No final do século 19 e início dos anos de 1900, a Bíblia estava sob ataque: adeptos da teologia liberal colocavam em xeque a inspiração divina e a veracidade das Escrituras Sagradas. A teoria da evolução, do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), já amplamente disseminada nos círculos acadêmicos levantava-se ferozmente contra a ideia de um Deus Criador de todas as coisas, conforme descrito em Gênesis. É nesse cenário que o pregador batista norte-americano Louis Entzminger (1876-1958) surge como um ferrenho defensor e promotor da Palavra do Senhor, lançando mão principalmente da escola bíblica dominical para difundir o Livro Sagrado.

Nascido em uma fazenda no estado da Carolina do Sul, Entzminger foi desde cedo influenciado pelo pai, um pregador do Evangelho. Frequentou um colégio público e, ainda na infância, começou a trabalhar com extração de terebintina, resina produzida por algumas espécies de pinheiros e usada como solvente natural em conjunto com tintas a óleo. Aos 12 anos, converteu-se após participar de um culto ao ar livre.

Em 1901, aos 25, casou-se com a jovem Ada Violet Frier e se mudou para o estado da Flórida, onde continuou trabalhando com a extração de resina vegetal. Naquela época, decidido a defender e difundir a Palavra, montou a primeira escola bíblica dominical, a qual reunia uma centena de trabalhadores negros do campo em que trabalhava. 

Tempos depois, Entzminger deixou seu ofício para se dedicar, exclusivamente, a campanhas de implantação de escolas bíblicas dominicais em diversas igrejas. Sua fama na área cresceu tanto que, em 1909, tornou-se o primeiro secretário estadual de escola dominical da Convenção Batista da Flórida. Em 1912, mudou-se para o Kentucky, onde assumiu o mesmo cargo.

No ano seguinte, sentiu o chamado de Deus para assumir a função de superintendente de ensino bíblico da Primeira Igreja Batista de Fort Worth, no estado do Texas, a convite do pastor daquela congregação, J. Frank Norris (1877-1952), o qual tinha uma grande pretensão: formar a maior escola dominical do mundo. Entzminger aceitou o desafio.

Naqueles dias, com base em sua experiência, o pregador elaborou um plano de implementação e crescimento da escola dominical que contemplava sete tópicos essenciais: priorizar o aumento da frequência dos alunos, criar um sistema de registro de presença, realizar encontros semanais entre os professores, agendar visitas aos faltosos, a possíveis interessados no estudo bíblico e a não cristãos, criar e manter um espírito de cooperação altruísta entre os membros da equipe, fazer todo o plano ser compreendido e endossado pelos envolvidos e priorizar a evangelização dos perdidos. Seguindo essa fórmula, a escola bíblica dominical da Primeira Igreja Batista de Fort Worth começou a se expandir, chegando a 1.300 alunos, em 1917.

Acessível a todos – Entzminger passou, então, a difundir seu método de crescimento em campanhas país afora. Assim, em novembro de 1931, quando já era pastor – esteve à frente de diversas igrejas ao longo de sua vida­ –, organizou uma conferência voltada para o ensino das Sagradas Escrituras. A ideia era encorajar e treinar seus colegas de ministério pastoral a pregar com vigor e afinco a inerrância da Bíblia, opondo-se aos desafios apresentados pela teologia liberal. A convenção foi o embrião do Seminário Batista de Fort Worth, instituição existente até hoje e nomeada Faculdade Batista de Arlington, cidade vizinha a Fort Worth. Acredita-se que por lá tenham passado os fundadores de grandes escolas dominicais em todo o país e ao redor do mundo.

Há relatos de que Entzminger iniciava suas aulas no seminário, todas as manhãs, entoando uma canção que dizia: Sou feliz porque a salvação é gratuita / Sou feliz porque a salvação é gratuita / É gratuita para mim e para você/ Sou feliz porque a salvação é gratuita. A letra singela, quase infantil, era uma expressão genuína de seu principal objetivo: tornar a mensagem bíblica acessível a qualquer pessoa, de modo que todos pudessem compreendê-la, inclusive as crianças.

Louis Entzminger escreveu diversos livros e comentários bíblicos, com o propósito de ajudar os professores de escolas dominicais a transmitir o mais profundo e puro conteúdo do Livro Santo em sala de aula. O pregador publicou estudos sobre Gênesis, Êxodo, o evangelho de João, Atos dos Apóstolos, entre outros. As obras eram destinadas aos mestres de adultos e às crianças, pois também apresentavam lições para os pequenos.

O teólogo norte-americano W. B. Riley (1861-1947), um dos maiores nomes da teologia cristã da primeira metade do século 20, assim escreve na introdução de Estudos em Deuteronômio, publicado por Entzminger em 1934: Considero o Sr. Louis Entzminger como o maior nome da escola dominical no continente americano. […] Expresso aqui minha esperança de que ele dedique igual atenção, tempo e tratamento intelectual a toda a Bíblia. Caso cumpra a tarefa, terá estabelecido um empreendimento colossal, o qual trará a gratidão de milhares de professores de escola dominical e estudiosos.

Entzminger não conseguiu escrever sobre todos os livros da Sagrada Escritura antes que fosse promovido à glória celeste, em 24 de setembro de 1958, aos 82 anos. Todavia, inspirou muitos pastores e professores a amar a Palavra de Deus e o ensino de sua mensagem por meio da escola bíblica dominical. (*Élidi Miranda, com informações de Find A Grave))