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30/03/2023Impressa ou digital?
Leitores preferem a Bíblia em papel e indicam ser mais relevante o incentivo à leitura
Por Evandro Teixeira
A leitura da Bíblia é essencial para o crescimento espiritual do cristão e para a comunhão dele com Deus. A Escritura afirma, em diversas passagens, a importância de o crente manter contato permanente com ela. Uma delas é o Salmo 1.1,2: Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios […]. Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ao longo da história do cristianismo, essa recomendação tem sido seguida, principalmente nos últimos cinco séculos, graças à invenção da imprensa, o que permitiu a maior divulgação do Livro Sagrado. [Leia o quadro Vários formatos]
Atualmente, além das versões impressas, a Palavra de Deus é disponibilizada no meio digital, o que tem facilitado o seu acesso a todos os públicos. Contudo, a maioria dos leitores ainda prefere as versões em papel. É o que aponta uma recente pesquisa realizada pela Sociedade Bíblica Americana (ABS, a sigla em inglês) feita com 2.598 adultos nos 50 estados norte-americanos. Questionados sobre o meio pelo qual haviam lido a Bíblia no mês que antecedeu o levantamento, a maior parte dos entrevistados (69%) disse tê-lo feito na versão impressa, contra 48% daqueles que utilizaram os meios digitais para a leitura. Um terceiro grupo (21%) declarou ler versões tanto impressas quanto digitais.
Os pesquisadores revelaram ainda que, apesar dos avanços e das facilidades oferecidas pelos recursos tecnológicos, o antigo hábito de ter a Escritura em papel prevalece. Para o publicitário e designer Fábio Campanhol, tal fenômeno ocorre porque muitas pessoas preferem a experiência de tocar em um livro, sentindo o cheiro de suas páginas em vez de olhar para telas de smartphones, tablets, notebooks e computadores. “Com a Bíblia impressa, o leitor tem mais facilidade de manuseá-la e fazer anotações. E, ainda com as diversas edições existentes no mercado, ter uma coleção com os modelos mais interessantes”, observa Fábio, membro da Igreja Batista Redenção em Indaiatuba (SP). Além disso, a Palavra digital, geralmente acessada por meio de aparelhos móveis, pode disputar a atenção do leitor com tantos outros aplicativos. “Por ser usado, muitas vezes, para o trabalho e o lazer, o celular acaba gerando inúmeras distrações, o que pode tirar o foco do Texto Bíblico”, observa o publicitário.
Momento devocional – Já na avaliação do pastor e psicólogo Josenildo Cardoso Cavalcante, da Assembleia de Deus em Santa Bárbara, Curitiba (PR), a idade influencia na escolha do formato das Escrituras Sagradas. Segundo ele, pessoas nascidas de 1960 a 1980, tendem a ser mais resistentes à tecnologia. Ainda assim, o uso da versão digital é uma tendência em franco crescimento. “Acredito que, no futuro, pesquisas desse tipo trarão resultados diferentes, pois a geração que prefere o formato impresso tende a diminuir, dando espaço a outra, mais jovem e fortemente influenciada pelo mundo tecnológico.”
A microempresária Mônica dos Santos Faria, 51 anos, faz parte do grupo dos que não abre mão da versão física do Livro Santo. Membro da Igreja do Evangelho Quadrangular de Sta. Terezinha, na cidade de Três Rios (RJ), ela explica que consegue se concentrar melhor na leitura quando tem em mãos uma Bíblia de papel. Para Mônica, a leitura da Sagrada Escritura merece atenção especial, diferentemente das demais atividades cotidianas. “Deve ser um momento devocional, sem interferências externas. O ideal, aliás, é ter um espaço [físico] específico para meditar na Palavra.”
Já o vigilante Leonardo Araújo da Silva, 40 anos, prefere usar a versão digital das Escrituras. “Além de fazer a leitura do Texto Bíblico, podemos anotar observações e incluir marcações. Esses recursos ajudam ainda na preparação de esboços de pregação”, observa o membro do Centro Evangelístico Ministério Ide, em Maricá (RJ). Leonardo reconhece que os dispositivos eletrônicos podem sim tirar a atenção do leitor e comprometer o entendimento do Livro Sagrado. Por outro lado, ao optar pelo meio digital, o cristão deve manter o foco e não se deixar levar pelas notificações e outros chamarizes que se apresentam na tela do celular.
O vigilante, que mantém em casa um exemplar impresso das Escrituras, testemunha que tem vivido grandes experiências com o Altíssimo por meio da leitura bíblica. Mesmo tendo sido criado no Evangelho,
Leonardo se converteu a Cristo há dez anos, quando se propôs a conhecer o Senhor pela Palavra. “Percebi o quanto a Bíblia é profunda. A partir daquele momento, houve uma verdadeira mudança em minha vida. A compreensão que obtive a respeito da graça de Deus me abriu a porta da salvação”, compartilha.
