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01/07/2022Conhecimento da Palavra
A importância do ensino sólido das Escrituras, único meio de proclamar ao mundo a real mensagem de salvação
Por Patrícia Scott
No capítulo 3 de sua primeira carta a Timóteo, o apóstolo Paulo frisa que os aspirantes ao pastorado – episcopado, em algumas traduções – devem ser homens idôneos, habilitados para essa obra tão excelente. Entre algumas características necessárias ao cargo, enumeradas pelo apóstolo, o futuro ministro precisa ser apto para ensinar (1 Tm 3.2) – habilidade que, na Igreja de Cristo, é fundamental, uma vez que a proclamação do Evangelho se dá por meio da ministração da Palavra de Deus.
O Pr. Orlando Martins, da Igreja Mais de Cristo em Capoeiras, na cidade de Florianópolis (SC), lembra que, nos dias do Antigo Testamento, o ensino bíblico era ministrado por anciãos e, posteriormente, por levitas e escribas. Ele explica que, após o exílio babilônico de 70 anos, o povo judeu havia se esquecido da Lei do Senhor. Martins cita o texto de Neemias 8, o qual diz que, sob a liderança de Esdras, o escriba, a Lei foi ensinada ao povo, desde o nascer do sol até aproximadamente o meio-dia (Ne 8.3). O verso 8, por sua vez, registra: E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse. “Um grupo de escribas traduzia o ensino, para que o povo, o qual falava aramaico, pudesse compreender o real sentido do texto.”
De acordo com o pastor, essa passagem do Livro de Neemias é considerada, por muitos especialistas, a descrição da primeira escola bíblica da História. O momento foi inédito: houve a interpretação do Livro Santo, com o exercício tanto de hermenêutica quanto de exegese, ou seja, uma tradução interpretativa da Palavra. Orlando Martins também assinala que, no mesmo capítulo 8 de Neemias, está registrado que aquela prolongada aula a respeito das Escrituras Sagradas deixou os ouvintes muito emocionados. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei (Ne 8.9). “O verdadeiro ensino bíblico produz arrependimento e confrontação, o que gerou um grande avivamento espiritual entre o povo de Israel.”
De acordo com Martins, no Novo Testamento, está dito que, na área do ensino, por exemplo, existiam o ministério de Apolo – que era poderoso em palavras (Atos 18.24-28) – e o de Paulo, responsável por doutrinar muitas igrejas. “Mas Jesus é o nosso maior exemplo, sendo chamado 50 vezes de Mestre nos Evangelhos”, enfatiza o pastor. Ele assinala que, após a Sua morte, Cristo deixou como mandamento principal a tríplice missão da Igreja: evangelizar, discipular e ensinar, conforme está escrito em Mateus 28.20. “A evangelização, que é o Ide, deve ser o objetivo principal. Após o processo inicial de discipulado, o indivíduo encontra-se pronto para ser ensinado a partir de uma mensagem de edificação, que visa ao crescimento espiritual.”
Consciência elevada – Jesus era o Mestre por excelência, pois ensinava diariamente, no convívio constante com os discípulos. Na opinião do Pr. Marcelo Amorim, líder da Igreja Presbiteriana Renovada da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), o ensino cristão acontece por meio da convivência. “Isso demanda comprometimento”, avalia o ministro, que também é professor no Seminário Teológico Abraham Kuyper (SETAK). Ele recorda que Jesus fazia parábolas como ferramenta de ensino e de exemplos extraídos da vivência cotidiana dos ouvintes. “Isso ajudava na compreensão e na assimilação”, destaca. Amorim enfatiza que as igrejas e suas lideranças jamais devem negligenciar o estudo das Escrituras, o qual produz “uma consciência cristã elevada”.
Por sua vez, o Pr. Valdir Stephanini, da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória (ES), lembra que os apóstolos levavam a questão do ensino muito a sério. Afinal, Jesus havia ordenado que transmitissem tudo o que haviam aprendido. “Cristianismo é vida, comunhão com Deus. Isso só é possível mediante o ensino sistemático e profundo da Palavra.” Levando em conta a grande responsabilidade que tem o ministro do Evangelho, Stephanini cita o alerta feito pelo apóstolo Tiago àqueles que ensinam na Igreja: Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo (Tg 3.1–ARA). “Ele estava advertindo os mestres do seu tempo que estavam ensinando algo que não viviam.”
