Oposição a Deus

O pecado da mentira acompanha a História, acarretando terríveis consequências aos seus praticantes

Por Patrícia Scott

A mentira é condenada pelas Sagradas Escrituras, tendo levado à queda da humanidade e ao seu afastamento do Criador. O capítulo 3 de Gênesis deixa isso claro: E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (Gn 3.2-5).

Seduzidos pelo engano de Satanás, Adão e Eva desobedeceram ao Senhor. A partir desse ato, o pecado e a mentira entraram no mundo com efeitos desastrosos, como mostra o Rev. Hernandes Dias Lopes, da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, em artigo intitulado O poder devastador da mentira. No texto, ele afirma categoricamente: Os mentirosos não entram para o rol daqueles que são coroados de respeito e dignidade. Os mentirosos são abomináveis na Terra e não herdam os céus. Os mentirosos bebem o refluxo perverso do seu próprio fluxo maligno. Colhem os frutos malditos de sua própria semeadura insensata. Bebem o veneno que destilam de sua língua peçonhenta. Os mentirosos tropeçam em sua própria língua e cavam a sua própria sepultura.

Apesar de tantas consequências negativas, a espécie humana segue enredada pelo engano. “Se não fosse tão eficaz, a mentira deixaria de ser uma das grandes armas do inimigo para desestabilizar as pessoas. Todo ser humano é minimamente mentiroso”, assegura a psicóloga Karine Rizzardi, lembrando que, mesmo grave, a mentira é tratada como um mero descuido social. Ela ressalta que, desde a infância, esse hábito jamais deve ser incentivado ou aceito, pois poderá se tornar um desvio de caráter. “Isso acontece quando os pais não corrigem os filhos nem punem o comportamento mentiroso”, explica Rizzardi.

A especialista salienta que, para ensinar corretamente, os adultos devem servir de modelo, sendo dignos de admiração pela coerência. “A criança desenvolve um filtro em meio ao convívio social. Muitas vezes, ela será corrigida pelos pais por falar a verdade.” Com isso, os pequenos aprendem a usar uma máscara de conveniência que falseia a realidade.

“Vida autêntica” – A mentira também pode ser uma falha de caráter ou uma forma de autoproteção, esclarece o psicólogo Marcelo Coelho. De acordo com ele, essa atitude funciona como um mecanismo de defesa para que o indivíduo fuja do sofrimento. “Há casos de pessoas vivendo neuroses e angústias que não conseguem solucionar. À medida que aprofundamos o conhecimento, encontramos a mentira como proteção para obter aprovação social. O tratamento é possível com o enfrentamento do problema, para que o indivíduo leve uma vida autêntica.”

Por sua vez, o psicoterapeuta clínico e teólogo Paulo Maurício Peixoto aponta que há ainda a mitomania, o mentir patológico. “Essas pessoas vivem na mentira, acreditando que é verdade”, afirma ele. Nesse caso, trata-se do sujeito que mente em todos os contextos. “O impacto é sério, inclusive em termos espirituais.”

Peixoto lamenta que a mentira tenha se tornado um comportamento normalizado até mesmo nas igrejas. Citando Levítico 19.11: Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo, ele argumenta que, para haver libertação, é preciso íntima comunhão com o Criador, o que requer empenho diário. “Essa relação está disponível para todos. A partir dela, é possível experimentar o quanto a fé transforma as pessoas. Como disse Jesus: A verdade vos libertará [João 8.32b].”

Em Apocalipse 22.15, o pastor e teólogo César Moisés Carvalho ressalta o castigo eterno, a consequência determinada pelo Altíssimo aos mentirosos: Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira, frisando que calúnias e difamações, por exemplo, são capazes de destruir a reputação alheia.

Jesus é a Verdade – A única forma de se livrar da mentira e da condenação eterna é crer no Evangelho. É o que ministra a Pra. Vanelize Vargas, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Ijuí (RS). A líder salienta que, quando a pessoa aceita Cristo como Senhor e Salvador, Ele passa a habitar dentro dela, libertando-a. “Assim, não haverá espaço para atitudes mentirosas.”

Por outro lado, se alguém mente, está afastado da presença divina, pois Jesus é a Verdade. “Torna-se também filho do diabo”, observa ela, mencionando João 8.44: Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.

Vargas pontua que, nas Escrituras, há vários exemplos de mentirosos que colheram os resultados de suas ações. “Dois deles são Safira e Ananias. Eles venderam uma propriedade, levando somente uma parte do dinheiro para os apóstolos, e foram confrontados por Pedro. A mentira custou a vida de ambos, conforme Atos 5.1-10”, cita a pastora. [No final desta reportagem, leia o quadro Natureza caída]

O Pr. Carlos Brito, líder regional da IIGD em Taguatinga (DF), afirma que a mentira é utilizada ainda para esconder outros pecados e defender a própria reputação. “Ao ensinar o Evangelho e pregar a Palavra, a Igreja ajuda aquele que deseja abandonar tal prática”, orienta Brito, advertindo que o verdadeiro seguidor de Cristo rejeita a mentira, pois esta é odiada pelo Todo-Poderoso, como lembra o rei Salomão em Provérbios 12.22: Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem fielmente são o seu deleite. “Cuide-se para que o seu coração não se torne enganoso nem os seus lábios estejam prontos para mentir. Lembre-se: mesmo que a mentira pareça razoável ou boa para resolver uma situação, o seu fim será amargo.”

Se a pesquisa fosse realizada no Brasil, a administradora Charlenny Gomes da Silva, 38 anos, estaria no grupo dos pais que estão muito preocupados com a vida espiritual dos filhos. Mãe de três adolescentes com idades entre 12 e 17 anos, ela revela que ora por eles todos os dias e jejua frequentemente pelo mesmo propósito. “Também converso, realizo o culto doméstico e mantenho a rotina de ir à Igreja, para que percebam a importância de servir ao Senhor”, destaca a administradora, casada com o servidor público Reginaldo Ruhbi Braga Gonçalves, 39 anos.

Membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Paraviana, na cidade de Boa Vista (RR), e voluntária do ministério infantil, Charlenny se dedica a aprender sobre educação de filhos. Para tanto, lê a respeito do tema e procura orientação pastoral quando necessário. “Busco ser uma mãe amiga e protetora. Eles passam por fases diferentes, então tenho de ter sabedoria e prudência”, explica Charlenny.

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