Vida Cristã
01/02/2020
Capa | Debate
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Foto: Cathy Yeulet / 123RF

HORA DE CONVERSAR

Crises financeiras podem desgastar a relação a dois, mas é possível superar os problemas com sabedoria e diálogo

Por Patrícia Scott

A empresária Adriana Belini Costa, 37 anos, enfrentou um período de adversidade no casamento em razão de questões financeiras. Por ter feito um financiamento bancário, o orçamento doméstico virou de ponta-cabeça. As brigas eram recorrentes, por isso o marido, Denilson Costa, chegou a sair de casa. A separação do casal só agravou ainda mais a situação. Eles ficaram distantes por um ano. No entanto, em 2018, teve início um processo de restauração tanto financeira quanto matrimonial. “Quando entendemos que Deus está no controle, que todas as coisas acontecem no tempo dEle, tudo se fez novo em nossa vida”, afirma Adriana, membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) do Centro de Porto Velho (RO). O marido voltou para a família, e os desentendimentos acabaram.

Juntos, Adriana e Denilson aprenderam a administrar as finanças. Todos os gastos supérfluos foram cortados, e os dois fizeram detalhamento do orçamento familiar, mês a mês, criando uma ordem de prioridades para quitar as pendências. Eles também não deixaram de devolver o dízimo e dar ofertas. Além disso, passaram a orar constantemente, pedindo a provisão de Deus. “Sempre fomos atendidos e conseguimos os recursos antes mesmo do esperado. Mas o mais importante é que estamos felizes, porque o Senhor está no centro da nossa vida”, celebra Adriana Costa.

A empresária Adriana Belini Costa e o marido, Denilson, ao falar do processo de restauração financeira e matrimonial: “O mais importante é que estamos felizes, porque o Senhor está no centro da nossa vida”
Foto: Arquivo pessoal

A crise financeira tem o poder de impactar o casamento, relata a psicóloga Lívia Marques. Ela pondera que a vida conjugal é feita de várias ações, inclusive aquelas que dizem respeito a dinheiro. A profissional lembra que, quando as contas básicas são pagas, há alguma tranquilidade. Por outro lado, se existir escassez de recursos financeiros, a irritação e a ansiedade podem surgir. “A autoestima é afetada, porque a pessoa se considera improdutiva”, avalia Marques, aconselhando aos casais que, durante a crise, busquem meios de fortalecer o relacionamento. “Não abram mão dos momentos a dois. Se o dinheiro está curto, invistam na programação caseira.”

A psicóloga Lívia Marques dá um conselho importante para os casais: “Não abram mão dos momentos a dois. Se o dinheiro está curto, invistam na programação caseira”
Foto: Divulgação

Controle financeiro – De acordo com números do Banco Central (BC), divulgados em novembro, existem cerca de 5 milhões de cidadãos superendividados no Brasil. Eles representam 6% do universo de 83 milhões de brasileiros cuja renda está comprometida com o pagamento de algum tipo de empréstimo. O superendividamento sucede quando o indivíduo não tem mais condições de honrar seus compromissos mensais. Segundo o BC, essa situação é facilitada quando mais de uma modalidade de crédito é acumulada: empréstimos consignados, cartões de crédito e cheque especial.

Para Washington Mendes, analista comportamental e contador, é preciso tomar algumas providências para sair de uma crise financeira e evitar o endividamento extremo. Em primeiro lugar, a pessoa deve identificar as contas não pagas e priorizar aquelas cujos juros são maiores. Em seguida, entrar em contato com o credor e negociar uma forma de pagamento que não fique tão pesada. Por fim, é necessário dividir as demais dívidas em grupos ou em partes, segundo uma escala de importância, e ir pagando dentro de períodos pré-estabelecidos. Feito isso, será possível retomar a normalidade, aumentando a capacidade de crédito. “Controlar as receitas e as despesas é o pontapé crucial para que não mergulhem em dívidas novamente”, ensina ele, acrescentando a indicação do uso de planilhas financeiras para avaliação e acompanhamento dos gastos diários.

O analista comportamental e contador Washington Mendes aconselha: pagar contas com juros maiores deve ser a prioridade número um
Foto: Arquivo pessoal

O consultor financeiro Ricardo Moura Rocha faz coro com Mendes. Ele afirma que entender a raiz da crise financeira é a atitude primordial a fim de buscar a solução para sair do “vermelho”. “Depois, é interessante que se trace um plano de ação. Se a questão for excesso de gastos, por exemplo, deve-se decidir o que pode ser cortado ou diminuído.” O fundamental, para Rocha, é manter a tranquilidade. “O casal, estando em harmonia, decidirá o que fará para sanear as finanças”, frisa o consultor, recomendando ainda que o casal endividado junte uma reserva de emergência a fim de fazer frente a gastos inesperados ou perda de renda. “Para que isso ocorra, entretanto, o certo é gastar menos do que se ganha e ter algum tipo de poupança.”

