POR QUE O MAL EXISTE?
15/12/2024TESTES DE FÉ
Pastores explicam a diferença entre provação e tentação, segundo a Palavra de Deus
Por Lilia Barros
Tentação e provação são conceitos presentes na Bíblia e bastante estudados e debatidos no meio evangélico. Embora façam parte da trajetória de vida de todo cristão, têm significados diferentes. Enquanto o primeiro é associado à sedução, ao pecado, o segundo é encarado como um teste que pode resultar em crescimento e amadurecimento espiritual. É certo dizer, entretanto, que eles estão interligados, uma vez que as provações podem incluir tentações que colocam em xeque os valores e a fé do servo do Senhor.
O professor de Teologia Luiz Flávio Curvelo de Jesus, evangelista e membro da Igreja Evangélica Jerusalém em Cristo, no Parque Vila Maria, São Paulo (SP), explica que o Antigo Testamento não menciona a palavra tentação, mas cita provação. Todavia, lembra ele, no texto original em grego do Novo Testamento, o termo peirasmon é usado para se referir a ambas. “A ideia de tentação na Velha Aliança, muitas vezes, está ligada à prova de fidelidade e obediência a Deus, não necessariamente no mesmo sentido encontrado na Nova Aliança, cujo vocábulo é utilizado para descrever a tentação de fazer o mal”, explica.
O teólogo ressalta que, desde a tentação de Adão e Eva no jardim do Éden até as provações dos israelitas no deserto, “a Bíblia está repleta de histórias que ilustram como Deus permite que Seu povo enfrente desafios para fortalecer a fé e comprovar sua lealdade a Ele”. Para exemplificar, ele cita a passagem de Êxodo 15.25, na qual o Senhor promete proteção e cura àqueles que ouvem Sua voz e guardam Seus mandamentos. Em contrapartida, em Deuteronômio 6.16 (Não tentareis o Senhor, vosso Deus, como o tentastes em Massá), os israelitas são advertidos de que a tentação pode ser uma provação negativa, de questionamento à presença do Altíssimo e à Sua bondade. “Esses temas são fundamentais para entender a jornada espiritual do povo de Deus e a importância da perseverança na fé.”
Experiência difícil – O Pr. Elton Eduardo Paz de Araújo, teólogo e líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Tancredo Neves (AM), ressalta que, nas Escrituras Sagradas, a provação se refere, geralmente, a um teste ou desafio permitido pelo Todo-Poderoso para aperfeiçoamento da fé, do caráter ou da obediência do crente em Jesus. “É um momento de dificuldade que visa fortalecer e aprofundar a comunhão do cristão com o Senhor”, explica o pastor, citando Jó 23.10: Mas ele sabe o meu caminho; prove-me, e sairei como o ouro.
Embora reconheça que a provação é uma experiência difícil e dolorosa, o ministro do Evangelho frisa que, ao final do processo, o cristão pode ser abençoado. “Deus pediu a Abraão que sacrificasse o filho, Isaque (Gn 22.1-19). Apesar de aquele servo ter sido extremamente provado, sua obediência e fé honraram o Criador, gerando bênçãos para sua vida.”
Indagado sobre o significado da tentação na vida cristã, o pastor a definiu como “uma ação ou um estímulo que incita a pessoa a cometer um pecado ou agir de maneira contrária aos princípios e ensinamentos divinos”, esclarecendo que a tentação não vem do Pai celestial. “O apóstolo Tiago ensina: Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta (Tg 1.13,14).”
Elton de Araújo esclarece que o cristão não peca ao ser tentado, mas quando cede à tentação. “Nessa luta, é preciso obedecer à Palavra, que diz: Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós (Tg 4.7)”, explica o pastor, mencionando a experiência vivida pelo Mestre no deserto, quando foi tentado por Satanás (Mt 4.1-11), e as palavras do apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios: Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Co 10.13).
O teólogo explica que o Altíssimo permite que o cristão seja colocado à prova, mas nunca com a intenção de que peque. Segundo o Pr. Elton, em certas circunstâncias, as tentações podem ser parte das provações. Entretanto, faz um alerta: é crucial estar atento para evitar interpretações equivocadas sobre a provação. “Isso acontece quando as pessoas enxergam as dificuldades e os desafios que enfrentam como adversidades enviadas pelo Senhor. Essa perspectiva pode resultar em uma compreensão distorcida da realidade e da responsabilidade individual.”
O Pr. João de Paula, da Igreja da Graça em Pinheiral (RJ), no Vale do Paraíba Fluminense, afirma ser essencial que o crente em Jesus saiba a diferença entre tentação e provação, avaliando a experiência que o distancia do Pai e a que faz com que ele amadureça na caminhada cristã. “A tentação traz vergonha, dor e destruição a partir de uma ação do diabo, afastando o fiel da presença de Deus”, esclarece, assinalando que, ao contrário, a provação aprimora o cristão, habilitando-o para o próximo nível de sua caminhada de fé.
