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Foto: Jenny Ueberberg / Unsplash

Pela graça sois salvos

Importante fundamento da fé, a doutrina da redenção está embasada no sacrifício de Jesus e não na prática de boas obras

Por Evandro Teixeira

No início da caminhada com o Senhor, todo cristão precisa conhecer as bases de sua crença. O tema central é a salvação eterna, obtida, exclusivamente, pela fé em Cristo. A Palavra registra que a obra de redenção foi concluída na cruz pelo Filho de Deus, que Se ofereceu como sacrifício perfeito em favor da humanidade. Dessa forma, a vida eterna com o Criador é concedida gratuitamente por Ele a todos que aceitam Jesus como Salvador. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, deixa claro que boas ações não são capazes de garantir ao homem a entrada no Céu: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. (Ef 2.8). No verso nove, ele enfatiza: Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

O Rev. Cícero Meyer Vassão Filho afirma que as boas ações devem fazer parte da vida do cristão, mas esclarece que elas são uma consequência da salvação e não a sua causa
Foto: Arquivo pessoal

Apesar da clareza dos textos bíblicos, muitas pessoas ainda têm um entendimento equivocado sobre esse assunto, que é um dos pilares da fé cristã. Um levantamento realizado recentemente pelo Centro de Pesquisas Culturais da Universidade Cristã do Arizona, nos Estados Unidos, mostrou que diversos pastores norte-americanos desconhecem o princípio da salvação exclusivamente pela fé em Jesus: um terço dos ministros do Evangelho ouvidos no estudo acredita ser possível obter a salvação apenas pela prática de boas obras. A pesquisa, que avaliou a visão de vários líderes norte-americanos acerca de alguns ensinamentos básicos contidos no Livro Santo, revelou ainda que, entre os pastores que deram tal resposta antibíblica, há vários pregadores experientes, com muitos anos de ministério.

O Pr. Gean Luiz Peroni Brandão ensina: “As obras feitas por nós, servos do Altíssimo, são a resposta da obra do Criador realizada em nossa vida. Deixar de compartilhar o amor dEle, em reconhecimento pela nossa salvação, é um ato de egoísmo”
Foto: Arquivo pessoal

Para o Rev. Cícero Meyer Vassão Filho, da Igreja Presbiteriana do Brasil em Jardim Imperial, Atibaia (SP), esse é apenas um dos temas tratados de forma errônea no meio evangélico e uma tentativa frustrada de adequar Deus à lógica humana. “Trata-se de uma compreensão errada de nossa real situação, como seres humanos, diante do Criador, pois não há nada que possamos oferecer, em termos de obras, para alcançarmos a salvação de nossa alma.”

Segundo o pastor presbiteriano, por causa de um ensinamento equivocado, diversos líderes incutem na mente das pessoas a ideia de que elas precisarão estabelecer um padrão de realizações que lhes garanta o direito de entrar no Céu. “Nessa busca, muitos foram, e estão sendo, profundamente machucados e frustrados. E não poderia ser diferente, pois as Escrituras Sagradas não amparam tal ensinamento”, ressalta o líder, mencionando Romanos 3.28: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.

O Pr. Gilberto da Silva lembra que o entendimento equivocado de que as obras levam à salvação pode gerar um ativismo exagerado, uma espécie de meritocracia religiosa
Foto: Arquivo pessoal

Vassão Filho afirma que as boas ações devem fazer parte da vida do cristão, mas esclarece que elas são uma consequência da salvação e não a sua causa. É a salvação pela fé que dá ao crente em Jesus a capacidade de segui-Lo e de fazer boas obras. “Não realizá-las significa que, provavelmente, o indivíduo não foi alvo da obra de redenção”, analisa o reverendo, citando as palavras de Paulo em Efésios 2.10 (ARA): Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

“Ato de egoísmo” – Pensamento semelhante tem o Pr. Gean Luiz Peroni Brandão, líder da Igreja Metodista em Areias, na cidade de Ribeirão das Neves (MG). Para corroborar essa ideia, ele faz uma leitura comparada de João 3.16 (Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna) e 1 João 3.16 (Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos).

O Pr. Fabiano Santos de Sousa afirma que as lideranças evangélicas precisam estar bem-preparadas para defender temas como a salvação pela graça
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Peroni, essas passagens se complementam, pois mostram o real significado das boas obras na vida dos crentes em Cristo. O primeiro texto refere-se ao amor do Pai e como Ele se revelou à humanidade pela obediência de Seu filho, O qual abriu o caminho para a salvação. Já o segundo, desafia os cristãos já alcançados pelo Evangelho a levarem esse amor a outras pessoas, inspirados pelo exemplo de Jesus. “A relação existente entre essas passagens bíblicas é de que as obras feitas por nós, servos do Altíssimo, são a resposta da obra do Criador realizada em nossa vida. Deixar de compartilhar o amor dEle, em reconhecimento pela nossa salvação, é um ato de egoísmo.”