O consultor financeiro Ricardo Moura Rocha: “É interessante que se trace um plano de ação. Se a questão for excesso de gastos, por exemplo, deve-se decidir o que pode ser cortado ou diminuído”
Foto: Arquivo pessoal

Organizar e poupar – Entretanto, uma sondagem feita pela Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL) mostrou que poupar é uma ação que a maioria dos brasileiros não está acostumada a efetuar. O levantamento expôs que 67% da população do país não consegue guardar ao menos uma pequena parte de seus rendimentos mensais. “Pouco se fala a respeito de finanças pessoais no ensino formal, e o resultado disso é uma população que gasta mais do que ganha, mesmo já estando endividada”, analisa Rebeca Toyama, especialista em Desenvolvimento Humano e Educação Financeira. Em contrapartida, ela aponta um grupo cuja consciência está mais desperta para uma organização melhor de suas finanças e a importância de economizar.

O segredo para romper o ciclo das dívidas, sugerem diversos especialistas, é rever os hábitos financeiros e ter disciplina. Estudiosos da área também opinam a respeito do assunto em questão. Eles destacam como fundamental, quando a família está com dificuldades financeiras, que haja um acordo mútuo, entre marido e mulher, em relação às medidas a serem tomadas para liquidar os débitos. “É importante que falem abertamente sobre dinheiro”, recomenda a advogada e educadora financeira Raffaela Fahel. Ela assinala, no entanto, que tal postura não significa perder a individualidade. “Os dois devem ter seu espaço, mas, também, precisam realizar uma gestão aberta dos bens comuns.”

A especialista Rebeca Toyama: “Pouco se fala a respeito de finanças pessoais no ensino formal, e o resultado disso é uma população que gasta mais do que ganha, mesmo já estando endividada”
Foto: Divulgação

A chamada “infidelidade financeira”, alerta Fahel, deve ser evitada. “Por exemplo, quando um dos cônjuges compra algo escondido do parceiro rompe o elo mais profundo do casal: a confiança”, ensina. A profissional ressalta que, se o casal está com dificuldades nas finanças, o primeiro passo a dar é impedir que o casamento seja destruído. Reunirem-se, de forma amistosa e conversarem acerca da vida a dois, lembrando os momentos bons e ruins, é essencial para os cônjuges, ressalta Raffaela. “Mais fortalecidos e alicerçados no amor que os uniu, decidirão os cortes de gastos”, sublinha. Ela lembra que, de comum acordo, é bom que discutam possíveis maneiras de obter uma renda extra para equilibrar o orçamento.


A advogada e educadora financeira Raffaela Fahel alerta: “Quando um dos cônjuges compra algo escondido do parceiro rompe o elo mais profundo do casal: a confiança”
Foto: Arquivo pessoal

Dízimos e ofertas – Independentemente de quem seja o administrador financeiro da casa, o patrimônio deve ser gerenciado segundo os princípios da Palavra de Deus. É o que aconselha a Pra. Marilza Lima, da IIGD em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). Ela destaca o texto de Provérbios 8.12, que adverte sobre a sabedoria e a prudência. “Sem elas, não é possível ter o equilíbrio para administrar nada”, argumenta a pastora, citando o exemplo de José, filho de Jacó: mesmo tendo sido vendido como escravo pelos irmãos, permaneceu fiel ao Senhor e, dirigido por Ele, prosperou. “Esse não é o único caso. Há vários relatos bíblicos de pessoas que prosperaram estando em condições adversas, aparentemente impossíveis.”

A Pra. Marilza Lima adverte, citando Provérbios 8.12, que, sem sabedoria e prudência, “não é possível ter o equilíbrio para administrar nada”
Foto: Arquivo pessoal

A líder ensina ainda que a fidelidade na devolução dos dízimos e na entrega de ofertas – obediência a uma ordenança dada por Deus – faz o Senhor cumprir o que está escrito em Malaquias 3.8-12, em que está registrado que Ele guarda as finanças do cristão. “Nessa passagem, o Altíssimo diz que, por causa da fidelidade dos dizimistas, repreenderá o devorador.”

Por sua vez, o Pr. Danilo Gomes Rogério, líder regional da IIGD de Ipatinga (MG), cita 1 Pedro 4.11: Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém! Para o pastor, é determinante o casal se arrepender de ter contraído as dívidas porque os débitos não honrados são uma demonstração de que não houve uma boa administração dos recursos financeiros enviados pelo Senhor. “A Bíblia diz que Ele supre as necessidades básicas do ser humano: beber, comer e vestir. Se isso não está acontecendo, há algo errado.” O pregador chama atenção para a hipótese de o casal não estar ouvindo a voz do Criador, pois o Senhor dá orientações claras tanto para manter as finanças saudáveis quanto para preservar um casamento feliz.

Pr. Danilo Gomes Rogério: “A Bíblia diz que Ele supre as necessidades básicas do ser humano: beber, comer e vestir. Se isso não está acontecendo, há algo errado”
Foto: Arquivo pessoal

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