Heróis da Fé | Paul W. Brand
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Pesquisa revela que jovens cristãos mais comprometidos com a fé têm melhor desempenho escolar
Por Ana Cleide Pacheco
Existe relação entre religião e desempenho acadêmico? A fé pode ter alguma influência sobre as notas de uma criança ou adolescente na escola? Movida por esses e outros questionamentos, a socióloga Ilana Horwitz, da Universidade de Tulane, no estado norte-americano da Luisiana, deu início à pesquisa que resultou no livro: God, grades and graduation: religion’s surprising impact on academic success (Deus, notas e formatura: o surpreendente impacto da religião no sucesso acadêmico, em tradução livre), lançado nos Estados Unidos (EUA).
Horwitz concentrou sua investigação no comportamento dos adolescentes cristãos – de diferentes vertentes e denominações –, por se tratar do grupo religioso prevalente naquele país. A socióloga concluiu que os adolescentes comprometidos intensamente com suas crenças tendem a apresentar melhor desempenho escolar do que seus pares menos fervorosos. Eles também se mostram mais propensos a ingressar em um curso de nível superior. No estudo, a especialista considerou como intensamente religiosos aqueles jovens que veem a religião como muito importante, frequentam as celebrações, pelo menos, uma vez por semana, oram, pelo menos, uma vez por dia e acreditam em Deus com convicção, buscando fazer o bem e crendo que Ele está cuidando deles.
De 2003 a 2012, o estudo acompanhou 3.290 adolescentes, cruzando dados de dois outros amplos levantamentos feitos com estudantes norte-americanos. Dessa forma, foi possível observar as notas deles no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, informes sobre as faculdades que frequentaram e quantos concluíram o Ensino Superior. Entre os adolescentes mais pobres, por exemplo, 21% dos cristãos levam para casa boletins preenchidos com notas A. Entre os menos religiosos do mesmo estrato social, apenas 9% têm um desempenho semelhante. Segundo Horwitz, os adolescentes que praticam a fé intensamente têm duas vezes mais chances de serem admitidos com bolsas de estudos nas universidades norte-americanas.
Pensamento filosófico – Se, por um lado, é verdade que a sondagem não demonstra evidência de que os alunos cristãos tenham inteligência superior aos demais, por outro, ressalta que eles são mais propensos a se submeterem a regras, estando mais aptos a se adaptarem ao modelo educacional vigente nas escolas.
Na opinião da Profª Ester Verônica Fiuza Machado de Faria, 42 anos, se a pesquisa fosse levada a efeito no Brasil, o resultado não seria diferente. Especialista em Educação Especial e Gestão Educacional, ela observa a importância da fé no desempenho acadêmico dos pequenos há tempos. “Como mãe e educadora, acredito que crianças, adolescentes e jovens cristãos conseguem melhores notas e obtêm excelentes resultados nas universidades. A fé em Cristo nos dá suporte e nos faz acreditar que é possível”, opina a profissional da rede pública de ensino. Membro da Igreja Batista da Lagoinha em Piratininga, Niterói (RJ), ela testemunha: “Percebo o quanto muitos deles, em especial os cristãos, buscam uma vida melhor.”
Aos olhos de Ester, para os jovens que amam a Deus, o fato, por exemplo, de serem menos favorecidos financeiramente não os limita. “Vários pais impulsionam os filhos a crescer, a estudar. Seja por esse incentivo familiar, seja pela fé em Deus, eles conseguem chegar às universidades. Minha casa é um exemplo disso”, destaca a docente, casada com o matemático Rogério Coutinho de Faria, 50 anos, e mãe de três filhos (com idades de 26, 20 e 15 anos). “Todos estudaram em escolas públicas, levaram a sério os estudos e seguem no caminho do Senhor, sendo abençoados por Ele”, alegra-se.
Um fator apontado também para o desempenho de destaque dos alunos cristãos é o desenvolvimento de habilidades ligadas a práticas e disciplinas espirituais, que se mostram benéficas no contexto da aprendizagem, como a leitura bíblica, a meditação e a oração. Assim, eles estão mais familiarizados com temas, como Deus, sofrimento, moral, bondade e tantos outros que os ajudam na construção do pensamento crítico e filosófico.
