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01/05/2022Na trilha do Mestre
Em Seu ministério terreno, Jesus visitou lugares que se tornaram marcos geográficos do encontro entre Deus e os homens
Por Marcelo Santos
As terras por onde Jesus passou realizando milagres atraem, todos os anos, milhares de turistas, principalmente cristãos. Naquelas localidades, segundo o relato dos evangelhos, aconteceram coisas extraordinárias: cegos viram, pessoas com deficiência voltaram a andar, endemoninhados foram libertos, mortos retornaram à vida. Algumas eram cidades importantes, outras, pequenos povoados distantes dos grandes centros. A maior parte desses locais está situada no moderno Estado de Israel. Contudo, alguns perderam-se no tempo, e, portanto, existem dúvidas sobre sua exata localização.
Outras áreas são bem conhecidas e muito procuradas pelos turistas que visitam a Terra Santa. Uma dessas cidades é Belém, onde o Salvador veio ao mundo. Seu nome significa Casa do Pão e fica a poucos quilômetros ao sul de Jerusalém. Hoje, é um pequeno município com cerca de 30 mil habitantes, situado na região palestina conhecida como Cisjordânia.
Belém entrou para a história por causa do decreto de César Augusto, exigindo a realização de um censo em todo o Império Romano (Lc 2.1). Os homens tinham de dirigir-se às suas cidades de origem para participar do levantamento. Por isso, José, que era belemita, da linhagem de Davi, foi obrigado a se deslocar até lá, levando consigo Maria. A jovem, por sua vez, já estava em um período avançado da gestação do Messias (Lc 2.5,6).
Devido ao recenseamento, era grande o número de visitantes na cidade, logo não havia vagas disponíveis nas estalagens de Belém. O casal foi obrigado a instalar-se em uma estrebaria, e, assim, uma humilde manjedoura serviu de berço ao Rei dos reis (Lc 2.7). Dessa forma, cumpriu-se a profecia de Miqueias: E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq 5.2).
Caso não houvesse aquele recenseamento, Jesus poderia ter nascido em Nazaré, um vilarejo situado cerca de 150km ao norte de Jerusalém, na antiga região da Galileia. Era ali que Maria e José viviam quando solteiros, e onde o anjo Gabriel apareceu à moça, ainda noiva, anunciando-lhe que o Filho de Deus viria ao mundo (Lc 1.26-38). A cidade, que hoje tem 70 mil habitantes, fica em uma colina 350m acima do nível do mar, rodeada de vales e montes férteis e vizinha de várias cidades prósperas espalhadas pela região.
Jesus não nasceu em Nazaré, mas cresceu lá: Sua família se instalou novamente na cidade após voltar do Egito – para onde se dirigira, devido à perseguição de Herodes (Mt 2.1-23). Ali, Ele viveu até iniciar Seu ministério, em companhia de Seus pais e irmãos mais novos (Mc 6.3). Contudo, a pregação do Mestre não recebeu muita consideração de Seus conterrâneos. “Os nazarenos O rejeitaram porque O viam como mais uma daquelas crianças que haviam crescido correndo nas ruas da cidade. Era o filho de José, o carpinteiro, e não o Filho de Deus”, explica o Pr. Eber Ventura dos Santos, 43 anos, professor de Antigo Testamento, Geografia Bíblica e História e Cultura Judaica no Instituto de Ensino Teológico de Petrópolis (RJ).
A Bíblia apresenta poucos detalhes acerca da infância e da juventude de Jesus. Um dos poucos relatos está registrado em Lucas 2.41-52 e se refere a um episódio passado em Jerusalém, na época, a capital de Israel. A família fora à cidade para a festa da Páscoa. O Messias, então com 12 anos, em conversa com alguns rabinos, deixou-os impressionados com Seu conhecimento. “Após esse acontecimento, os evangelhos silenciam sobre Sua vida por 18 anos, até seu batismo e o início do ministério. Entre as passagens de Jesus por Jerusalém, há o relato sobre a Sua entrada triunfal, na derradeira semana do Mestre aqui na Terra”, comenta Ventura dos Santos, que é pastor da Assembleia de Deus em Petrópolis (RJ) e mantém o blog Geografia Bíblica.
