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Foto: Marina / Adobe Stock

Problema crescente

A perseguição aos cristãos está aumentando na América Latina e em todo o mundo

Por Patrícia Scott

As Sagradas Escrituras revelam que, no início da formação da Igreja primitiva, os seguidores de Jesus sofreram diversos ataques devido à fé que professavam. O próprio Cristo já havia os alertado de que os dias deles na Terra seriam difíceis: E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar (Lc 12.11,12).

Estêvão se tornou o primeiro mártir do cristianismo. Após ter sido acusado de blasfêmia, foi levado perante o Sinédrio, a Suprema Corte de Israel naquele tempo. Falsas testemunhas depuseram contra ele, acusando-o de pregar contra a Lei mosaica (At 6.9-14). O jovem foi condenado à pena capital por apedrejamento (At 7.58). Saulo de Tarso, que se tornaria autor de mais da metade do Novo Testamento, era um aguerrido perseguidor da Igreja na época e foi cúmplice desse assassinato (At 8.1). Entretanto, após sua conversão, ele mesmo se tornou alvo de perseguição e, por isso, escreveu aos Coríntios: Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos (2 Co 4.8,9).

Marco Cruz, secretário-geral da organização Portas Abertas no Brasil, destaca a opressão muçulmana como uma das principais fontes de perseguição no mundo: “Ela acontece quando países, comunidades e famílias são forçadas a obedecer ao controle islâmico”
Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

As palavras do apóstolo Paulo [nome atribuído a Saulo após se converter] ecoam pelos séculos como um alento a todos os seguidores do Salvador que, até hoje, padecem por amor a Ele. Ao longo dos tempos, a perseguição tem acompanhado a história da Igreja; e, nos últimos anos, vem se intensificando em todo o mundo. Atualmente, estima-se que mais de 360 milhões de cristãos são perseguidose discriminados por crerem no Redentor.

A Lista Mundial da Perseguição (LMP) – ranking elaborado pela Missão Portas Abertas (MPA) que elenca os 50 países onde é mais perigoso professar a fé em Deus – tem reportado, ano após ano, o aumento da violência contra os crentes em Jesus. Na edição de 2023, a Coreia do Norte, nação asiática de 26 milhões de habitantes, ocupa o topo da lista, seguida dos países: Somália, Iêmen, Eritreia, Líbia, Nigéria, Paquistão, Irã, Afeganistão e Sudão. Nesses lugares, os cristãos são submetidos a torturas, prisões e muitos até morrem em razão da fé.

Pr. Luís Valter Costa Freitas, ao falar da perseguição existente no Nepal: “Há grande perseguição por parte das autoridades, as quais proíbem a propagação do Evangelho. E existe também a lei anticonversão”
Foto: Arquivo pessoal

O relatório da MPA lembra que há diversas fontes de perseguição no mundo, mas destaca a opressão muçulmana entre as principais. “Ela acontece quando países, comunidades e famílias são forçadas a obedecer ao controle islâmico”, pontua Marco Cruz, secretário-geral da organização Portas Abertas no Brasil. Segundo ele, atualmente, dos 50 países em que o cristão é mais perseguido, 34 estão sob domínio islâmico. Cruz ressalta que, em todo o mundo, um em cada sete servos do Senhor sofre de intolerância sistêmica, correndo risco diário de prisão, tortura, sequestro, casamento forçado (no caso de mulheres e meninas) e morte. É o que tem acontecido em várias regiões da Nigéria, nação de 231 milhões de habitantes situada na África Ocidental. De janeiro a outubro de 2022, mais de 4 mil cristãos perderam a vida no país, vítimas de ataques de jihadistas muçulmanos, segundo o relatório divulgado pela Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety). Outros 2,3 mil crentes foram sequestrados no mesmo período – em média, oito por dia – e 13 mortes foram registradas diariamente.

Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

Oração e proteção – Entretanto, a repressão pode partir do próprio governo, como acontece no Nepal, nação asiática de 31 milhões de habitantes. Situado entre a Índia e o Tibete, o país é conhecido pela Cordilheira do Himalaia e pelos grandes templos budistas. “Há grande perseguição por parte das autoridades, as quais proíbem a propagação do Evangelho. E existe também a lei anticonversão”, informa o Pr. Luís Valter Costa Freitas, da missão A Fé Vem Pelo Ouvir (FVPO). Para o ministro, há uma forte opressão cultural, e, por isso, pessoas comuns se encarregam de ameaçar e agredir missionários e cristãos, os quais resistem bravamente às adversidades. “São guerreiros e valentes. Estão contra tudo e todos com o objetivo de semear a Palavra de Deus.” Freitas conta ter recebido uma mensagem de um pastor do Nepal, o qual relatou ter sofrido uma agressão física no vilarejo em que acompanha duas famílias cristãs que têm acesso à Bíblia em áudio. “Ele pediu oração por proteção.”

