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Museu da Bíblia mostra aos visitantes a trajetória do Livro Sagrado ao longo dos séculos
Por Marcelo Santos
Em meio à agitação da Grande São Paulo, um refúgio de história e fé se ergue em Barueri: o Museu da Bíblia (MuBi), detentor do mais completo acervo relacionado às Escrituras Sagradas do Brasil. Fundado em dezembro de 2003 e prestes a completar 21 anos de existência, o MuBi é uma parceria entre a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) – responsável por todo o material exposto, pela agenda e administração do local – e a Prefeitura Municipal de Barueri (SP), que cedeu o espaço de 4,6 mil metros quadrados, ocupado por estacionamento, auditório, bibliotecas e área de exposições.
Entrar nesse espaço é como passar por um portal do tempo e rumar em direção a um rico universo de conhecimento, fé e inspiração. São 900m² de área do acervo que contempla diversas seções temáticas, como A Bíblia e a História da Escrita, A Bíblia e a História da Tradução e a Bíblia no Mundo, que dão ao visitante a oportunidade de conhecer a trajetória do Livro Sagrado ao longo dos séculos. Mas, ao contrário do que muitos poderiam pensar, a importância do museu transcende a esfera da fé cristã. “A maioria das pessoas enxerga a Bíblia como um livro meramente religioso, mas ela é um patrimônio cultural do Brasil e da humanidade. É um dos livros mais antigos, que sobreviveu a séculos, milênios, e chegou até nós”, destaca o Rev. Paulo Roberto Teixeira, secretário de tradução e publicações da SBB.
Texeira lembra que o MuBi não é o primeiro do gênero no mundo dedicado à Bíblia. “Havia iniciativas em outros países, como Holanda e Estados Unidos, e pequenas mostras de objetos em Israel, na Turquia e Grécia. No Brasil, tínhamos mostras de objetos umas aqui e outras ali”, reconhece Paulo Roberto, assinalando, entretanto, que, em nosso país, o museu é inédito e extremamente relevante por ser um espaço dedicado a contar a história das Escrituras Sagradas. “A Palavra de Deus é uma das obras mais lidas e traduzidas de todos os tempos, e também a mais presenteada do mundo. Um livro universalmente importante, um repositório das culturas antigas. Várias civilizações da Antiguidade têm seus únicos registros na Bíblia”, argumenta.
Peças históricas – O Museu da Bíblia possui uma quantidade considerável de exemplares raros das Escrituras. “Temos publicações dos séculos 15 ao 19”, informa Marta Assunção, coordenadora do MuBi. Durante uma exposição realizada em junho, o exemplar mais antigo e raro exibido era a Vulgata Latina, versão do Texto Sagrado em latim, publicado em 1583.
Além dos materiais impressos, o museu – que funciona de terça a domingo – conta com outros atrativos. “Temos uma seção de curiosidades, por exemplo, com os perfumes da Bíblia. É uma parte que os visitantes gostam bastante de interagir. Temos seis essências, e elas ficam em potes de barro para as pessoas fazerem a olfação”, ressalta a coordenadora.
Entre as peças históricas em exposição, há uma réplica artística da prensa de tipos móveis do alemão Johannes Gutenberg (1400-1468). Foi através da máquina inventada por ele que surgiu a primeira impressão, por volta de 1455: a Bíblia. Aquele avanço tecnológico transformou a História, auxiliando no processo de democratização da leitura das Escrituras e desempenhando, posteriormente, papel crucial na Reforma Protestante (a partir de 1517). “Essa máquina chama muito a atenção do público e tem o tamanho aproximado da original, que foi confeccionada na Alemanha e veio para o Brasil. Durante a visita, demonstramos como era feito esse processo de formar a página com os tipos móveis, de que maneira era colocada a tinta e como imprimia”, explica Marta Assunção.
