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Foto: Arte com fotos de oleddudko/123RF (plano de fundo) e Afif Kusuma / Unsplash

Boa convivência

Falta de civilidade na internet preocupa pastores e especialistas

Por Evandro Teixeira

A internet mudou a vida das pessoas, abrindo novas possibilidades de lazer, compras, troca de informações e, principalmente, interação social. No entanto, as novas formas de comunicação também resultaram em uma série de percalços. Ao mesmo tempo em que proporciona interações sadias e proveitosas entre pessoas de diversas partes do globo, a web oferece espaço a novos tipos de golpes, ao bullying, às agressões e a muita falta de respeito..

Em um esforço para promover interações virtuais mais seguras, saudáveis e respeitosas, a Microsoft, uma das maiores empresas de tecnologia do planeta, criou o Índice de Civilidade Digital (ICD). Ele é medido, desde 2016, a partir de uma pesquisa realizada anualmente com usuários da internet em várias partes do planeta. A última edição, publicada em fevereiro de 2022, teve 11 mil participantes, com idades de 13 a 74, de 22 países (incluindo o Brasil).

Eles responderam a questões referentes à exposição aos riscos presentes na grande rede divididas em quatro categorias: reputação (atitudes que causam danos pessoais ou profissionais); comportamental (ações que envolvem discurso de ódio e agressões); sexual (mensagens sexuais e de pornografia não solicitadas) e pessoal/intrusivo (contato indesejado, golpes ou fraudes).

As respostas geraram pontuações que vão de cem a zero, sendo que quanto menor o índice maior é o nível de segurança e de civilidade entre os usuários. Neste ano, o ICD mundial ficou em 65%, o melhor já registrado desde o início desse tipo de levantamento há seis anos. O Brasil obteve uma pontuação bem acima da média global: 71% do ICD, indicando que existe uma alta exposição a riscos e baixa civilidade nas experiências virtuais dos usuários brasileiros. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Mudar é preciso]

A cientista social Tânia Foster alerta: “A sensação de impunidade no uso da internet parece gerar certo empoderamento em algumas pessoas. E o ódio que elas propagam no mundo virtual acaba sendo levado para o real” – Foto: Arquivo pessoal

“Sensação de impunidade” – A cientista social Tânia Foster sublinha que os perigos do mundo digital são grandes porque vários infratores se sentem protegidos pelo anonimato. Segundo o mesmo levantamento da Microsoft, 80% dos brasileiros entrevistados são contra a falta de identificação dos internautas. Para eles, os anônimos não deveriam ter permissão para fazer postagens na web. “A sensação de impunidade no uso da internet parece gerar certo empoderamento em algumas pessoas. E o ódio que elas propagam no mundo virtual acaba sendo levado para o real”, alerta a especialista.

Ademais, Foster pontua que o comportamento inadequado não pode ser normalizado nem no mundo físico nem no digital. Em sua opinião, a descortesia no convívio social e virtual precisa ser questionada e avaliada por todos os indivíduos, indiscriminadamente. “Devemos começar pela análise pessoal de cada um de nós, pois podemos construir uma sociedade cada vez mais rude caso não ocorra uma mudança”, adverte.

A pesquisadora lembra que o aprendizado das normas de boa convivência tem início na família, já que esse é o primeiro grupo social com o qual o sujeito tem contato. “A partir do convívio no lar, os entes passam a ter noções básicas de respeito, educação e civilidade”, pontua Tânia Foster, assinalando, porém, que, por mais amor e ensinamento que os pais deem aos filhos, as influências externas também terão grande peso na formação humana. “A partir do momento em que convive com outras pessoas, o indivíduo passa a sofrer influências que podem se sobrepor ao que foi ensinado em casa”, analisa. Ela destaca que a responsabilidade de agir “dentro das regras de civilidade” é individual.

O psicólogo Leonardo Luís Távora da Silva observa: “Princípios, como compaixão, empatia e bondade, faltam tanto no mundo virtual quanto no real. Trata-se de uma triste realidade”l – Foto: Arquivo pessoal

O psicólogo Leonardo Luís Távora da Silva destaca que a falta de polidez no convívio social se deve também a outros fatores, entre eles, a insensibilidade em relação aos que estão em volta. “Princípios, como compaixão, empatia e bondade, faltam tanto no mundo virtual quanto no real. Trata-se de uma triste realidade”, observa.

A psicopedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira afirma: “Desejar um dia abençoado e de paz ao outro tem o poder de produzir bons frutos”– Foto: Divulgação / Celso Gaspar

Não sem motivo, a psicopedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira acredita que a civilidade da sociedade necessita ser resgatada. “Desejar um dia abençoado e de paz ao outro tem o poder de produzir bons frutos”, afirma a profissional, destacando que as pessoas precisam entender o quanto a gratidão é essencial e é uma virtude. “Por outro lado, a ingratidão acarreta dor à alma. Muitos não agradecem ao Senhor tampouco reconhecem Seu poder por terem o coração obscurecido, conforme Romanos 1.21: Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.”

Além disso, Evanize de Oliveira defende que as amizades saudáveis sejam cultivadas e que as famílias e outros entes [escolas, por exemplo] ofereçam ferramentas que inibam a falta de civilidade e a violência na web à sociedade. Para ela, a Igreja também pode ajudar nesse enfrentamento, com palestras e aconselhamento e outras iniciativas. “Com a união de todos, será mais fácil fazer o respeito e a dignidade voltarem.”

O Pr. Anderson Barreto de Souza afirma que os cristãos podem fazer a diferença nesse ambiente hostil, propagando a Palavra e reforçando os valores pregados por Jesus – Foto: Arquivo pessoal

Respeito e empatia – O Pr. Anderson Barreto de Souza, da Igreja Sinais e Prodígios de Vila São Jorge, em Nova Iguaçu (RJ), concorda que a comunidade evangélica tem muito a contribuir nessa discussão. Para o líder, os cristãos podem fazer a diferença nesse ambiente hostil, propagando a Palavra e reforçando os valores pregados por Jesus. Afinal, frisa ele, os evangelhos têm bastante a ensinar sobre respeito e empatia. Anderson de Souza cita, por exemplo, os textos de Lucas 6.31 (E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também) e de Hebreus 12.14,15 (Segui a paz com todos e […] que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem). “Esses ensinamentos são necessários e devem sempre ocorrer nas igrejas.”

O Pr. Eduardo Santos orienta: “A exemplo de Cristo, até mesmo em situações difíceis, temos de agir conforme Seus ensinamentos e usar as palavras certas a fim de não ferir ninguém” – Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Eduardo Santos, líder distrital da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Distrito Federal, também defende que a comunidade cristã deve atuar como um espaço de transformação. Porém, ele lembra ser essencial que isso aconteça a partir do exemplo e do bom testemunho de cada cristão. Para o ministro, o servo de Deus, verdadeiramente transformado pela Palavra, deve buscar a geração de um ambiente de amor. “A exemplo de Cristo, até mesmo em situações difíceis, temos de agir conforme Seus ensinamentos e usar as palavras certas a fim de não ferir ninguém”, orienta, citando Colossenses 4.6: A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.

O Pr. Gabriel Aquino da Cruz observa: “O exercício da cidadania dos Céus deve ser desenvolvido dentro e fora da comunidade cristã”– Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Gabriel Aquino da Cruz, da Igreja Presbiteriana do Jardim Itapoan, em Santo André (SP), concorda com Eduardo Santos. Ele enfatiza que a Igreja, como formadora do caráter cristão, deve estimular o ensino e a prática da Palavra, a fim de nortear atitudes baseadas nos ensinamentos bíblicos. “O exercício da cidadania dos Céus deve ser desenvolvido dentro e fora da comunidade cristã”, observa, lembrando as palavras de Jesus: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.39). “Essas palavras devem ser encarnadas em nosso coração e em nossa vida”, sublinha. O líder deixa claro que, ao praticar os ensinos do Mestre, o cristão contribuirá para levar real transformação a todos os ambientes em que estiver inserido, reais ou virtuais.

Mudar é preciso

Foto: Pexels / Mikhail Nilov

A campanha Desafio de Civilidade Digital tem, segundo a empresa norte-americana Microsoft, o objetivo de fomentar um ambiente virtual mais seguro e respeitoso. De acordo com a companhia estadunidense, procura também estimular mudanças de comportamento entre os usuários da web, a partir de orientações baseadas em compaixão, empatia e bondade.

O desafio é constituído de quatro pontos que devem ser observados pelos usuários em suas interações on-line:

:: Viva a Regra de Ouro agindo com empatia, compaixão e bondade em cada interação, e tratando todos com quem você se conecta on-line com dignidade e respeito.

:: Respeite as diferenças, honre diversas perspectivas e, quando as discordâncias surgirem, engaje-se de forma pensada, evitando xingamentos e ataques pessoais.

:: Faça uma pausa antes de responder às coisas com as quais discorda, e não poste ou envie qualquer coisa que possa prejudicar outra pessoa, uma reputação ou ameaçar a segurança de alguém.

:: Defenda a si mesmo e aos outros apoiando aqueles que são alvos de abuso ou crueldade on-line, relatando atividades ameaçadoras e preservando evidências de comportamento inadequado ou inseguro.

(Fonte: Microsoft)


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