Cultura & Cristianismo
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01/07/2023Preconceito infundado
Pesquisa aponta que cientistas cristãos são alvo de discriminação no meio acadêmico
Por Evandro Teixeira
O embate entre fé e ciência pauta os debates acadêmicos há séculos. Nesse confronto de ideias, estão: de um lado aqueles que defendem a incompatibilidade entre esses dois campos; do outro, os que entendem serem áreas de conhecimento complementares entre si. O segundo grupo, geralmente menor, é visto com preconceito pelo primeiro, como demonstrou um recente levantamento realizado por pesquisadores da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos.
Na pesquisa, constatou-se que cientistas não religiosos tendem a ter uma visão preconceituosa de seus pares adeptos do cristianismo. Em geral, consideram os crentes em Jesus inaptos para as atividades acadêmicas por causa da fé que defendem. Por serem mais propensos a acreditar que cristianismo e ciência não podem trabalhar juntos, os indivíduos não religiosos tendem a ver os cristãos como pessoas incompetentes para atuar no campo científico, concluiu o autor da análise, Cameron Mackey.
O pensamento carregado de preconceitos a respeito de cientistas cristãos não poderia ser mais equivocado. É o que pensa o pesquisador Marcos Nogueira Eberlin, doutor em Química e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Além de lembrar que Deus é o Criador do campo científico, o especialista destaca que a Bíblia registra informações que já pautaram inúmeros estudos e ressalta que grandes nomes da história da ciência eram cristãos. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Crentes em Jesus]
Contudo, Eberlin observa que, ao longo do tempo, prevaleceu na cúpula científica um pacto para tirar Deus do processo. “No entanto, à medida que as evidências foram aparecendo, alguns profissionais entenderam o erro cometido e voltaram a se aproximar do Altíssimo. Tal movimento comprova a existência da compatibilidade entre fé e ciência. Quem segue esse pensamento não pode ser visto como menos inteligente”, pondera.
Defensor do que chama de “boa fé e boa ciência”, Eberlin entende que a Teoria do Design Inteligente (TDI), por exemplo, apresenta o equilíbrio necessário a esses dois campos do saber humano. De acordo com essa hipótese, que não é adotada apenas por seguidores de Cristo, há indícios evidentes da existência de uma mente superior por trás da criação do Universo e da vida, a qual é atribuída ao Todo-Poderoso. Para o pesquisador, a falsa oposição entre fé e ciência é fruto da crença irracional abraçada por alguns cientistas, os quais deixam de notar todos os indícios da existência do Onipotente na criação – algo que pode ser observado por eles.
Esta era também a visão do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), o cientista mais conhecido e reverenciado do século 20. Embora nunca tenha crido em um Deus pessoal, Einstein rechaçava a ideia de um Universo não criado, tese que acabou motivando seu interesse pela ciência, como certa vez afirmou: Não sei como Deus criou este mundo, não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Quero conhecer os Seus pensamentos, o resto são detalhes.
Valores questionados – A visão estereotipada acerca dos cientistas cristãos não se baseia em fatos ou em demonstrações de incompetência dadas por eles. Na verdade, segundo aqueles que creem no Senhor, essa interpretação está enraizada na cultura, de forma geral, e é fruto de um processo de desconstrução dos pilares da sociedade ocidental, a qual se tornou majoritariamente cristã ao longo de quase dois milênios. Tal cenário tem suas origens na implementação de uma visão de mundo ateísta, instalada no Ocidente especialmente a partir do século 18, com a introdução do pensamento iluminista. “Na trajetória profissional, os especialistas cristãos encontrarão grandes desafios. Além do preconceito de seus pares, irão se deparar com situações em que seus próprios valores serão questionados”, observa o teólogo Estêfani Silva Honorato, da Comunidade Evangélica de Maringá (PR), acrescentando que, apesar das circunstâncias desfavoráveis, os cientistas cristãos precisam manter o compromisso com a verdade, o que lhes garantirá o equilíbrio necessário para lidar com essas situações.
O biólogo André Aguiar do Nascimento concorda com Honorato e afirma que, sem abrir mão de sua fé, o cientista que professa Cristo deve ser o mais técnico possível, a fim de mostrar clareza em suas alegações.