Para o Pr. Gilberto da Silva, mestre em Ciências da Religião e líder da Igreja Evangélica Pentecostal Monte da Oração em Jardim Icaraí, zona sul de São Paulo (SP), o entendimento equivocado de que as obras levam à salvação pode gerar um ativismo exagerado – uma espécie de meritocracia religiosa. “Nessa hipótese, aqueles que se dedicam e se esforçam mais na igreja seriam merecedores da salvação.” O ministro reforça que a fé é o cerne da vida cristã. É ela que induz o servo de Deus a demostrar sua crença por meio de atitudes. “Isso fica evidente, por exemplo, quando Noé, por sua fé no Altíssimo, assume a responsabilidade de construir a arca (Hb 11.7), e quando Abraão, também pela fé, parte para uma terra desconhecida (Gn 12.1).”

O Pr. Ricardo Luz Andrade Costa ressalta: “Salvar o homem do pecado é a própria missão de Cristo. Temos de lembrar os crentes em Jesus que não estamos pagando pela salvação, pois tudo já foi pago por Cristo na cruz”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Fabiano Santos de Sousa, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Dirceu, na capital Teresina (PI), afirma que as lideranças evangélicas precisam estar bem-preparadas para defender temas como a salvação pela graça. Para ele, além de manter um estudo sistemático da Palavra, o bom líder pode e deve recorrer às boas literaturas evangélicas. “A Graça Editorial, por exemplo, tem, em seu catálogo, o livro Salvação completa, de Derek Prince. Nessa obra, o autor revela como o sacrifício de Jesus foi perfeito em todos os aspectos, por isso tornou disponível a entrada dos salvos no Céu.”

O Pr. Jasson dos Santos Azevedo observa: “Ao colocar no esquecimento os hinos que vislumbram as questões vindouras, abrindo espaço para novas modalidades musicais, constroem-se outras perspectivas de crenças”
Foto: Arquivo pessoal

Pastor da Igreja Batista Fiel, em Niterói (RJ), Ricardo Luz Andrade Costa corrobora a ideia de que o tema da salvação tem sido abandonado por alguns líderes. “Salvar o homem do pecado é a própria missão de Cristo. Temos de  lembrar os crentes em Jesus que não estamos pagando pela salvação, pois tudo já foi pago por Cristo na cruz”, ressalta o ministro, destacando que é fundamental que a mensagem do Evangelho seja pregada de forma completa, de maneira que o ouvinte seja confrontado com seus pecados e busque o perdão divino. “Para obter essa graça, é preciso haver o arrependimento, a confissão de pecados e a fé no sacrifício de Jesus.”

“Céu ou inferno” – Saber que ainda há líderes os quais carregam consigo dúvidas sobre temas centrais da Bíblia é motivo de preocupação para os ministros do Evangelho do Brasil e de várias partes do mundo. O Pr. Jasson dos Santos Azevedo, líder da Igreja Metodista em Aimorés (MG), alerta para o fato de que esses assuntos são pouco tratados nos púlpitos, e até mesmo na música cristã. “As canções têm um efeito pedagógico e são uma forma prática de ensinar os membros da comunidade de fé. Ao colocar no esquecimento os hinos que vislumbram as questões vindouras, abrindo espaço para novas modalidades musicais, constroem-se outras perspectivas de crenças”, observa o ministro metodista, assinalando que, a depender do tipo de letra entoada nos cultos, as pessoas podem ser guiadas a ensinamentos que não têm embasamento nas Escrituras Sagradas.

O Pr. Gilberto Corrêa de Andrade alerta: “Devemos estar cientes de que esta vida, com todas as nuances de bênçãos ou sofrimentos, passará, e que, após a morte, virá o resultado de nossas escolhas: Céu ou inferno”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Gilberto Corrêa de Andrade, da Assembleia de Deus em Presidente Prudente (SP), é ainda mais incisivo: para ele, os tempos atuais têm difundido ideologias antagônicas aos ensinamentos da Palavra de Deus. Por isso, há servos do Senhor muito preocupados com a ação social – algo importante na vida das igrejas –, no entanto não são capazes de pregar a redenção eterna. Na opinião do ministro assembleiano, além de mostrar como o pecador pode ser salvo, as lideranças precisam aprofundar esse assunto, falando nos púlpitos sobre a volta de Jesus e o arrebatamento da Igreja. “Devemos estar cientes de que esta vida, com todas as nuances de bênçãos ou sofrimentos, passará, e que, após a morte, virá o resultado de nossas escolhas: Céu ou inferno.”

Por sua vez, o Pr. José Ronny de Sousa Lopes, líder da Igreja da Graça em Ribeirão das Neves (MG), entende que a salvação, quando abordada de forma completa, tende a tirar as pessoas da zona de conforto. Por outro lado, há assuntos que despertam mais interesse nelas, como cura, prosperidade e vida sentimental. Por isso, a fim de manter uma boa frequência nos cultos, há líderes que preferem falar sobre temas que as pessoas querem ouvir.

O Pr. José Ronny de Sousa Lopes aconselha: “Precisamos dedicar mais tempo ao estudo da Palavra, dando a devida atenção e importância às mensagens sobre a salvação”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com José Lopes, no contexto atual, em que a sociedade anda adoecida e embalada pelo consumismo desenfreado, os pregadores devem estar mais atentos ao que o Espírito Santo quer falar às igrejas. “Para isso, precisamos dedicar mais tempo ao estudo da Palavra, dando a devida atenção e importância às mensagens sobre a salvação”, aconselha, enfatizando que uma simples mensagem com base bíblica sempre será capaz de salvar vidas, conduzindo-as à eternidade com Cristo.

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