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24/11/2022Igreja
26/11/2022Ciência e espiritualidade
Pesquisadores acreditam ter encontrado o circuito cerebral responsável pela fé
Por Ana Cleide Pacheco
Há duas décadas, inúmeros estudos vêm comprovando o quanto a fé influencia a saúde física e mental do ser humano. Essas pesquisas têm estimulado o surgimento de outros inquéritos, que procuram saber os fundamentos cerebrais da espiritualidade e da religiosidade. Afinal, que partes do cérebro estão envolvidas e quais são os mecanismos que produzem a fé? Pesquisadores do Hospital Universitário Brigham para Mulheres, da Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), resolveram se debruçar sobre esse tema para encontrar respostas a tais questionamentos. Eles acreditam ter descoberto um circuito cerebral específico diretamente ligado à capacidade humana de crer no sobrenatural. Os cientistas descobriram que o circuito está localizado em uma área do cérebro denominada substância cinzenta central (PAG, a sigla em inglês). Os participantes da sondagem, um grupo de mais de cem pessoas, sofreram algum tipo de lesão cerebral em combate durante a Guerra do Vietnã (1955-1975). Por meio de questionários e exames de imagem, os cientistas puderam observar que, dependendo do local das lesões, a fé dos voluntários podia ser maior ou menor.
Indagada por nossa reportagem, a psicóloga Érica Rezende Barbieri, 49 anos, especializada em Neuropsicologia, afirma que a descoberta feita pelos pesquisadores de Harvard é interessante, mas assinala que mais análises são necessárias para entender a origem da fé no sistema neural. “Assim como inúmeras funções já foram mapeadas e encontram suas áreas no cérebro, a crença em Deus não poderia ser diferente” comemora.
Barbieri lembra, entretanto, que esse é apenas o início de uma série de investigações que precisam ser feitas. Afinal, segundo ela, cada indivíduo tem experiências muito particulares e diferentes com Deus, ainda que estando em um mesmo ambiente. “E como explicar isso? Penso que a ciência tem muito a trabalhar e que existe um longo caminho a ser percorrido”, destaca Barbieri, membro da Segunda Igreja Batista em Rondonópolis (MT).
O Prof. de Teologia Sidnei José da Silva, 44 anos, pastor da Primeira Igreja Batista de Piedade, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), aponta que a fé está ligada à cura de doenças físicas desde os primórdios da existência humana. “Compartilho da ideia de que a separação entre ciência e fé se trata de uma coisa moderna, aliás, ainda como reflexo do Iluminismo e Cientificismo”, informa o líder, referindo-se aos movimentos filosóficos que dominaram a Europa nos séculos 17 e 18, os quais buscavam enaltecer a razão em detrimento da espiritualidade. De acordo com ele, qualquer análise séria da história levará em consideração que fé e ciência sempre viveram harmonicamente e operaram em cooperação mútua ao longo das eras. “O próprio formato de estudo da Medicina moderna nasceu dentro das instituições religiosas, mas, infelizmente, em algum momento, divorciou-se dela.”
Para o teólogo Lourenço Stelio Rega, 68 anos, doutor em Ciências da Religião, o estudo de Harvard busca compreender a vida humana e seu significado.
“Um dos pontos a se destacar é que o ser humano é mais do que reações bioelétricas. Não se consegue explicar, por exemplo, a identidade da pessoa por esse meio”, diz ele, fazendo menção à bioeletricidade, a parte da ciência que trata de fenômenos elétricos em sistemas biológicos.
Rega lembra que a ciência desenvolveu o estudo da genética, o qual busca mostrar que cada pessoa é única. Por outro lado, jamais conseguiu localizar no cérebro o lugar onde reside a capacidade humana de se considerar único, ou seja, a autoconsciência, a memória pessoal. “Há coisas do sistema neuronal para as quais não existem explicações”, aponta o teólogo, membro da Igreja Batista Betel, em Santana, zona norte de São Paulo (SP).
Seguindo essa mesma linha de pensamento, o Pr. Maurício do Amaral Bossois, 42 anos, líder da Igreja Batista de Tauá, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), assinala que a ciência ainda não foi capaz de explicar, com precisão, os aspectos biológicos que podem ser influenciados por questões espirituais, como acontece em situações de cura sobrenatural. “O fato de a Medicina buscar respostas é louvável, mas sempre digo que experiências espirituais não são para serem explicadas, e sim vividas.”