Importância logística – O ministério de Cristo, contudo, não teve início entre os doutores da elite religiosa de Jerusalém. Foi em Caná da Galileia, no meio de gente simples, que Ele realizou Seu primeiro milagre (Jo 2.1-11). “Caná era uma pequena vila sem muita expressão. Em uma festa de casamento nessa cidade, o Mestre operou o milagre da transformação da água em vinho”, explica o Prof. Eber Ventura dos Santos.
Localizada na região de Zebulom e Naftali, Cafarnaum é outra cidade importante no ministério do Redentor. Lá, Ele curou o paralítico (Mc 2.1-5), o servo do centurião (Lc 7.2-10) e a sogra de Pedro (Lc 4.38-42), além de ter libertado um homem possesso (Lc 4.33-36). Escolhida como a base do ministério de Jesus em Seu ministério terreno, Cafarnaum foi também a Sua residência por cerca de três anos. Ficava no entroncamento de duas relevantes rotas comerciais que ligavam o mar Mediterrâneo a Damasco e Transjordânia.
Assim, os viajantes que ali passavam ouviam as palavras de Jesus, convertiam-se e espalhavam a semente do Evangelho em sua cidade de origem. “Jesus nasceu em Belém, foi criado em Nazaré, morou em Cafarnaum e morreu em Jerusalém. Como se percebe, Cafarnaum é um lugar escolhido por Ele para viver e, a partir dali, realizar Seu trabalho”, explica o Pr. Acyr de Gerone Junior, 41 anos, da Igreja Missionária Evangélica Maranata no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), e secretário regional da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
Pesquisador e doutor em Teologia, Gerone observa que, por ficar na região Norte de Israel, próximo ao mar da Galileia, Cafarnaum tinha grande destaque logístico. “Era fácil se locomover para outras regiões a partir dali, tanto por terra quanto pelo mar”, explica. O pastor destaca, entretanto, que aquela cidade, onde Jesus realizara tantos milagres, não creu no Evangelho. E, como consequência, o Senhor profetiza: E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Porém eu vos digo que haverá menos rigor para os de Sodoma, no Dia do Juízo, do que para ti (Mt 11.23-24).
Cruzando fronteiras – Por outro lado, pessoas de lugares mais improváveis se mostraram receptivas ao ministério do Senhor. Foi o que aconteceu com uma mulher de Samaria, situada na Palestina, entre a Judeia (ao sul) e a Galileia (ao norte). Os judeus evitavam a todo custo ter qualquer contato com os habitantes de lá. “Os judeus e samaritanos não se falavam devido a um capítulo na história do reino de Israel, quando os assírios promoveram a migração de vários povos para aquela região. Houve uma miscigenação das raças, e, com isso, o culto ao Senhor foi comprometido, havendo uma mistura com os deuses dessas nações”, explica Eber Ventura dos Santos.
Entretanto, segundo o capítulo 4 do evangelho de João, Jesus contrariou a prática dos viajantes judeus, que era evitar Samaria. Eles atravessavam o rio Jordão e seguiam viagem pelo outro lado. O Nazareno, no entanto, preferiu cruzar a província. No trajeto, travou interessante diálogo com a mulher e lhe apresentou o Evangelho (Jo 4.5-29). “Por causa desse contexto histórico, os discípulos reagiram com estranheza ao fato de Jesus conversar com aquela mulher samaritana”, ressalta o professor.
O Senhor também ultrapassou as fronteiras de Israel. Além de ter sido levado pelos pais ao Egito, na infância, um dos lugares mais importantes em que esteve, fora do território judeu, foi a região fenícia de Tiro e Sidom. Ali, Ele libertou a filha de uma mulher cananeia (Mt 15.21-28). Ele também esteve em Decápolis, a região das dez cidades, onde libertou um endemoninhado gadareno (Mc 5.1-20).
