Brasil
01/08/2022Família – 278
01/09/2022Papéis bem definidos
Assim como as igrejas, famílias precisam de uma liderança
Por Evandro Teixeira
O apóstolo Paulo, em sua primeira carta a Timóteo, fala sobre os deveres de bispos e diáconos, destacando a importância primordial de todo líder saber governar seu lar (1 Tm 3.2-5): Convém, pois, que o bispo […] governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?). No entanto, esse não é requisito apenas para os obreiros que se dedicam integralmente ao ministério, mas um exemplo que também deve ser seguido por todo servo de Deus.
Em artigo postado no portal cristão norte-americano Crosswalk, o escritor e advogado evangélico Chad Napier discorre sobre a importância de existir uma liderança espiritual no lar, reconhecida e respeitada, da mesma forma que há na igreja. Na avaliação do articulista, esse líder deve servir de exemplo e dar instruções que ajudem na caminhada espiritual dos demais membros da família. A Bíblia é taxativa ao afirmar que essa função de liderança na casa cabe ao homem, como Paulo enfatiza em Efésios 5.23: Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. Entretanto, na atualidade, quando as mulheres buscam protagonismo em tantas áreas, a liderança masculina pode não ser assim tão bem compreendida. [Leia, no final desta reportagem, o quadro intitulado Mensagem às famílias]
Contudo, para uma boa compreensão do assunto, a psicóloga Glauce Medeiros Cecílio da Costa, membro da Assembleia de Deus em Petrópolis (RJ), entende que o papel do homem e da mulher no lar devem ser bem definidos. Assim, embora a Bíblia afirme ser do homem o papel de liderança, ela destaca a importância da mulher como auxiliadora, conforme está registrado em Gênesis 2.18: E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele.
Segundo a especialista, a harmonia entre marido e mulher é necessária para que exista uma liderança masculina realmente eficaz. “Ninguém lidera sozinho. A dinâmica não é de superioridade e competição, e sim de diálogo e comunhão”, pontua Glauce da Costa. Ela descreve liderança como a capacidade de influenciar outros na execução de objetivos propostos. E, em sua opinião, para atingir esses alvos, o líder precisa ter as ferramentas certas para obter o resultado esperado, como uma boa comunicação. “Precisa entender as reais repercussões de suas ações e buscar se reformular quando se mostrar necessário.”
Papéis específicos – A teóloga e psicopedagoga Mirian Alves Maurício, da Assembleia de Deus em Marechal Hermes, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), reafirma que a função de cada membro da família deve ser estabelecida de acordo com a Palavra e deve seguir a orientação do Espírito Santo. Em seu ponto de vista, essa liderança, para ser operante e competente, precisa ser guiada pelo Senhor, tendo como base o amor e a sabedoria. “Sem imposição nem manipulação para obter o que se pretende. Esse é um dos erros cometidos por alguns pais quando assumem a responsabilidade de um lar.”
Segundo Mirian Maurício, a Igreja possui uma função pedagógica imprescindível e relevante no sentido de ajudar homens e mulheres a desempenhar seus papéis específicos em casa. “O conhecimento da Palavra de Deus também é indispensável no sentido de formar os líderes do lar”, destaca. A teóloga lembra que a Bíblia apresenta alertas, inclusive mostrando exemplos que não devem ser seguidos, como o do sacerdote Eli. A psicopedagoga recorda que ele honrava seus filhos demasiadamente (1 Sm 2.29), embora os dois demonstrassem não conhecer o Senhor (1 Sm 2.12), e, por isso, quando o sacerdote tentava discipliná-los, não tinha autoridade para tal (1 Sm 2. 23-25). E, assim, Deus decretou juízo contra Eli e sua casa (2 Sm 2.30-36; 3.12-14). “Como Igreja do Senhor, precisamos pregar e ensinar a Palavra de forma genuína a fim de produzir famílias edificadas.”
Pensamento semelhante tem a pedagoga Bruna Mathias, membro da Igreja Metodista Betel em Santa Cruz, zona oeste carioca. Para ela, o tema da autoridade deveria fazer parte da formação dos pastores. “Há certa omissão das igrejas sobre a importância dessa questão”, observa, assinalando que hoje, nos lares, há uma geração desafiadora que necessita de bons líderes. Segundo Bruna, os liderados de nosso tempo – ou seja, os filhos – tendem a ser mais questionadores, o que exige da liderança argumentos bem fundamentados acerca da verdade do Evangelho.