O pastor frisa que existem, atualmente, várias evidências de que a fé e até a oração podem influenciar positivamente o ser humano, sob diversos aspectos. “Por meio da fé em Cristo, a cura acontece. Creio que, ao orar, o sistema imunológico da pessoa reage, e, dessa forma, o organismo trabalha muito melhor a favor dos possíveis tratamentos que estejam sendo realizados”, opina. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Estreita relação]
Certeza e convicção – O Pr. José Campos, 59 anos, concorda que a fé pode ser primordial para a cura de doenças físicas, mentais e espirituais. “Acho importante e tenho conhecimento de resultados de várias pesquisas no Brasil e no exterior, que têm demonstrado que o cérebro, com seus bilhões de neurônios e milhões de conexões sinápticas, é bastante beneficiado pela espiritualidade saudável”, explica Campos, membro da Igreja Metodista da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), e fundador da Embaixada da Família, organização cristã de defesa da vida e do lar, sediada na capital mineira.
Especialista em Terapia Comportamental Integrativa de Casal (TCIC), Campos reconhece que as pesquisas estão avançando a cada dia, trazendo novas descobertas sobre o funcionamento cerebral.Entretanto, lembra ser “notório que o Evangelho de Jesus Cristo e sua prática acarretam impactos positivos ao ser humano, de forma integral e significativa, há muito tempo”. De acordo com ele, o exercício da fé cristã genuína, amparada nos princípios e valores ensinados por Jesus, continua “transformando uma sociedade egoísta e desumana em um mundo de valorização do ser humano, de relacionamentos saudáveis e justiça social, pautados pelo
amor incondicional”.
O pastor José Campos destaca que a fé é uma ferramenta poderosa – não se tratando de um produto da imaginação humana, como uma fantasia ou um pensamento positivo – a qual precisa, necessariamente, estar alicerçada em um padrão conceitual de certeza e convicção. “Vejamos a definição do escritor do livro de Hebreus: Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos (Hb 11.1 – NVI).”
Debates à parte, sejam eles travados no campo da Teologia sejam na área científica, o fato é que ainda é cedo para afirmar que a fé esteja realmente localizada em uma área específica do cérebro. Uma coisa, porém, todo cristão genuíno sabe há tempos: a fé em Cristo é real e vai muito além de simples sinapses neurais.
Estreita relação
Especialistas de diversas áreas científicas sabem há décadas que a fé tem uma grande influência sobre o corpo e a mente, sendo capaz de alterar o funcionamento global do organismo. Entre as várias descobertas que têm surgido nos últimos anos, aqui estão algumas que contam com fartas evidências:
:: Segundo o Dr. Harold G. Koenig, pesquisador da Universidade de Duke e autor de vários artigos sobre fé e cura, a oração pode impedir que as pessoas adoeçam. Ainda de acordo com ele, mesmo quando adoecem, o clamor pode acelerar o processo de cura.
:: A oração reduz a percepção da dor no sistema nervoso.
:: Indivíduos com vivência espiritual têm uma maior capacidade de lidar com o estresse emocional e apresentam melhor saúde mental.
:: A prática da oração favorece a plasticidade neuronal, aumentando a capacidade de regeneração de neurônios e a religação de circuitos e sinapses, mesmo em casos de lesões cerebrais, como acontece nas doenças degenerativas (como o Alzheimer).
:: Orar também melhora a concentração e a atenção.
:: Quando as pessoas oram, pedindo a Deus que as direcione em suas decisões, elas experimentam a sensação de que a situação que estão vivendo está sob controle. Isso as ajuda a lidar melhor com a ansiedade e a depressão.
:: A saúde física também é impactada pela fé, já que o cuidado com o corpo é enfatizado em muitas religiões, especialmente, nas de matriz judaico-cristã. Dessa forma, os adeptos costumam se cuidar mais, por exemplo, abstendo-se do consumo de álcool, de tabaco e da prática de diversas atividades que os prejudicam.
:: O envolvimento com uma comunidade religiosa está associado a uma maior integração social, fator que reduz as chances de adoecimento. Mesmo doente, a pessoa encontra nessa rede uma fonte de apoio muito útil no processo de recuperação.
(Fontes: Forbes, Guiame, Correio Braziliense e Jesus Copy)