Segundo a servidora pública Thaís da Silva Alcântara Duwe, 36 anos, outro aspecto importante influencia esse cenário: as crianças e os adolescentes comprometidos com o Senhor têm a certeza de que não estão sozinhos. Isso dá a eles a convicção de estarem no caminho certo. “A Palavra transforma a existência daqueles que a vivenciam como um todo.”
Na opinião de Thaís Duwe, o adolescente que escuta e pratica os ensinamentos bíblicos sabe que o Altíssimo deseja o melhor para a sua trajetória e irá conduzi-lo. A servidora pública aponta ainda que ele está consciente de que receberá bênçãos, a depender de sua fé, de seu agir e de sua conduta. “Além disso, o adolescente compreende que colherá o que semear. Dessa forma, quando bem orientado, plantará, e a colheita será boa. Confiar em Deus nos encoraja, acolhe-nos e, acima de tudo, enche-nos de fé e esperança”, destaca Thaís, membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), onde atua no ministério infantil há seis anos.
A professora e pedagoga Damaris Souza Roque Barros, 44 anos, compartilha do mesmo pensamento de Thaís. “Sou voluntária do ministério infantil e trabalho com o público há alguns anos. Por isso, sei a importância da Palavra do Senhor quando é semeada no coração das crianças. Com fé e o intuito de fazer o certo, o que pode impedir o jovem de ter um futuro promissor?”, questiona Barros, membro da Comunidade Bíblica Internacional em Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense.
Respeito ao próximo – A pesquisa realizada nos EUA pela socióloga Ilana Horwitz, citada no início desta reportagem, também aponta que as crianças cristãs são estimuladas a respeitar os mais velhos e reconhecer figuras de autoridade, e isso facilita a interação com os professores. Para a pedagoga e empresária Patrícia Santos de Oliveira, 46 anos, esse é um aspecto importante. “As crianças e os adolescentes aprendem que toda autoridade é constituída por Deus e que honrar pai e mãe garante longevidade [Êx 20.12]. Sendo assim, eles expressam, em suas atitudes, os valores adquiridos com seus pais e pastores.”
De acordo com a pedagoga, obedecer e ser responsável e respeitoso são características que acompanham os jovens cristãos. “Agindo assim, vão na contramão de atitudes adotadas por aqueles que não levam a sério o respeito ao próximo”, sublinha a especialista, acrescentando que, por professarem uma fé genuína, eles estão cientes de que suas atitudes agradam a Deus e fazem a diferença no meio em que estão inseridas. “Eles causam um impacto positivo na vida de todos à sua volta, mesmo na dos não crentes”, assinala Patrícia, obreira e líder do ministério infantil da IIGD em Cosmos, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).
O estudo de Horwitz revela outro aspecto que põe os estudantes cristãos em uma situação de proeminência acadêmica: o temor a Deus. Isso faz com que estejam menos propensos a se engajarem em comportamentos destrutivos, como o consumo de álcool e outras drogas, e menos suscetíveis a andar com más companhias, além de serem mais responsáveis com os deveres de casa e mais participativos em sala de aula. “A base bíblica que os leva a crer no cuidado do Pai celeste e o papel que desempenham na comunidade cristã contribuem para que sejam mais colaborativos em qualquer ambiente”, opina a Profª Débora Meirelles, 56 anos, membro da Igreja Evangélica Pentecostal em Obra de Libertação, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).
Débora acredita que as famílias cristãs têm um papel essencial no sucesso dos filhos, pois os pais, além de serem exemplos, têm a missão de lhes apresentar os mandamentos do Senhor. “As comunidades cristãs também podem e devem colaborar no processo educacional, incentivando crianças, adolescentes e jovens a se dedicarem à aquisição dos conhecimentos curriculares.” Dessa forma, segundo a educadora, a família e a igreja devem impulsionar o estudante a ter uma trajetória escolar de excelência e uma vida ótima, dentro e fora das instituições de ensino, “servindo a Deus com diligência, respeito e amor ao próximo”, conclui a professora.