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Foto: Arte sobre foto de Gift Habeshaw / Unsplash

Dom de Deus

Tema central das Escrituras, a salvação precisa ser bem compreendida pelos cristãos

Por Ana Cleide Pacheco

Segundo o Dicionário Houaiss, salvação é ação ou efeito de salvar (-se), de libertar (-se). De acordo com o Priberam, essa palavra significa ato ou efeito de salvar ou salvar-se, ou livrar do inferno. Para o Aulete Digital, ação ou resultado de salvar (-se). O termo vem do latim salvare, que denota livramento. No Novo Testamento, escrito originalmente em grego, o vocábulo traduzido por salvação é soteria, que transmite a ideia de resgate, redenção. Já no hebraico, língua em que o Antigo Testamento foi escrito, a palavra é yasha, que tem uma conotação profunda, indicando também segurança. O termo “salvação” aparece na Bíblia 164 vezes e é considerado, por muitos teólogos, como um tema central nas Escrituras. Contudo, nem sempre é bem compreendido, suscitando dúvidas até mesmo entre os cristãos. 

À luz da Bíblia, a conversão ao Evangelho é o elemento essencial para a salvação. A missionária norte-americana Dra. Marilyn O’Dell, em seu livro Você irá para o Céu quando morrer? (Graça Editorial), explica que, quando alguém convida Jesus para ser o Senhor de sua vida, vivencia um milagre: O Espírito Santo passa a habitar em seu espírito, e a pessoa se torna filha de Deus.A partir desse momento, o caminho para o Céu é iniciado, e a pessoa é capaz de aproximar-se do Pai celestial em oração, a qualquer hora, e pedir-Lhe auxílio. Que bênção é pedir ajuda enquanto se vive na Terra, e ter um lar celestial após a morte, escreve O’Dell

O livro Você irá para o Céu quando morrer? (Graça Editorial), da missionária norte-americana Dra. Marilyn O’Dell

Por sua vez, o escritor e palestrante britânico Derek Prince (1915-2003) esclarece, em sua obra Salvação completa (Graça Editorial), que a salvação é uma palavra bíblica que se refere à provisão abrangente de Deus para o ser humano. É usada no Novo Testamento para descrever todos os benefícios e todas as dádivas que o Senhor disponibilizou para Seus filhos por intermédio de Jesus Cristo: Ela inclui o perdão dos pecados, o dom da vida eterna, a cura física e o poder de ter um viver diferente, com todas as necessidades supridas e a certeza da eternidade na presença do Todo-Poderoso. O autor destaca também que a salvação é um processo: Em suma, temos uma experiência única, sobre a qual podemos dizer: ”Deus me salvou”. Por meio dela, entramos na salvação, que já está completa: temos sido salvos. No entanto, ao mesmo tempo, ela continua a operar em nós: estamos continuamente sendo salvos.

A obra Salvação completa (Graça Editorial), do escritor e palestrante britânico Derek Prince (1915-2003)

O Rev. Eber Cocareli, diretor e apresentador do programa Vejam Só!, da Rede Internacional de Televisão (RIT), lembra que a salvação ensinada na Bíblia é dinâmica. “Todo salvo tem o Espírito Santo, que o guia para a verdade.” Segundo Cocareli, não é correto dizer que o salvo por Cristo estará salvo para sempre, não importando o que faça ou como viva. “Ser salvo implica responsabilidades e encargos.” 

O Rev. Eber Cocareli, diretor e apresentador do programa Vejam Só!, da RIT, lembra que a salvação ensinada na Bíblia é dinâmica: “Todo salvo tem o Espírito Santo, que o guia para a verdade” Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Ele acrescenta que o crente em Jesus deve representar o Rei e Seu Reino neste mundo, e gerar frutos nesta vida, que serão colhidos como tesouros na eternidade. Eber Cocareli salienta que o fato de o cristão não ir para o inferno quando morrer é um desdobramento da salvação. “O alvo primordial do Pai é nos redimir da nossa malignidade e nos reconciliar com Ele, enquanto ainda vivemos. Somos salvos de nós mesmos, para sermos transformados em filhos de Deus.”

“Caminho de volta” – O Pr. Marcelo Madeira, da Igreja Batista Sul, em Bauru (SP), concorda com Cocareli. “O apóstolo Paulo escreve aos coríntios dizendo que Deus nos reconciliou consigo por intermédio de Cristo [2 Co 5.18-20]”, observa Madeira, assinalando que um dos maiores equívocos da Igreja é acreditar que a vida eterna é, ou será, uma realidade futura, uma vivência apenas no pós-morte. “Jesus deixa claro, em Seu encontro com Zaqueu, que a vida eterna começa aqui e agora, quando diz: ‘Hoje, entrou salvação nesta casa’ [Lc 19.1-9]. A vida eterna não tem relação apenas com a duração, mas também com a qualidade que é iniciada aqui na Terra.”

O Pr. Marcelo Madeira recorda: “Jesus deixa claro, em Seu encontro com Zaqueu, que a vida eterna começa aqui e agora, quando diz: ‘Hoje, entrou salvação nesta casa’ [Lc 19.1-9]” Foto: Arquivo pessoal

Segundo o pastor, a salvação não é um privilégio, e sim uma responsabilidade. “Já foi iniciada e, um dia, será consumada”, afirma o pregador batista, destacando que se trata de um ato de amor incontido de Deus, o qual deseja que o ser humano faça o caminho de volta para casa, conforme a parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). “Fomos criados para sermos amados. João nos revela a mais bela verdade: que nós o amamos, porque Ele nos amou primeiro”, diz Madeira, referindo-se ao texto de 1 João 4.19.

