Entrevista – 268
01/11/2021Carta do Pastor à ovelha – 270
01/01/2022Harmonia no lar
Fé em Cristo, diálogo e respeito mútuo são ingredientes essenciais para a manutenção de um casamento feliz
Por Evandro Teixeira
N ão é a falta de tensões e problemas que faz um matrimônio dar certo, mas a existência de um relacionamento capaz de superá-los, defende o teólogo e pastor britânico Derek Prince (1915-2003) em sua obra Casados para sempre – Descubra o segredo de um casamento feliz (Graça Editorial). Na literatura, o autor assegura os leitores de que nenhum outro livro tem a chave para um matrimônio sólido senão a Bíblia. Esse princípio parece ser corroborado pelo resultado de uma pesquisa realizada recentemente nos Estados Unidos pela associação Marriage Helper, uma instituição dedicada a ajudar casais a fortalecer as relações familiares.
A organização investigou o grau de satisfação dos casais norte-americanos com o matrimônio. A sondagem mostrou que 59% dos entrevistados se declararam felizes. No entanto, chamou a atenção dos pesquisadores o fato de esse percentual ter chegado a 73% entre os cristãos, indicando que estes tendem a usufruir de maior bem-estar na vida conjugal. Por outro lado, a análise demonstrou que homens e mulheres – cristãos ou não – têm níveis diferentes de felicidade no casamento: entre os maridos, o índice de satisfação conjugal chegou a 65%; entre as esposas, 52%.
Na visão da psicóloga Claudete Niel de Castro, essa disparidade de percepção de felicidade no casamento é reflexo de comportamentos moldados pela cultura. Apesar de as mulheres terem obtido muitas conquistas nas últimas décadas, ainda lhes cabe o papel de cuidar da família, e aos homens, o dever de serem provedores. Porém, paradoxalmente, elas estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho e, assim, passaram a dividir a obrigação de prover. “No entanto, o mesmo não acontece com a questão do cuidado. Essa situação acaba gerando uma sobrecarga sobre elas e um desgaste que pode influir na avaliação sobre felicidade no casamento”, explica a terapeuta.
Claudete Castro lembra que existem visões equivocadas que atrapalham o bom andamento do casamento, como a ilusão de que marido e mulher devem ter a mesma opinião sobre tudo ou de que ceder quando há uma discordância resolve qualquer problema. “Não há mágica. Existem pessoas que reconhecem ou não aquilo em que devem mudar. Sem isso, nada acontece”, pontua a terapeuta, especialista em atendimento a casais.
Para a psicóloga Margarete de Lourdes Bonuccelli Heringer Lisboa, o diálogo é o caminho para um casamento feliz. Por meio das conversas, as expectativas de cada um serão externadas, assim como a forma como deverão colaborar para a construção de uma conjugabilidade harmoniosa. Segundo ela, a felicidade não é um estado permanente, pois as crises podem influenciar positiva ou negativamente a relação conjugal. “Conversar sobre o que cada um pensa ajudará na redução de danos fazendo ambos se conhecerem melhor.” Por outro lado, ela alerta para o fato de que várias pessoas entram no relacionamento com expectativas irrealistas. “Visões equivocadas a respeito da vida a dois, além de atrapalharem o casamento, podem contribuir para ferir o casal, resultando em distanciamento e desarmonia.”
Influência positiva – O alinhamento de perspectivas e expectativas tanto do homem como da mulher é necessário. É o que pensa o Rev. José Ernesto Spinola Conti, da Igreja Presbiteriana Água Viva em Vitória (ES). “Na vida a dois, um cônjuge deve pensar na felicidade do outro, e não no próprio bem-estar”, recomenda o pastor, destacando que, nesse processo, é preciso ter cuidado para não cometer equívocos, como exagerar no esforço de satisfazer o cônjuge. “Muitas vezes, nosso empenho para tornar o outro feliz pode acabar sufocando-o, fazendo com que nos tornemos um fardo pesado de carregar.”
Segundo Conti, é preciso haver uma comunicação clara entre marido e mulher a fim de que atitudes aparentemente bem-intencionadas não gerem resultados negativos. Em sua opinião, a infelicidade conjugal é causada justamente pela incapacidade de solucionar esse e outros problemas que surgem na vida a dois. Mas, para o líder, os cristãos têm vantagem sobre os demais, já que podem compartilhar com o Altíssimo suas dificuldades, ansiedades, lutas, angústias e demais fatores que poderiam interferir de modo prejudicial no relacionamento. “Ao tomarmos conhecimento de que Jesus pode nos ajudar, encontramos motivos para lançar sobre Ele todas as nossas aflições”, aconselha o pastor, assinalando que a comunhão com Cristo é o principal fator para a satisfação plena das pessoas com o casamento, como mostrou a pesquisa norte-americana.
Um exemplo de casamento equilibrado e feliz é a união de Dorval Florenço Ferreira, 66 anos, e Vilma Ferreira Santos, 61, ambos aposentados. Há cerca de três décadas, Vilma tomou a iniciativa de aceitar Jesus na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Timóteo (MG). A partir daquela decisão, começou a lutar pelo sucesso de seu matrimônio. Oito anos depois, seu marido, que tinha uma vida bastante mundana, passou a seguir Cristo.