No entanto, para Marta, o ponto alto do museu é o conteúdo franqueado ao público. “Temos uma biblioteca com 19 mil publicações, entre Bíblias completas, Novos Testamentos, porções bíblicas e materiais acadêmicos. Tudo isso à disposição para pesquisas e exposições”, relata ela, explicando que se trata da maior biblioteca de traduções da Bíblia do Hemisfério Sul, com mais de mil traduções do Texto Sagrado.
A coordenadora também aponta que há uma vitrine com 144 publicações de todos os continentes, materiais trazidos de Israel (água do rio Jordão e do mar Morto, por exemplo), a Bíblia em braile e até vestes da época do apóstolo Paulo. Além disso, o MuBi realiza exposições itinerantes, que circulam pelas cidades do país, em igrejas, espaços públicos e até shopping centers. “Já tivemos mostras sobre a Bíblia e os povos indígenas, os manuscritos do mar Morto, as raízes bíblicas dos valores humanitários, as traduções, os 500 anos da Reforma, entre outros”, informa Assunção.
Público – O processo de criação do MuBi levou quase 50 anos. Durante esse período, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) reuniu o acervo. No início da década de 1980, a instituição criou um pequeno espaço de exposição em sua filial, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), chamado de Centro Cultural da Bíblia (instalado onde iniciou a SBB em 1948), que segue em funcionamento. Só em 2003, inspirado em modelos de museus da Alemanha, da Escócia e dos Estados Unidos, surgiu o MuBi. “O Centro Cultural da Bíblia mantém, em escala menor, acervos de livros raros e peças sobre a cultura bíblica. É uma extensão do museu”, detalha Marta Assunção.
De acordo com a coordenadora, o público mais frequente do MuBi é composto por membros de igrejas cristãs. “São católicos, evangélicos, estudantes de seminários, alunos de catequese e de escolas bíblicas. Pessoas que já têm um contato anterior com a Bíblia. Além disso, recebemos estudantes – o público das escolas. As crianças entendem que a Bíblia não é só parte da cultura religiosa, como também da cultura universal, da civilização. Isso se torna um universo de descobertas”, argumenta Assunção, informando que o museu já foi visitado por cerca de 400 mil pessoas.
Foto: Arquivo pessoal
Entre os visitantes, o Pr. Lázaro de Moura, 62 anos, da Assembleia de Deus em Taubaté (SP). Coordenador pedagógico e professor aposentado, ele é um entusiasta do MuBi. “Desde 2014, já organizei cinco excursões para lá”, diz, salientando ser um passeio cultural e espiritual. “Saímos sempre edificados. Fica a alegria de conhecer o processo de tradução e como a Bíblia chega aos povos indígenas, por exemplo”, afirma.
Na opinião do teólogo Eliezer Pereira, um dos apresentadores do programa Vejam Só!, exibido na Rede Internacional de Televisão (RIT), o Museu da Bíblia realiza um trabalho de grande importância na preservação e divulgação do Texto Sagrado, além de oferecer excelente material de estudo. “Durante muitos anos, o povo evangélico foi conhecido como o povo do texto. Inclusive, a história da evangelização do Brasil pelos protestantes passa muito por essa questão”, recorda-se Zeca, como é mais conhecido o apresentador.
Foto: Arquivo pessoal
Pereira lembra que as igrejas evangélicas, quando chegaram ao Brasil, abriam escolas para alfabetizar as pessoas, a fim de que pudessem ler a Bíblia. “Afinal, a Escritura é a regra de fé e prática do cristianismo. Então, ter um espaço hoje reservado para preservar essa história, para divulgá-la, é fundamental. Penso que é um resgate histórico da importância do Texto Santo”, observa o teólogo, assinalando que os cristãos devem valorizar essa oportunidade. “O museu cumpre o seu papel, não só como objeto de preservação da Palavra de Deus e da sua história, mas também para incentivar o cristão a se aproximar da Bíblia, ler e meditar nela. E, a partir do conhecimento adquirido, dar testemunho em seu dia a dia, aplicando o que a Palavra ensina”, opina Pereira.