Embora reconheça a existência do preconceito contra a atuação de cristãos no campo científico, o teólogo Welfany Nolasco Rodrigues lembra que houve um tempo em que os religiosos rejeitavam a ciência e o envolvimento de crentes em Jesus nessa área. Rodrigues recorda que essa aversão por parte da Igreja aconteceu ao longo da Idade Média (476–1453), especialmente durante a Inquisição – iniciada em 1184 –, quando o saber científico era tratado como uma forma de bruxaria. “Essa crise ideológica influenciou comportamentos, afetando inclusive a área da saúde. No meio cristão, a Medicina foi combatida como se estivesse colocando em dúvida a fé genuína.”
Fé e razão – Hoje, entretanto, os cientistas cristãos, ao contrário do que muitos imaginam, são os primeiros a pregar a manutenção do equilíbrio entre fé e ciência. E, mesmo diante das visões preconceituosas, entendem que a presença de seguidores de Cristo no ambiente acadêmico glorifica ao Senhor. Essa é a visão do Pr. Leonardo Mathias da Silva, da Primeira Igreja Batista em Lote 15, na cidade de Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense. “É de extrema relevância existirem cristãos capacitados e dotados de inteligência para que, por meio de suas descobertas, possam servir a Deus e ao seu próximo.”
Visão semelhante tem o pesquisador Jungley de Oliveira Torres Neto, mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista na área de Filosofia da Religião. “Fé e ciência estão interligadas e devem dialogar sempre. Uma instância não deve ser excludente da outra. Precisamos ter fé para chegar à razão. E, por ela, conseguimos chegar à fé. Uma não existe sem a outra”.
Por sua vez, o Pr. Victor Augusto Martins, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Ribeirão Preto (SP), esclarece que, ao desvalorizar a presença do cristão no meio científico, os profissionais da área estão tentando negar uma verdade já conhecida de que toda a existência humana tem sua origem no Criador. Além disso, nos mais diversos campos de investigação científica, quase sempre haverá alguém que professa a fé em Cristo. Para o líder, trata-se de uma oportunidade, dada pelo Altíssimo, para que alguns especialistas céticos tenham um encontro com a fé. “Precisamos de pessoas de Deus que possam apresentar o caminho da salvação a esses cientistas. E a melhor forma é estando entre eles”, conclui.
Crentes em Jesus
Ao longo da história da ciência, diversos pesquisadores sabidamente cristãos ficaram famosos por suas descobertas e são reverenciados até hoje pela revolução que promoveram em seus respectivos campos de conhecimento. Eis alguns nomes:
Isaac Newton (1642-1727) – O cientista britânico foi inovador em diversas áreas da Física, Química e Matemática. Cristão devoto, Newton via os números como parte do plano de Deus e considerava o estudo da Teologia muito importante. Em um de seus escritos, declarou: Este magnífico sistema do Sol, planetas e cometas poderia proceder somente do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso. E, se as estrelas fixas são os centros de outros sistemas similares, estes, sendo formados pelo mesmo conselho sábio, devem estar todos sujeitos ao domínio de Alguém.
Foto: National Portrait Gallery / Wikimedia
Edward Jenner (1749-1823) – Cristão britânico, ele foi o criador da primeira vacina. Em seu tempo, as pessoas estavam desesperadas para escapar da varíola. Desse modo, nos anos de 1790, Jenner começou a estudar um meio seguro de inocular o vírus da varíola bovina em humanos a fim de prevenir a manifestação grave da doença. Assim, nasceu a primeira vacina da história. Como servo do Senhor, ele acreditava ter a obrigação de usar aquela descoberta para salvar vidas, e não para ganhar dinheiro. Portanto, vacinava os menos favorecidos sem lhes cobrar nada.
Foto: Wellcome Images / Wikimedia
Max Planck (1858-1947) – Físico alemão, Planck foi um dos protagonistas da Revolução Científica ocorrida na virada dos séculos 19 e 20. Tornou-se conhecido por seu trabalho na área de mecânica quântica, a qual dedica-se a analisar e descrever o comportamento dos átomos e das partículas subatômicas. Em um de seus escritos, Planck expressou que é possível perceber a presença do Criador em todos os lugares: Para os crentes, Deus está no princípio das coisas. Para os cientistas, no final de toda reflexão.
(Fonte: Monergismo.com e Todoestudo)
Foto: Wikimedia