Alimento diário – O Pr. Roberlan Julião da Silva, da Segunda Igreja Batista em Vila Pauline, na cidade de Belford Roxo (RJ), pontua que a leitura regular da Palavra, impressa ou digital, contribui para que o indivíduo seja influenciado pelas verdades espirituais contidas no Livro Santo. E, consequentemente, com a devida aplicação do que foi lido, o modo de pensar, sentir e agir do cristão mudará gradativamente. O pregador testemunha que passou por uma experiência profunda ao ler a Bíblia toda em apenas três meses. “Para atingir esse objetivo, tive de me abster de ver televisão.”
O professor e mestre em Ciências da Religião José Dias da Silva acredita que a leitura bíblica deve ser vista pelo crente em Jesus como o alimento diário pelo qual ele pode obter boa saúde espiritual. José salienta que a Palavra de Deus ajuda na formação pessoal, moldando o caráter e a personalidade do indivíduo. Por outro lado, sem a leitura diária da Escritura, o servo do Senhor terá uma vida espiritual rasa, além de correr o risco de perder a fé. O docente também assevera que, mesmo considerando menor a questão da escolha do formato da Bíblia, é importante ressalvar um aspecto importante relacionado a ela: “As Escrituras em papel trazem consigo uma tradição cultural secular.”
Em meio a esse debate, há quem aponte o fato de que muitos cristãos falham na constância da leitura do Texto Sagrado. É o que alerta o Pr. Edson Tadeu Ferreira da Silva Júnior, líder da sede regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Rio das Ostras (RJ). Para ele, a prática da meditação cotidiana da Bíblia deve ser mais incentivada pelas lideranças cristãs nos púlpitos. “Esse tema ainda é pouco abordado. Temos de incentivar os membros e mostrar a eles nosso próprio testemunho, fundado no hábito de ler o Livro Sagrado”, pontua o líder, citando João 5.39: Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.
De acordo com o Pr. Edson, não existe uma orientação bíblica específica sobre métodos de leitura da Palavra do Senhor. “Cada cristão deve escolher a melhor forma de estabelecer seu contato regular com a Bíblia, impressa ou digital. Ele precisa apenas lê-la e colocar em prática os ensinamentos dela”, finaliza.
Vários formatos
Quando os livros da Bíblia foram escritos manualmente, os materiais mais utilizados eram o papiro – produzido a partir da haste de uma planta homônima, muito popular no antigo Egito –, e o pergaminho – feito de couro de animais, como ovelhas e cabras. As folhas desses materiais eram coladas ou costuradas, formando longas tiras que precisavam ser enroladas para fins de armazenamento. Por isso, na Antiguidade, os livros eram chamados de rolos. Apenas a partir do começo da Era cristã que a técnica de fazer livros em forma de cadernos, chamados de códices, tornou-se popular.
Cópias manuscritas
No Mundo Antigo e ao longo de boa parte da Idade Média, os rolos ou códices eram produzidos à mão. O número limitado de cópias existentes fazia a maioria das pessoas não ter acesso a esses materiais. Somente no século 14, a Europa começou a utilizar a xilogravura, blocos de madeira semelhantes aos carimbos atuais, para fazer cópias mecânicas de páginas inteiras.
Imprensa
Por volta de 1450, o ourives alemão Johannes Gutenberg (1396-1468) revolucionou a produção de livros e da Bíblia com a invenção da prensa de tipos móveis. A primeira obra de grande porte produzida na prensa de Gutenberg foi o Livro Sagrado em latim. As 1.300 páginas tinham 42 linhas, 2 colunas e, devido ao tamanho, eram divididas em 2 volumes. Cerca de 200 cópias das Escrituras foram impressas por Gutenberg. Destas, 48 sobreviveram ao tempo e estão expostas em museus de diversos países. Com os anos, e a popularização da técnica, mais Bíblias foram impressas, inclusive nas principais línguas faladas na Europa, após a Reforma Protestante (1517).
Formato digital
As formas de impressão evoluíram a tal ponto que, hoje, as editoras utilizam meios digitais para montagem das páginas, a chamada editoração eletrônica. Com isso, a Bíblia e outros livros passaram a ser distribuídos em formato digital para telas de computador, smartphones e diferentes dispositivos portáteis, o que tem tornado o Texto Sagrado mais acessível. O aplicativo YouVersion, por exemplo, que disponibiliza o Livro Santo em 1.920 idiomas, já foi baixado em mais de 500 milhões de aparelhos em todo o mundo desde o seu lançamento, em 2017. (Fontes: Sociedade Bíblica do Brasil, Superinteressante e YouVersion)