O ministro recomenda que o servo do Senhor suporte a provação com firmeza, declarando as palavras do apóstolo Paulo em sua segunda carta ao jovem Timóteo: Sei em quem tenho crido (2 Tm 1.12). “As provações são oportunidades de crescimento, elas nos moldam para resistirmos, inclusive, às tentações”, ensina João de Paula. Ele pontua que a Igreja exerce um papel fundamental nesse processo, fortalecendo a fé dos membros do Corpo de Cristo, para que vivam o que está registrado em Colossenses 3.16: A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração.
Firmes na fé – A Pra. Rosana Charduli Alavarce passou por uma prova dramática pouco depois do nascimento de seu filho, Matheus, no Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo (SP). Após ter sido levado ao berçário, o bebê sofreu uma parada respiratória. “Naquele momento, começamos a vivenciar a provação da nossa fé, pois a médica alertou que, se ele tivesse outra, não sobreviveria, e, mesmo que resistisse, teria sequelas.”
O quadro se agravou, e Matheus sofreu mais duas paradas respiratórias. Rosana ouviu dos especialistas um diagnóstico bastante desanimador, mas não perdeu a fé. E então, veio o milagre, testemunhado pela pastora: depois de três dias internado na UTI, o pequeno não apresentou qualquer sequela. “Hoje, prestes a completar 18 anos, meu filho nunca mais teve nem sequer uma gripe.”
O esposo da Pra. Rosana, o Pr. Mário Célio Alavarce, líder regional da Igreja da Graça em Volta Redonda (RJ), relembra como lidou com aquela provação. “Os bombardeios mentais eram constantes, mas a Palavra do Senhor foi suficiente para vencermos as investidas do inimigo e glorificarmos a Deus”, declara o ministro, citando a passagem de João 11.4: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
Quando o assunto é tentação, o quadro espiritual tende a ser igualmente complicado. É o que relata o comerciante Jorge Paulo Amorim, 45 anos, membro da Assembleia de Deus em Porto de Cariacica, em Cariacica (ES), na região metropolitana de Vitória. Certa vez, ele estava almoçando em um restaurante, quando uma desconhecida perguntou se poderia se sentar ao lado dele. Ao consentir por educação, Jorge não percebeu que se tratava de uma cilada.
“Após a refeição, ela me pediu uma carona, que coincidiu com o caminho que eu faria de carro. Fiquei constrangido de negar porque a distância era de apenas um ou dois quarteirões.”
O comerciante só desconfiou das intenções da mulher quando, ao se despedir, ela pediu o número do seu telefone. “Fui firme e não compartilhei meu contato. Respondi que não era necessário por ser casado”, revela ele, acrescentando que a intenção do diabo era que cometesse adultério. “O Espírito Santo me alertou, porque Deus sabia que eu não queria pecar”, lembra-se ele, admitindo a distração inicial. No entanto, Jorge acredita que o importante foi ter honrado o Senhor e sua esposa. “Não cedi à tentação que me faria errar e cair.”
Boa notícia – Ao ser questionado sobre o tema desta reportagem, o Pr. Fabiano Santos de Sousa, da IIGD em Teresina (PI), citou um conhecido episódio bíblico envolvendo José do Egito (Gn 39.7-20). “Tentado pela esposa de Potifar, mulher usada pelo maligno para induzi-lo ao pecado, ele resistiu ao optar por não pecar contra o Altíssimo e seu senhor e acabou na prisão”, relata o ministro, destacando que, por causa de sua fidelidade, José foi conduzido ao cargo de governador do Egito.
Para Souza, a tentação é o desejo de fazer algo contrário à vontade divina. Trata-se de uma incitação à iniquidade provocada pela inclinação humana. O pastor menciona o exemplo de Cristo, que foi tentado pelo inimigo no deserto, mas não pecou (Mt 4.1-11). “Ele resistiu, citando a Palavra para expulsar o tentador”, relata, mencionando o exemplo de Adão e Eva que, ao contrário de Cristo, cederam à tentação (Gn 3.6), causando a entrada do pecado no mundo e a queda do homem.
Na visão do ministro, a boa notícia para o cristão é que as tentações podem se tornar motivo de bênção quando enfrentadas com fé e perseverança. “A Bíblia mostra várias situações em que homens e mulheres de fé foram provados e tentados, mas se mantiveram fiéis”, ressalta, citando o conhecido texto de Tiago 1.12: Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. Segundo Fabiano, só há uma saída para vencer a tentação e a provação: “Devemos confiar em Deus e permanecer fiéis e firmes em Sua Palavra, louvando o Senhor e glorificando-O para vencermos em Nome de Jesus.”