O Pr. Sérgio de Sousa, professor de Teologia na Faculdade Evangélica de São Paulo (FESP), lembra que existe um débito impagável do homem com Deus (Cl 2.14), contraído quando Adão e Eva Lhe desobedeceram  no Éden (Gn 3.1-9). “Só existe um meio de se livrar da dívida: entregando a vida nas mãos dAquele que a pagou: Jesus”, informa Sousa, esclarecendo que, dessa maneira, o cristão é resgatado do pecado. “A morte não significa o fim da existência. Jesus é o meio que Deus proveu para que sejamos livres da condenação.”

Ao lembrar da queda do homem, no Jardim do Éden, o Pr. Sérgio de Sousa esclarece: “Só existe um meio de se livrar da dívida: entregando a vida nas mãos dAquele que a pagou: Jesus” Foto: Arquivo pessoal

O docente enfatiza que a salvação tem uma perspectiva eterna, no entanto assinala ser correto afirmar que ela é condicionada à obediência. “Isso é confirmado pelas palavras de Jesus às igrejas da Ásia, quando diz que dará o que é prometido àquele que vencer.” Contudo, paradoxalmente, ele pondera que, na salvação, não existe meritocracia. O ser humano nada pode fazer para merecê-la. “Não pode ser comprada por obras. É um ato exclusivo da graça de Deus”, frisa, citando o conhecido texto de Efésios 2.8,9 (Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie).

Seguindo o mesmo raciocínio, o Rev. José Magalhães Furtado, da Igreja Metodista Central, em Duque de Caxias (RJ), afirma que os evangelhos não poupam pormenores indicativos de que o sacrifício de Jesus é suficiente para a redenção da humanidade. “O Eterno decidiu enviar Seu próprio Filho, em semelhança de carne, para salvar os pecadores”, destaca, lembrando a passagem de Mateus 18.11: Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido. A partir de então, de acordo com José Furtado, é o fim da abundância de sacrifícios, das ofertas alçadas e das demonstrações públicas de santidade requeridas pelos mandamentos da Lei Mosaica. “O sacrifício do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, tem mérito suficiente para expurgar culpas e garantir o perdão.”

O Rev. José Magalhães Furtado afirma que os evangelhos não poupam pormenores indicativos de que o sacrifício de Jesus é suficiente para a redenção da humanidade: “O Eterno decidiu enviar Seu próprio Filho, em semelhança de carne, para salvar os pecadores”  Foto: Arquivo pessoal

Interior e exterior – Por outro lado, obedecer aos estatutos do Senhor é fundamental para alcançar as bênçãos decorrentes da salvação em Jesus Cristo, como lembra o Pr. Eladir Antônio do Amaral, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Pavuna, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). De acordo com o líder, o homem que anda no caminho estabelecido por Deus tem sua existência modificada, como afirma o texto de 2 Coríntios 5.17: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. “Aquele que é salvo gera o bom fruto relatado pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.22.

O Pr. Eladir Antônio do Amaral lembra que obedecer aos estatutos do Senhor é fundamental para alcançar as bênçãos decorrentes da salvação em Jesus Cristo Foto: Arquivo pessoal

Já o Rev. Alderi Souza de Matos, professor de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Seminário Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, afirma que a salvação se manifesta de duas formas na vida do cristão: no interior e no exterior. “A primeira é o testemunho da Palavra e do Espírito Santo em nosso coração”, ensina, destacando o que o apóstolo Paulo escreveu em Romanos 8.16:O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. No entendimento do educador, a segunda maneira é uma caminhada de integridade e santificação. “Se alguém diz que é crente, mas sua vida é pecaminosa, provavelmente não é salvo e não poderá ter a certeza da salvação, finaliza.”

O Rev. Alderi Souza de Matos, professor de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, esclarece: “Se alguém diz que é crente, mas sua vida é pecaminosa, provavelmente não é salvo e não poderá ter a certeza da salvação” Foto: Divulgação / Editora Ultimato

Na visão da Pra. Ivone Dias da Silveira, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), a incredulidade tem atrapalhado muitos cristãos de estarem convictos de sua redenção. “Não se sentem dignos dela, e o diabo se aproveita disso para fazê-los se sentirem cada vez mais indignos de participar da vida abundante, da salvação e da eternidade com Deus”, pondera a líder, que é coordenadora da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade) no Rio de Janeiro. Segundo ela, a salvação pode ser perdida, apesar do desejo do Senhor de que todos sejam resgatados. “No entanto, a Bíblia encoraja os cristãos a continuarem firmes na fé, na Palavra, sob pena de perderem a vida eterna”, salienta a pastora, citando Mateus 24.13: Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. 

A Pra. Ivone Dias da Silveira diz que muitos cristãos não se sentem dignos da salvação e, assim, o diabo se aproveita disso para fazê-los se sentirem cada vez mais indignos de participar da vida abundante com Deus Foto: Arquivo pessoal

2 Comments

  1. Marcos Antonio disse:

    Materia muito esclarecedora com diversos opinantes… Que DEUS possa abençoar a todos os envolvidos na materia e a todos da Revista.

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