse tipo de problema gera um ciclo vicioso, o qual merece atenção e uma sábia intervenção por parte das lideranças. “Em muitos casos, será necessária uma nova reflexão sobre as experiências vividas. Deve-se buscar também identificar e reconhecer a parcela de contribuição da própria pessoa na gênese dos episódios ruins.”
O Pr. Furtunato Luiz Pedro Júnior, líder da Igreja Evangélica Batista em Otton Marins, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), entende que é preciso levar em conta o histórico de cada um a fim de discernir a origem do problema. Para ele, é interessante manter sempre um diálogo aberto e sadio com os líderes das comunidades cristãs. “Toda igreja é composta de seres humanos falíveis. Perfeição só no Céu”, assevera o ministro batista.
Na visão do Pr. Paulo César de Almeida Santos, da IIGD em São João del-Rei (MG), muitos que alegam ter passado por situações ruins dentro de comunidades de fé queriam, na verdade, fugir da responsabilidade de renunciar ao pecado. Segundo Santos, há também os que acreditam poder servir ao Senhor sem estar unido com uma igreja local. “É um grande equívoco. Infelizmente, esquecem que o Reino de Deus não é individualista, e sim formado pela união de todos os membros de compõem a Igreja de Cristo.”
Sabedoria aos símplices – O Pr. Natã de Melo, líder da Igreja Morada em Cianorte (PR), assevera que, quando a Igreja do Senhor se mantém firme nos princípios da Palavra, é malvista por aqueles que insistem em caminhar na contramão dos valores bíblicos. “Esse tem sido um grande desafio, pois atualmente as pessoas estão mais individualistas e vivem relacionamentos superficiais e pragmáticos.” Por outro lado, Melo reconhece que os cristãos precisam crescer na capacidade de dialogar com os de fora. “Conversar não significa aceitar as possíveis práticas erradas, mas é um caminho para conhecer as reais necessidades da comunidade.”
No entendimento do Pr. Rogério Luís Patrocínio, da Igreja da Graça em Benfica, na cidade de Juiz de Fora (MG), estar aberto à vizinhança da comunidade evangélica inclui se dispor a responder a quaisquer questionamentos acerca da fé cristã. De acordo com o ministro, explanar corretamente o Evangelho é suficiente para elucidar qualquer questão, conforme registra o Salmo 119.130: A exposição das tuas palavras dá luz e dá entendimento aos símplices. “Caberá ao pregador buscar inspiração divina para ministrar a Palavra de Deus, que, por si só, esclarece todas as dúvidas”, salienta Patrocínio, citando 2 Timóteo 3.16: Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça. “Quando a pessoa quer, verdadeiramente, conhecer o Senhor e ter comunhão com Ele, essas dúvidas são esclarecidas mais rápido.”
O Pr. Ismael Santos Costa, líder da Assembleia de Deus Ministério Plantar em Ipiranga, Juiz de Fora (MG), ressalta a importância de oferecer aos membros uma boa formação de fé. Para isso, defende que os líderes evangélicos lancem mão do discipulado e do aconselhamento. Assim, as pessoas tenderão a se aproximar das igrejas para sanar suas dúvidas. “Os questionamentos que dizem respeito à fé são esclarecidos por meio da Palavra, e as experiências advindas do que se acredita firmam a certeza e ampliam convicções, dando fim às confusões”, assevera o líder, concluindo com as palavras do salmista: Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios (Sl 84.10 – NVI).
Crentes em Jesus
O estudo Dúvida e Fé: Principais Razões pelas quais as Pessoas Questionam o Cristianismo, realizado nos Estados Unidos pelo Barna Group, ouviu duas mil pessoas, em dezembro de 2022, e 511 pastores, de dezembro de 2021 a janeiro de 2023. Curiosamente, a pesquisa mostrou que os ministros do Evangelho são mais críticos que os não cristãos a respeito da Igreja. A maioria dos líderes entrevistados declarou que experiências do passado com uma instituição religiosa (83%) e a hipocrisia das pessoas religiosas (80%) são os principais fatores que levam os indivíduos a duvidarem das crenças cristãs.
Tal posicionamento, porém, não foi citado na mesma proporção nem por cristãos (10%) nem pelos sem religião (23%). Muitos pregadores (68%) também acreditam que a reputação negativa das igrejas leva as pessoas a duvidarem da fé. Os demais respondentes se mostraram menos críticos à Igreja: entre os cristãos, apenas 12% concordaram que a reputação negativa das comunidades eclesiásticas conduz às crises de fé. Já entre os sem religião, esse percentual subiu para 23%.
A análise revelou ainda que metade dos crentes em Jesus – ou pessoas que já tiveram alguma experiência com a fé cristã no passado – passou por um período prolongado de dúvida a respeito da religião em algum momento da vida. Contudo, os cristãos não praticantes se mostraram mais propensos a ter questionamentos em relação à fé do que os praticantes: 11% dos não praticantes disseram que frequentemente têm dúvidas sobre suas crenças religiosas; entre os praticantes, essa taxa caiu para 8%.
(Fonte: Guiame e Church Communications)