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Pesquisa aponta que homens da geração Z são mais propensos a abraçarem uma religião formal do que as mulheres
Por Ana Cleide Pacheco
Por muitos anos, as mulheres foram vistas como mais religiosas do que os homens. Nas igrejas evangélicas, por exemplo, elas sempre demonstraram muito compromisso com a obra de Deus e eram quase unanimidade nas reuniões de oração. No entanto, essa é uma tendência que parece estar mudando. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que as jovens da geração Z – de pessoas nascidas entre 1995 até 2010 – são menos propensas que os homens da mesma idade a abraçarem uma religião formal. O estudo, realizado pelo Instituto Gallup, revelou que as mulheres nascidas a partir do ano 2000 tendem a se identificar mais que o sexo masculino com o grupo dos “sem religião”. Esse nicho da sociedade é formado por aqueles que, embora creiam em forças transcendentes, como Deus ou outros entes espirituais, não se identificam com qualquer religião formal.
O levantamento evidenciou que esse é um comportamento exclusivo da nova geração. Ao comparar com as informações coletadas entre os nascidos a partir de 1980, observou-se que as mulheres desse grupo tendem a ser mais religiosas que os homens – embora a diferença seja de apenas 2%. Entre os que nasceram de 1990 a 1995, essa lacuna desaparece. Porém, quando se considera os jovens que pertencem à geração Z, o sexo feminino se mostra menos propenso que o masculino a abraçar uma expressão religiosa.
Apesar de os dados terem sido levantados nos EUA, o Pr. Acyr de Gerone Júnior, 42 anos, líder da Igreja Missionária Evangélica Maranata em Duque de Caxias (RJ), acredita que as comunidades de fé brasileiras precisam estar atentas a essa tendência. “Sabemos que tudo o que começa nos Estados Unidos, cedo ou tarde, chega ao Brasil. Contudo, como vivemos em um contexto digital e globalizado, é possível que tais realidades já estejam presentes, ainda que de maneira incipiente, em nossos contextos eclesiais brasileiros.”
Júnior afirma que a Igreja de Jesus tem todas as ferramentas necessárias para auxiliar essa nova geração de mulheres a desenvolver uma fé bíblica e, ao mesmo tempo, pertinente diante das temáticas atuais mais importantes. “Uma igreja relevante em sua pregação conseguirá construir uma ponte entre o mundo da Bíblia e o de hoje”, declara ele, enfatizando que, para isso ocorrer, as congregações e suas lideranças precisam estar atentas aos dilemas que mais preocupam essas jovens, como a vivência no meio digital, a responsabilidade social e as questões ambientais. “É possível viver uma fé participativa e relevante e falar dos assuntos que intrigam as mulheres da geração Z de forma sábia e reflexiva, biblicamente e fiel a Deus. Enfim, com a graça dEle, podemos vencer os desafios que esses tempos apresentam à Igreja.”
Relativização de princípios – Não é possível identificar, com precisão, os motivos do afastamento dessas jovens das comunidades religiosas. Para o Rev. Ewerton Borges de Sousa, 37 anos, da Igreja Presbiteriana do Sinai, no bairro Fonseca, em Niterói (RJ), a relativização de princípios e valores absolutos é um fator importante nessa equação. “A sociedade
pós-moderna nos trouxe a ideia de que não existe verdade concreta. Para ela, as Sagradas Escrituras não são vistas como a única verdade que nos leva a Cristo, e sim apenas mais uma”, explica ele, destacando o fato de que, sob tal ponto de vista, qualquer pessoa se sente no direito de guardar determinado conjunto de crenças. “Essa é uma ideia que nós, cristãos, rejeitamos de forma total e inequívoca.”
Na opinião do pastor presbiteriano, esse afastamento das verdades absolutas da Palavra começa no ambiente familiar: em muitos lares, os valores bíblicos não são mais ensinados. Em seguida, perpetua-se no discurso presente nas escolas e universidades e nos meios de comunicação. “Vemos jovens sendo bombardeados com as ‘doces’ ideias pós-modernas, que relativizam todas as verdades”, completa ele, assinalando que as mulheres tenderiam a ouvir mais esse discurso por parecer bonito.
Segundo Souza, como antídoto a esse veneno, as igrejas precisam prosseguir anunciando as Boas-Novas e pregando seus valores absolutos, independentemente das pressões do mundo moderno. Para o Rev. Ewerton Borges de Sousa, para resgatar a nova geração, é necessário que as comunidades cristãs tratem a Escritura como única arma capaz de livrar as pessoas das amarras de Satanás. “Um Evangelho libertador tende a informar que a graça alcança as pessoas, e que o Pai deu Seu único Filho para morrer por nós. O Evangelho de Cristo desafia as pessoas a uma mudança de vida.”
Imperativo do Senhor – Já o historiador e teólogo Pedro Veiga de Aguiar Guimarães, 28 anos, aponta outros possíveis motivos para as jovens estarem se afastando da casa de Deus. Um deles seria o fato de os púlpitos não falarem muito sobre temas que guardam relação com os sonhos e as ambições femininas na atualidade. “De modo geral, o ambiente das igrejas parece apelar mais para o gênero masculino”, analisa Guimarães.
