Medicina e Saúde – 286
10/05/2023Igreja
18/05/2023Sagradas Letras
Especialistas ensinam como criar filhos com princípios cristãos em meio a uma cultura digital distante da Palavra
Por Patrícia Scott
Em sua segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo destaca o papel de duas mulheres judias, Loide e Eunice (2 Tm 1.5), na formação religiosa do destinatário da epístola. A avó e a mãe do jovem pastor recebem elogios do apóstolo pela fé genuína que possuíam e por terem apresentado ao aluno dele as Sagradas Letras desde pequeno(2 Tm 3.15). Com diligência, essas mulheres, que possivelmente conheceram Jesus por meio do ministério de Paulo, criaram uma base sólida para que Timóteo se tornasse um dos mais importantes líderes da Igreja primitiva.
Passados quase dois mil anos, essas duas personagens ainda são citadas como exemplo quando se fala na responsabilidade de os mais maduros transmitirem os princípios da Palavra de Deus às próximas gerações. Entretanto, em meio a uma sociedade em que os valores bíblicos têm sido desprezados, a reportagem de Graça/Show da Fé foi a campo para responder à pergunta: ainda é possível educar e orientar os filhos com base nas Sagradas Letras?
Para a norte-americana Kathy Koch, doutora em Psicologia Educacional, tal ação não só é possível, como também necessária. Escritora e palestrante renomada, ela tem diversos títulos publicados, especialmente sobre infância, adolescência e criação de filhos. Entre eles, está a obra Redes e adolescentes: Conectando-se com nossos filhos em um mundo digital, publicada no Brasil pela Graça Editorial. Com base em suas pesquisas, Koch afirma que o ensinamento dos pequenos deve ter como alicerce a Bíblia e o exemplo dos genitores, os quais devem praticar os princípios das Escrituras diariamente.
De acordo com a especialista, quando as crianças veem os pais pedindo direção ao Altíssimo antes de tomar uma decisão, ou percebem que se pautam na Palavra, elas tendem a querer adotar os mesmos parâmetros. É tudo sobre os filhos observarem em nossa vida a autêntica verdade bíblica, declarou a pesquisadora, em entrevista ao portal norte-americano Faithwire. [Leia, no final desta matéria, o quadro Guia para os pais]
O psicólogo Daniel Lacerda pensa como a autora. “É preciso unir as palavras às ações, pois elas convencem, mas as atitudes arrastam. O Evangelho tem de fazer sentido para os filhos. Então, a necessidade da vivência é essencial”, pontua o profissional, destacando que a Bíblia é um livro cujas orientações, sobre os mais diversos assuntos, são sempre atuais. “Não se trata de uma obra de ideologia religiosa, e sim de desenvolvimento pessoal. Por isso, colocar em prática o que ela ensina gera bons relacionamentos, saúde mental e molda o caráter.”
“Temor ao Senhor” – O Pr. Daniel Bahiano, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Espírito Santo, salienta que os pais são os tutores espirituais dos rebentos, conforme registra o texto de Deuteronômio 6.6,7: E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. “Fica claro que o contínuo ensinamento das Escrituras, aliado ao bom testemunho, é fundamental no processo educacional dos pequenos”, frisa, citando a passagem de Tito 2.7: Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade.
Segundo o pregador, a família deve contar com uma aliada primordial nesse processo: a igreja. Além dos ensinamentos dos valores de Cristo, as comunidades cristãs geram interação social e proporcionam atividades que despertam o amadurecimento da fé. “É importante que, diante das dificuldades enfrentadas, os pais peçam ajuda às lideranças, a fim de que Deus, na Sua multiforme sabedoria, oriente cada um da melhor maneira a solucionar a questão.”
Preocupada em alicerçar as filhas Maria Tereza, 8 anos, e Ana Isabelle, 21 anos, na fé cristã, a corretora de imóveis Vivian Helena da Silva, 41, não descuida de ensinar e de demonstrar, com o testemunho dela no dia a dia, os princípios bíblicos às meninas. “É essencial que elas vejam em mim o temor ao Senhor e a obediência aos mandamentos do Evangelho para que tenham uma referência.” Porém, a mãe pontua que a influência exercida pela internet e pelas amizades fora do meio cristão são um grande desafio. “No entanto, ao colocar Deus em primeiro lugar em minha vida, impulsiono-as a terem as experiências pessoais delas com o Criador. A partir do meu exemplo, elas construirão o próprio relacionamento com o Altíssimo, o que as firmará no caminho da fé”, declara Vivian, que congrega na Igreja Graça e Fé, na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).