Ilca Quirino, representante da organização missionária WEC Brasil – Missão AMEM, lamenta: “A perseguição aos cristãos existe desde que Jesus Cristo começou o Seu ministério”
Foto: Arquivo pessoal

A entrada de missionários estrangeiros nesses países também requer estratégia e muita intercessão. “Não é fácil conseguir vistos. Sem contar que poucos se dispõem a ir. Contudo, Deus é soberano sobre as nações!”, observa Ilca Quirino, representante da organização missionária WEC Brasil – Missão AMEM, cujo trabalho é justamente enviar pregadores às regiões menos alcançadas do planeta. “A perseguição aos cristãos existe desde que Jesus Cristo começou o Seu ministério”, lamenta Quirino.

De acordo com informações das agências missionárias, a opressão acontece principalmente em países de minoria cristã, como é o caso do Nepal e de outras regiões da Ásia e da África. No entanto, sabe-se que, mesmo em nações majoritariamente cristãs, há eventos de intolerância contra os servos do Senhor. É o que se registra, por exemplo, na Colômbia, um dos quatro países da América Latina que figura na Lista Mundial da Perseguição (LMP) realizada pelo Portas Abertas: O país é o 22º no ranking. Além dele, são elencados: Cuba (27º), México (38º) e Nicarágua (50º). “Os cristãos colombianos que vivem na zona de conflito entre as guerrilhas armadas e os narcotraficantes sofrem pressões de diversas maneiras”, pontua o Pr. Luiz Renato Maia, presidente da Missão em Apoio À Igreja Perseguida (MAIS). “O Evangelho muda o contexto do local, tira os jovens do tráfico, protege meninas e cuida das crianças, o que nunca será interessante para os que são inimigos da fé”, explica.

Pr. Luiz Renato Maia, presidente da Missão em Apoio À Igreja Perseguida (MAIS), comenta a situação da Colômbia hoje: “Os cristãos colombianos que vivem na zona de conflito entre as guerrilhas armadas e os narcotraficantes sofrem pressões de diversas maneiras”
Foto: Arquivo pessoal

“Situações adversas” – No México, a situação é parecida. Segundo a Missão Portas Abertas, enquanto eram coletados os dados da Lista Mundial da Perseguição 2023, o número de denúncias de violência contra cristãos no país batia recorde. Tais ações violentas partem, principalmente, de facções criminosas financiadas por grandes cartéis de drogas. Os cristãos que vivem nas regiões onde esses grupos dominam vivem ameaçados. Os líderes cristãos são particularmente vistos como ameaças ou desafios para a autoridade e a estabilidade das gangues, consta no relatório da MPA.

O Pr. Enrique Monzon, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no México, chama atenção para a responsabilidade das comunidades evangélicas: “São tempos difíceis e perigosos, mas a missão dada pelo Mestre deve ser cumprida”
Foto: Arquivo pessoal

Entretanto, a ameaça de grupos paramilitares não é a única fonte de risco em solo mexicano. Nas áreas rurais, quem se converte e abandona as religiões tradicionais pode sofrer agressões e multas, além de perder o acesso a serviços públicos ou ser forçado a deixar a comunidade onde vive. Por isso, o Pr. Enrique Monzon, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no México, chama atenção para a responsabilidade das comunidades evangélicas: ensinar o Evangelho, que é a única Verdade, como registra João 8.32: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. “São tempos difíceis e perigosos, mas a missão dada pelo Mestre deve ser cumprida.”

Assim, diante desse sistema opressivo, Monzon orienta os seguidores de Jesus a colocar em prática o ensinamento do Messias exposto em Mateus 5.44,45: Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.

O jornalista Dario Ferreira lembra: “Jesus orienta para que haja vigilância, reflexão e alegria. É como se fosse um certificado de autenticidade da fé. O cristão sofre perseguição porque sabota o sistema do mundo”
Foto: Arquivo pessoal

O tradutor Cristiano Barros, diretor de projetos da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM), acredita que a perseguição aos seguidores de Cristo se tornará ainda mais acirrada nos próximos anos e chegará a outros lugares. “No entanto, o que compete à Igreja é que todos os irmãos clamem ao Senhor para que os cristãos sejam fiéis à Palavra e proclamem o Evangelho mesmo em meio a situações adversas.” Barros defende que a perseguição aos crentes em Jesus tende a crescer, principalmente devido à ideologia vigente, que prega o amor, mas é totalmente intolerante àquilo que considera politicamente incorreto. Ele cita ainda uma passagem do evangelho de Mateus [24.9-12], a qual afirma que, nos últimos tempos, aumentariam a perseguição aos cristãos e o esfriamento espiritual.

O tradutor Cristiano Barros, diretor de projetos da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM), acredita que a perseguição aos seguidores de Cristo se tornará ainda mais acirrada nos próximos anos e chegará a outros lugares
Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, o jornalista Dario Ferreira, do Ceifeiros em Chamas, órgão de comunicação da Assembleia de Deus do Belém, em São Paulo (SP), considera que a perseguição funciona como um mecanismo que deve gerar fé no coração dos discípulos de Cristo. Citando Mateus 5.11,12 (Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós), Ferreira destaca as palavras do Senhor: “Jesus orienta para que haja vigilância, reflexão e alegria. É como se fosse um certificado de autenticidade da fé. O cristão sofre perseguição porque sabota o sistema do mundo”, conclui.

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