O Pr. Jackson da Silva, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Itajubá (MG), afirma que o ensinamento preciso do Texto Sagrado deve estar alinhado ao comportamento daquele que ensina. “Assim, o impacto do Evangelho na vida das pessoas será ainda maior”, diz o ministro. Ele assinala que a ministração da Palavra deve gerar no ouvinte um grau de regozijo, tendo em vista o que diz o Salmo 1.2,3: Antes, tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará. “Prazer é algo que produz satisfação, alegria, contentamento. Por isso, o resultado é a frutificação”, assegura.
Já o Pr. José Roberto de Melo Jr., líder da Assembleia de Deus Ministério do Belém Setor 3, Lapa, em São Paulo (SP), aponta que o ensino da sã doutrina bíblica é a arma mais poderosa contra as heresias. Ele destaca que, no contexto histórico da Igreja primitiva, havia problemas doutrinários, entre eles, o fato de que alguns judeus desejavam impor práticas da Lei mosaica aos gentios convertidos ao Evangelho. “Por essa razão, fazendo-se de mestres, receberam dura reprovação de Tiago.”
O pastor assembleiano pontua que, para combater esse e outros ensinamentos errôneos que rondavam a Igreja do Novo Testamento, o apóstolo Paulo exortou o jovem Timóteo a permanecer no ensino dos apóstolos: Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido (1 Tm 4.6–ARA). “O ensino nunca deve ficar em segundo plano porque, a partir dele, o cristão ficará bem preparado para melhor servir à Igreja.”
“Verdade de Deus” – O fundamento dos ensinamentos cristãos no primeiro século era a doutrina apostólica, a qual trata de Jesus e de Seu Evangelho redentor. O apóstolo Paulo enfatiza que todos os cristãos precisam compreender de maneira perfeita e aprofundada essa mensagem, ou seja, chegar ao pleno conhecimento de Cristo (Ef 1.17–ARA). “Investir no ensino é o cumprimento da vontade do Senhor, culminando na proclamação fiel da verdade de Deus para um mundo caído”, ressalta o Rev. Júnio Cezar da Rocha Souza, da Primeira Igreja Presbiteriana em Planaltina (DF) e professor do Seminário Presbiteriano de Brasília.
No entanto, de acordo com o ministro presbiteriano, diversas comunidades cristãs da atualidade estão se afastando do ensino genuíno das doutrinas bíblicas, assumindo práticas do mundo corporativo e orientações de autoajuda. Trata-se, de acordo com o líder, de um anseio por atender às demandas da pós-modernidade. “Esses elementos estão aquém da sabedoria bíblica, fonte inesgotável e suficiente para orientar a Igreja de Cristo no mundo contemporâneo”, adverte. O Rev. Júnio Souza deixa claro que tal postura descaracteriza o papel da Igreja. “Ela é a coluna e o baluarte da verdade. A partir do momento em que apresenta deficiências no ensino doutrinário, o rebanho se torna presa fácil para os falsos deuses do mundo atual.”
Na opinião do professor de Teologia Luiz Curvelo, vários supostos ensinadores da Palavra da atualidade se perderam. “Faltam mestres na Igreja atual, que está abarrotada de religiosos e pretensos mestres. Por outro lado, há aqueles que ensinam dentro e fora do exercício pastoral, o que é importante para o avanço do Evangelho”, avalia o professor, o qual leciona na Escola Teológica Assembleia Nova Jerusalém (ETANJ), em São Paulo (SP). Curvelo alerta para o perigo representado pela falta de ensinamento profundo da Bíblia, algo que acaba tornando a Igreja hipócrita e cheia de religiosidade. O teólogo assinala que uma comunidade cristã se torna madura, responsável com os carentes e estrangeiros e com bons resultados na missão, se investe, de fato, no ensino da Palavra. “Será reconhecida como a detentora verdadeira da sabedoria de Deus”, garante.