A auxiliar de serviços gerais Valneia Alves da Silva, 45 anos, da IIGD em Vargem Pequena, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), também não descuida do ensino dedicado ao filho Davi, de oito anos. Ela conta que a oração, a leitura bíblica e o diálogo com o menino fazem parte da rotina dela e do marido, o ajudante de caminhão Anderson Miranda da Silva, 35 anos. “Construo uma relação com Davi fundamentada na confiança. Então, passo os ensinamentos de Cristo, os quais vivencio, a fim de que não haja conflito entre o que falo e o que faço. As crianças seguem mais o nosso exemplo do que as nossas palavras”, ensina Valneia, destacando que estimula o pequeno a ler sozinho o Livro Sagrado. “Meu filho sabe o que agrada e o que desagrada a Deus e já evangeliza os coleguinhas. ”
Herança do Senhor – O Pr. Cyro Melo, da Assembleia de Deus em Cubatão (SP), enfatiza que a família precisa criar, intencionalmente, oportunidades para ensinar aos pequenos as Sagradas Letras, incentivando-os sempre a praticarem os preceitos bíblicos e a lerem a Palavra. “O culto doméstico diário é muito importante para que a família esteja reunida para a meditação bíblica, a oração e o louvor a Deus. Cada membro deve ter a oportunidade de participar desse momento de maneira efetiva”, expõe o ministro assembleiano, citando a importância de a criança frequentar a escola bíblica, onde os ensinamentos são transmitidos de acordo com a idade dos pequeninos.
O Pr. Paulo Henrique Miranda Araújo, líder estadual da Igreja da Graça na Bahia, considera que os pais devem usar a criatividade para desenvolver a mentalidade bíblica nos filhos a partir de jogos, desenhos e filmes. “A revista Turminha da Graça (https://gracakids.com.br/categoria/revista/edicao-do-mes/) é uma excelente opção, pois ensina os valores cristãos de maneira divertida.” O ministro também defende a ideia de que os pais demonstrem, por meio da própria vida, os resultados de caminhar no temor do Senhor. “A obediência precede as bênçãos. A Palavra de Deus é como lâmpada para os pés e luz para o caminho daqueles que a ouvem e a praticam”, ensina o pregador, fazendo referência ao versículo 105 do Salmo 119.
Em seu livro A criação dos filhos (Graça Editorial), o Missionário R. R. Soares afirma que cada criança possui características individuais e ensina que só é possível encontrar as condições de suprir as necessidades delas nas Sagradas Escrituras. O líder da Igreja da Graça considera que a mensagem bíblica tem a habilidade de admoestar, convencer e edificar qualquer pessoa. No entanto, ele chama a atenção para as obrigações dos pais como ensinadores desses princípios: Ao sermos informados pela Palavra de Deus de que os filhos são herança do Senhor, percebemos nossa responsabilidade na criação deles, pois estamos cuidando não somente dos nossos filhos, mas também da herança de Deus.
A psicóloga Cíntia Piccinini explica que o processo de aprendizagem é mais eficiente pela repetição e pela modelagem (observação). Isso acontece principalmente na primeira infância, quando a criança é como uma esponja, que percebe e se conecta com tudo o que se passa no ambiente ao seu redor. “No núcleo familiar, o que ela vivencia é absorvido, gerando memórias que formam sua identidade e seu caráter, embasando seus valores e suas crenças. O filho fará aquilo que vê os pais fazendo. Educar precisa ser menos no falar e mais nas vivências”, pontua a especialista, destacando que é preciso se dedicar, com diligência e perseverança, à tarefa de educar os filhos nos princípios da Bíblia Sagrada, como fizeram Loide e Eunice. “É necessário gastar tempo intencional para a leitura bíblica, a oração, a conversa e a comunhão com o Pai celestial”, conclui.
Guia para os pais
No livro Redes e adolescentes: Conectando-se com nossos filhos em um mundo digital (Graça Editorial),a Dra. Kathy Koch se propõe a ajudar os pais a compreender a influência da internet sobre as novas gerações e a instrui-los a desmontar as muitas armadilhas que apanham seus filhos na web. Para tanto, a autora se ocupa em expor as mentiras que a tecnologia é capaz de contar aos adolescentes. Ademais, ensina aos responsáveis como contrapor esses enganos, usando algumas técnicas e, principalmente, os ensinamentos da Palavra. O trabalho de pesquisa da Dra. Koch é apresentado de forma didática e de fácil leitura, o que faz a obra ser útil e inspiradora. (Fonte: Graça Editorial)