Apesar de os evangelhos registrarem muitos outros locais por onde o Salvador andou, nem todas as localidades e aldeias onde esteve foram citadas nas Escrituras. “É impossível descrever todas as cidades pelas quais Jesus passou. A Bíblia diz que Ele andou por várias cidades e aldeias. Portanto, ainda que tenhamos o nome de várias, há muitas desconhecidas”, relata o Pr. Acyr de Gerone Junior, lembrando que o Mestre realizou um ministério bastante dinâmico. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Outras cidades]
Cálculo renal – Passados dois milênios, visitar os lugares que são referidos tantas vezes nos evangelhos continua a ser o desejo de muitos cristãos ao redor do mundo. No final do ano de 2017, o Missionário R. R. Soares esteve em Israel por ocasião do seu aniversário de 70 anos. Com ele, seguiu uma grande caravana formada por pastores e membros da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) para visitar a Terra Santa.
Contudo, além de conhecer os lugares mencionados nas Escrituras Sagradas, os participantes se uniram ao Missionário no dia de seu aniversário (6 de dezembro) em um grande culto de adoração no Jardim do Túmulo, em Jerusalém. Não faltaram testemunhos de milagres, como o narrado pelo Pr. Eduardo Galhardo, líder regional da IIGD em Santos (SP). Poucos dias antes de embarcar para Israel, ele havia descoberto que tinha um cálculo renal. “O médico queria me operar, porém seria desconfortável viajar com o cateter. Então, resolvi não passar pela cirurgia. Fiquei na fé de que a pedra sairia”, relatou Galhardo, em depoimento para o quadro Novela da Vida Real, do programa Show da Fé, levado ao ar em fevereiro de 2018.
Em Jerusalém, o pastor chegou a ser hospitalizado por uma noite por estar sentindo muita dor. Entretanto, durante a ministração do Missionário, Eduardo Galhardo pediu ao Senhor que o curasse da enfermidade. “Clamei para a pedra ser expelida do meu organismo, pois não havia ido a Israel à toa, e aí uma paz inundou o meu coração.” Naquela noite, o grupo voltaria para São Paulo com conexões em Tel Aviv e Paris. “Na França, quando fui ao banheiro, a pedra foi expelida. Não tenho dúvidas de que fui curado por Jesus. Jamais esquecerei aquele dia”, lembrou-se Galhardo.
Visitar Israel é, segundo o cantor, ministro do Evangelho e deputado federal David Soares (União-SP), filho mais velho do Missionário R. R. Soares, uma experiência única. Ele acredita que ter conhecido esses locais por onde Jesus caminhou fez sua compreensão histórica daquelas sociedades ser alargada. “Quando você conhece e sabe por que o texto bíblico foi escrito daquele modo, a compreensão da Palavra aumenta de forma absurda, assim como sua experiência com Deus”, comenta Soares, que também é escritor – ele é autor de As 7 Igrejas do Apocalipse e Trajetória de Paulo, ambos publicados pela Graça Editorial. Para David Soares, que já esteve em várias cidades de Israel citadas na Bíblia, peregrinar pelos lugares em que Jesus exerceu Seu ministério é, de fato, impactante. “Foram experiências que vou levar comigo sempre, seja para onde for.”
Outras cidades
Ao longo de seus três anos de ministério, o Messias caminhou por cerca de 5.000km – em média, 32km por dia, levando-se em conta somente as viagens citadas nos quatro evangelhos. Além das cidades e regiões mencionadas nesta reportagem, muitas outras testemunharam os feitos de Cristo. Confira algumas delas:
:: Betânia, na Judeia, era uma vila situada nas imediações de Jerusalém. Jesus tinha bons amigos ali: Lázaro e suas irmãs Maria e Marta. Na cidade, Ele ressuscitou o próprio Lázaro (Jo 11.1-46).
:: Os moradores de Naim, na Galileia, viram Jesus ressuscitar o filho único de uma viúva (Lc 7.11-17).
:: Em Jericó, na Judeia, vivia um homem chamado Bartimeu. Ele voltou a enxergar depois de clamar a Jesus pela cura (Mc 10.51,52).
(Fontes: Bíblia de Estudo Cronológica e Aplicação Pessoal)