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Sobrevivente de um campo de prisioneiros da Segunda Guerra Mundial, Louis Zamperini foi um exemplo de superação, fé e amor
Por Élidi Miranda*
O filme Invencível (EUA, 2014) é uma obra-prima do cinema. Com direção de Angelina Jolie, a película narra a biografia do campeão olímpico e herói de guerra norte-americano Louis Silvie “Louie” Zamperini (1917-2014). Entretanto, apesar do primor da produção – a qual teve três indicações ao Oscar e foi vitoriosa em outros festivais de cinema –, ela não enfatiza um aspecto importantíssimo do biografado: sua transformação em Cristo.
Filho de imigrantes italianos, Zamperini cresceu em Torrance, cidade do Sul da Califórnia (EUA). Não teve uma formação evangélica e era dado a praticar travessuras. Ainda muito jovem, destacou-se como velocista, o que lhe garantiu uma vaga na Universidade do Sul da Califórnia. Nos jogos Olímpicos de 1936, na Alemanha, ele chegou em 8º lugar na prova de 5 mil metros. Assim, aos 19 anos, Louis já era um dos mais promissores talentos do atletismo mundial e, certamente, estaria nos jogos de Tóquio de 1940. No entanto, essa edição das Olimpíadas nunca aconteceu: no ano anterior, os exércitos da Alemanha, comandados pelo ditador Adolf Hitler, invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.
Depois que os Estados Unidos entraram no conflito, em 1941, Zamperini foi convocado e passou a integrar o corpo de aviadores do país, sendo designado a lutar no Oceano Pacífico. Entretanto, durante uma missão de resgate, realizada em 27 de maio de 1943, o avião em que estava teve problemas nos motores e caiu em um ponto remoto do oceano. Zamperini, o piloto, Phil, e o artilheiro da cauda, Mac, foram os únicos que conseguiram chegar à superfície. Os três subiram em dois botes salva-vidas para aguardar o resgate das tropas aliadas – o que não aconteceu, pois haviam sido declarados oficialmente mortos.
Zamperini e Phil passaram 47 dias no mar, sentindo fome, sede e sob constante ameaça de ataques de tubarões. Mac morreu no 33º dia de sofrimento. Em meio àquela provação, a semente da fé começou a germinar no coração de Louie. Durante uma tempestade marítima, ondas gigantes lançavam a pequena balsa para o alto e, em seguida, a submergia. Isso aconteceu durante horas. Sem que tivesse entendimento da Palavra de Deus, mas diante de tamanho desafio, o jovem prometeu ao Senhor que, caso o Altíssimo lhe poupasse a vida e o fizesse voltar para casa a salvo, ele Lhe serviria para sempre.
A tempestade cessou, e, alguns dias depois, Zamperini e o companheiro sobrevivente foram retirados do mar por um navio das forças do Japão, inimigas dos norte-americanos. Na condição de prisioneiros de guerra, ambos foram conduzidos até a ilha de Kwajalein, na época sob domínio japonês, onde sofreram maus-tratos e torturas. Em setembro de 1943, Louie Zamperini foi transferido para Omori, um campo de prisioneiros localizado perto de Tóquio, a capital japonesa. Lá, o sargento Mutsuhiro Watanabe se tornaria seu algoz. Percebendo que o jovem era algum tipo de herói norte-americano, o militar nipônico, conhecido como O Pássaro, tinha prazer em torturá-lo pessoalmente.
Ódio em amor – Com o fim da guerra, Zamperini voltou aos Estados Unidos, onde se casou, em 1946, e teve dois filhos. Ele até tentou levar uma vida normal, mas os horrores do campo de prisioneiros – especialmente as torturas de O Pássaro – não saíam de sua mente. O atleta não conseguia esquecer aquele homem e seu único desejo era retribuir-lhe na mesma moeda. Suas experiências de fé deram lugar à dor e ao desejo de vingança.
Alguns anos se passaram, e aquela luta interna o consumia, quase a ponto de destruir seu casamento. Até que, certa noite, por muita insistência da esposa, Cynthia, Zamperini aceitou participar de um culto do evangelista estadunidense Billy Graham. Na mensagem, o pregador falou justamente sobre a guerra, o sofrimento e os milagres. Naquele momento, Zamperini revisitou os momentos no bote e o voto que havia feito de servir ao Senhor. Constrangido pelo Espírito Santo, confessou Jesus Cristo como Salvador e, ao final daquela reunião, era um novo homem.
Louie passou, então, a viajar pelos Estados Unidos contando sua história de superação e perdão. Ele fez questão de escrever uma carta ao Pássaro falando sobre sua conversão: O amor tomou o lugar do ódio que sentia por você. Nas Olimpíadas de Inverno de Nagano em 1998, no Japão, o ex-corredor, aos 80 anos, carregou a tocha olímpica durante a cerimônia de abertura. Na ocasião, reencontrou alguns dos guardas de Omori, exceto O Pássaro, que se recusou a vê-lo. Reencontrá-los foi o dia mais feliz da minha vida, afirmou o ex-atleta, em sua biografia.
O herói olímpico − sobrevivente de guerra e, principalmente, servo de Jesus − Louie Zamperini morreu em paz aos 97 anos, rodeado por familiares, em 2 de julho de 2014, em sua casa, na cidade de Los Angeles, Califórnia (EUA). No filme, lançado poucos meses depois de sua morte, em dezembro daquele ano, uma de suas frases preferidas é lembrada: Em toda a minha vida, sempre terminei a carreira. Uma clara referência às palavras do apóstolo Paulo, que, de fato, aplicam-se a Zamperini: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé (2 Tm 4.7).