Atualmente, contabilizando 43 anos de matrimônio, ambos são ministros voluntários e lideram a Igreja da Graça no bairro Recanto Verde, naquele município da Região Metropolitana do Vale do Aço. Para ela, o fato de terem dado espaço para Cristo morar neles, sem dúvida, colaborou para a construção da felicidade conjugal que antes não existia. “Isso não significa que só temos dias alegres, pois lutas e aflições também fazem parte da vida a dois”, observa ela.
Na opinião do Pr. Paulo Cesar Lopes, líder da Igreja da Graça em Lavras (MG), é fundamental que o casal tenha Jesus como alicerce do matrimônio. O pregador entende que, por ter uma vida de comunhão com o Altíssimo, o crente em Jesus passa a adotar comportamentos de quem é guiado pelo Espírito Santo, conforme Gálatas 5.22: Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. “O cristão deve ser diferente na maneira de falar, no trato e nas atitudes a fim de se tornar parecido com Cristo”, declara, ressaltando que essa postura deve ser mantida no relacionamento conjugal.
Bons frutos – Uma das passagens mais conhecidas acerca do casamento, registrada na carta aos Efésios, pode soar antiquada ou “machista” para muitos desavisados: Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; […] De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido (Ef 5.22-24). No entanto, a leitura do verso seguinte acaba com tais argumentos: Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25). [Leia, no final desta reportagem, o quadro Princípios eternos]
Para o Pr. Jonas da Silva Santos, da Igreja Metodista de Vila Tiradentes, em São João de Meriti (RJ), todo casal precisa ter esse texto do apóstolo Paulo aos efésios em mente a fim de colher bons frutos no casamento. “Marido e mulher devem se esforçar para reproduzir esse tipo de sentimento entre eles”, orienta, fazendo um adendo. “Achar que a vida será mil maravilhas só porque é cristão é um equívoco.”
Por isso, o Pr. Natalício Eugênio de Souza, da Igreja Internacional da Graça de Deus em Caieiras, em Vespasiano (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte, lembra que, além das orientações bíblicas, outros fatores deverão ser observados na construção de um lar abençoado: “Renúncia, respeito e cumplicidade. Casamento feliz é quando homem e mulher se respeitam dentro do temor de Deus”. Segundo o líder, se não houver vigilância, todo conhecimento bíblico do mundo não será capaz de promover a felicidade na vida a dois.
O profissional autônomo Lemuel Batista Freire, 60 anos, e a Profª Clenilza Costa Almeida Freire, 48, membros da Igreja da Graça em Vespasiano (MG), têm colocado esses princípios em prática e aconselham: “É preciso que cada um cumpra devidamente o seu papel no relacionamento. Na vida a dois, é necessário haver respeito mútuo, compreensão e amizade, entre tantos outros fatores, para manter a felicidade conjugal”, salienta ele.
Depois de 32 anos de relacionamento, eles certamente fariam parte do percentual de cristãos contentes com o matrimônio, caso a sondagem citada no início desta reportagem tivesse sido realizada no Brasil. Lemuel Freire assegura que permanece feliz ao lado de Clenilza e, embora reconheça que, por vezes, haja dificuldades no relacionamento, garante: “É possível manter a chama do amor acesa, mesmo depois de tantos anos”.
Princípios
A Bíblia informa que Deus instituiu o matrimônio logo após a criação do primeiro casal. É o que está registrado em Gênesis 2.24: Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Na Palavra do Senhor, estão todos os princípios que devem nortear a união entre homem e mulher, vejamos:
:: O Casamento é monogâmico – A poligamia foi inaugurada por Lameque (Gn 4.19), um homem obstinado, um assassino (Gn 4.23-24). Embora esse costume tenha sido tolerado por Deus, a Bíblia mostra que a poligamia acarretou muitos problemas àqueles que a abraçaram. O exemplo de Salomão é o mais emblemático (1 Rs 11.1-13). A poligamia não é aceita segundo o Novo Testamento (1 Co 7.2).
:: Deve reunir pessoas da mesma fé – Casar-se dentro do próprio círculo religioso é uma ordenança bíblica: Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? (2 Co 6.14).
:: O adultério é condenado – O relacionamento extraconjugal é abominável aos olhos de Deus. Um dos Dez Mandamentos desaprova explicitamente essa prática (Êx 20.14). E, entre outras passagens das Escrituras Sagradas, destaca-se Hebreus 13.4: Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará.
:: A união é permanente – Jesus deixou claro que o matrimônio é vitalício: Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem (Mt 19.6).
:: O casamento pressupõe honra mútua – O Novo Testamento determina que o casal viverá em harmonia à medida que a mulher honrar o marido, sujeitando-se (1 Pe 3.1), e o homem honrar a esposa, oferecendo-lhe amor sacrificial (Ef 5.25; 1 Pe 3.7).
(Fonte: Bíblia Sagrada)