Mais fortalecidos – Ao longo de seu ministério, o Pr. Egberto Afonso da Silva Teixeira, 55 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), afirma que sempre encarou o desafio da liderança familiar com dedicação. E destaca que uma das formas que tem encontrado para fortalecer sua família na Palavra vem sendo a realização do culto devocional em casa. “Juntos, louvamos, adoramos e lemos a Palavra de Deus. Depois, peço que cada um expresse o que entendeu do texto bíblico e trago alguns esclarecimentos sobre o assunto”, explica o líder, assinalando que, como resultado, vê os filhos se fortalecerem na fé, renovarem-se na presença do Altíssimo e, dessa forma, adquirirem maturidade espiritual.
O Pr. Octávio Costa Flores, 38 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Timóteo (MG), pondera que, ao assumir o papel de líder, o esposo precisa adotar a mesma postura de Cristo com a Igreja. Citando o texto de Efésios 5.23, Flores destaca que o homem precisa estar atento às necessidades da família e deve zelar pelo bem-estar espiritual de todos os membros. Casado com a dona de casa Renata Martins Flores, 39 anos, e pai de Vinicius Martins Flores, 19, e Davi Martins Flores, 12, o pregador afirma que a sua casa é uma extensão de seu ministério pastoral. Por isso, todas as noites, a família se reúne para conversar e orar ao Senhor. “Procuro trazer reflexões sobre o estado do nosso coração e acerca dos nossos pensamentos, pedindo a Ele que seja sempre o centro de nossa vida. Além disso, oro com eles e faço referências às ministrações feitas nos cultos”, comenta o ministro, assinalando que tem visto os filhos sendo mais responsáveis com suas atitudes e preocupados em não desagradar a Deus.
Liderança da mulher – Contudo, uma liderança forte, estruturada, que tenha uma ajudadora idônea, não torna uma família livre de divergências. É o que observa a Pra. Eristélia Bernardo Martins da IIGD de Santa Rita, em Governador Valadares (MG). Por outro lado, em sua opinião, as possíveis divergências tornam ainda mais imprescindível a presença de um líder bem preparado que seja capaz de garantir o equilíbrio no lar.
Mas, mesmo entendendo que, segundo a Palavra, cabe ao homem assumir essa liderança, a ministra reconhece que, em alguns núcleos familiares, esse papel pode ficar a cargo da mulher. Ela lembra que, nos dias atuais, há muitas famílias que não contam com a presença masculina, como acontece nos casos em que a mãe é solteira ou viúva. “Essa mudança de gênero na liderança do lar não afetará essencialmente o resultado se essa responsabilidade for executada conforme a orientação bíblica”, observa.
Pensamento semelhante tem o Pr. Narciso Vaneli, líder regional da IIGD em Governador Valadares (MG). Segundo ele, a mulher também poderia exercer es-
sa liderança eventualmente, tal como descrito em
1 Coríntios 7.14 (Porque o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher descrente é santificada pelo marido. Doutra sorte, os vossos filhos seriam imundos; mas, agora, são santos). O líder lembra que, nesses casos em que o esposo não é cristão, a mulher deve buscar em Deus a conversão dele, mas, ao mesmo tempo, terá de assumir o protagonismo, em especial, na liderança espiritual da família. Segundo ele, quando se tratar de um marido omisso, a mulher, entendendo seu papel de auxiliadora, deve ajudá-lo a reconhecer a sua condição de líder. Para Vaneli, assumindo a sua responsabilidade, reconhecendo erros e fragilidades e crescendo na fé, o marido poderá resolver os problemas gerados pela omissão. “Uma liderança alicerçada na Palavra pode produzir grandes milagres”, conclui.
Mensagem às famílias
O livro Ministrando à sua família (Graça Editorial), o qual reúne uma série de sermões dos pastores norte-americanos Kenneth E. Hagin (1917-2003) e Kenneth Hagin Jr., aborda diversas questões essenciais para o fortalecimento do núcleo familiar cristão. De acordo com os autores, as famílias estão sob ataque constante de Satanás e do sistema mundano. Na obra, eles apresentam as armas espirituais necessárias para os líderes dos lares formarem ambientes cristãos espiritualmente estruturados.
Um capítulo do livro, intitulado O papel do pai cristão, trata da liderança masculina na família, indicando que, segundo a Palavra, o núcleo familiar deve vir em primeiro lugar, antes de todas as demais obrigações do homem de Deus, conforme
1 Timóteo 5.8: Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.
Os autores enfatizam também que a responsabilidade do marido excede o fornecimento de alimentos, roupas e abrigo para sua família. Segundo Hagin e Hagin Jr., Deus exige do cabeça do lar um comportamento exemplar: Lembre-se: seus filhos não aprendem apenas das palavras que você fala; aprendem, também, das suas ações e atitudes. E não poderão aprender das ações ou atitudes dos pais, se os pais ficarem ausentes do lar!
(Fonte: Graça Editorial)