O teólogo observa que, em alguns ministérios, somente os homens podem ser pastores e líderes, enquanto as obrigações, como o cuidado dos filhos e as tarefas domésticas, são reservadas às mulheres. “Não parece haver, também, uma contribuição feminina em ambientes mais acadêmicos. Isso vai além do pastorado feminino propriamente dito: parece faltar o cuidado para treiná-las no ensino e no discipulado.”
O Pr. Fábio José da Silva, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Tubarão (SC), enfatiza que cabe à Igreja encorajar e capacitar mulheres a discipularem umas às outras. “É fundamental o papel do pastor, como dirigente, nesse sentido. O apóstolo Paulo escreveu sobre isso: As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem, para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada (Tt 2.3-5). Para o ministro, o ensino das jovens não é apenas uma idealização ou uma questão de cordialidade, mas também um ministério e um imperativo do Senhor para a Igreja. “Devemos estar atentos, a fim de não perdermos as novas gerações.”
A Pra. Verônica Araújo, 36 anos, da IIGD em Parque Ouro Branco, em Londrina (PR), concorda com o Pr.
Fábio da Silva e lembra que a relativização dos valores abre caminho para que a juventude beba de fontes impuras em sua formação moral e religiosa. Ela compara o momento atual com o tempo dos juízes, quando não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos (Jz 21.25). Apesar disso, a pregadora ressalta que as filosofias de hoje não mudam o fato de que existe um Rei que estabelece regras e decretos. “O que percebo é um movimento, antes sutil, agora não mais, que defende uma Nova Era Cristã. Para essas pessoas, a Igreja tem de ser mais tolerante, deve deixar de ditar regras e de dizer o que é correto.”
Na opinião da líder, as redes sociais são uma das maiores influenciadoras que advogam em favor desse movimento. Para ela, por darem crédito a esses pensamentos, que buscam afastar a mensagem do Evangelho, muitas jovens acabam deixando que as mídias moldem sua visão de mundo, seu estilo de vida e, consequentemente, seu relacionamento com Deus. A ministra ressalta que essas garotas, imersas na relativização, também são incentivadas a buscar o empoderamento feminino. Desse modo, segundo a pastora, elas passam a defender declarações que diminuem os homens e exaltam o sexo feminino. “As amigas, as professoras, os filmes e a literatura também são meios pelos quais diversas jovens são levadas a ter contato com ideias feministas. Infelizmente, muitas têm se deixado levar por esse discurso”, lamenta.
Ambos os lados – Em contrapartida, a Bíblia fala sobre a mulher virtuosa que vive em conformidade com os princípios e a vontade de Deus (Pv 31.10-31). Assim, de acordo com as Escrituras, quando uma mulher se dedica ao Senhor, ela não apenas é abençoada, mas também se torna canal de bênçãos para todos à sua volta. Para tanto, ela precisa ter o Texto Sagrado como o seu manual de conduta, pois este ensina as bases necessárias para viver plenamente em Deus, segundo o Seu propósito.
A Profª Andréia Campanholo de Paula, 31 anos, líder do Mulheres Que Vencem (MQV) em Jacarezinho (PR), lembra que toda mulher tem um ministério dado pelo Altíssimo: ser a ajudadora do marido. “A mulher foi gerada por Deus para ser a auxiliadora, aquela que está ao lado do esposo e cuidando da família.” No entanto, ela enfatiza que a Bíblia é muito clara ao apontar que o esposo deve amar a esposa, como Cristo ama a Sua Igreja, a ponto de dar a vida por ela (Ef 5.25). “Em ambos os lados, é necessário cumprir a ordenança do Senhor.”
Assim, para Andréia de Paula, à medida que mais mulheres se afastam das igrejas e, por extensão, dos ensinamentos bíblicos, cria-se uma situação em que as famílias terão muito a perder. “Isso é bastante preocupante, mas podemos reverter esse quadro”, comenta, exortando homens e mulheres a temerem ao Senhor de modo que possam ensinar aos seus filhos o caminho correto, de acordo com a Palavra. “Por mais que tudo à nossa volta esteja mudando diariamente – costumes, tradições, doutrinas –, aquela semente um dia plantada e cultivada permanecerá dando frutos bons, mesmo em meio a uma geração corrompida”, destaca a líder, citando as palavras do apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses (Fp 2.15).
Contudo, o Pr. Oliver Costa Goiano, 43 anos, líder da Igreja Batista da Lagoa, em Itapeba, Maricá (RJ), salienta que os maus maridos têm oprimido suas esposas em lugar de amá-las. Na opinião do pregador, isso também pode ser apontado como motivo para que muitas não queiram estar nas igrejas. “O que fazemos diante do fato de que, no Brasil, a mulher evangélica, segundo pesquisas, é a que mais sofre violência doméstica? Talvez porque, de nossos púlpitos, como pastores e pastoras, temos espiritualizado demais essa violência”, alerta o ministro, que também é professor de História.
De acordo com ele, as comunidades cristãs têm, entre suas tarefas principais, a de denunciar todo tipo de pecado e anunciar que Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34) e abomina a violência, inclusive contra a mulher (1 Tm 3.3). “Se nossas jovens observarem uma Igreja coerente, elas voltarão. Isso porque a Igreja não escolhe o pecado para combatê-lo, mas o combate onde estiver e anuncia todo o conselho de Deus”, afirma Oliver Goiano, citando Atos 20.27.