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Pioneira nos púlpitos

Jarena Lee foi a primeira mulher negra a pregar o Evangelho publicamente nos Estados Unidos

Por Élidi Miranda*

Para a maioria dos cristãos da atualidade, ver uma mulher ocupar o púlpito de uma igreja não é motivo de surpresa. No entanto, na primeira metade do século 19, a pregação não era um ofício feminino. Apesar disso, havia anos que Jarena Lee (1783-1869) acalentava em seu coração o desejo de ministrar a Palavra. Ela sabia tratar-se de um chamado divino, o qual compartilhara com seus líderes na Igreja Episcopal Metodista Africana Monte Betel na Filadélfia (Pensilvânia), porém vinha recebendo sucessivas negativas.

Foi assim até certo domingo, quando o pregador escalado, Rev. Richard Williams, não conseguiu pronunciar nada do sermão que havia preparado. Em um rompante, Jarena saltou de seu lugar na congregação e assumiu o púlpito, dirigindo-se aos presentes com grande desenvoltura e autoridade. Durante a exortação, Deus fez Seu poder manifesto de forma suficiente a mostrar ao mundo que eu havia sido chamada para trabalhar de acordo com minha habilidade e com a graça que me fora concedida, registraria ela em sua autobiografia, publicada pela primeira vez em 1833. O fundador da Igreja Metodista Episcopal Africana, Bp. Richard Allen, estava naquele culto. Ele tinha conhecimento do desejo do coração de Jerena, mas se sentia receoso, até então, de entregar o púlpito a uma mulher. Contudo, aquele dia foi decisivo para que mudasse de opinião.

Igreja Episcopal Metodista Africana Monte Betel na Filadélfia (Pensilvânia), congregação frequentada por Jarena Lee onde ela pregou no púlpito pela primeira vez Foto: Wikimedia

Sentindo-se compelido pelo Espírito Santo a tomar uma atitude, Allen autorizou Jarena Lee a ministrar nas casas e, mais tarde, na denominação, transformando-a, assim, na primeira mulher negra a pregar o Evangelho publicamente nos Estados Unidos. O talento de Jarena como preletora se tornou notório em outras partes do país, e ela passou a receber convites para ir a igrejas batistas, presbiterianas, wesleyanas e outras, dirigindo-se a plateias multirraciais – um feito e tanto em uma época em que a escravidão ainda não fora abolida nos EUA (o que só ocorreria em 1863).

Pregue o Evangelho – No momento em que iniciou seu ministério itinerante, Jarena Lee era viúva e tinha dois filhos. Embora tenha nascido livre, fora criada longe dos pais. Desde muito pequena, havia sido obrigada a trabalhar como empregada doméstica em uma cidade distante de onde morava. Foi alfabetizada, entretanto não teve oportunidade de frequentar escolas. Sou reconhecidamente uma pessoa autodidata, escreveu.

Em sua biografia, Jarena conta detalhes de sua conversão. Relata que, antes de se entregar a Cristo, sentia a opressão de Satanás e, por diversas vezes, pensou em suicídio. Ela compreendeu o Evangelho transformador de Jesus na Igreja Monte Betel. Alguns anos depois de sua conversão, a serva fiel relata que estava em oração quando uma espécie de silêncio caiu sobre si. Fiquei ali parada […]. Para a minha total surpresa, uma voz soou, e eu a ouvi claramente, dizendo: Vá e pregue o Evangelho. Imediatamente, repliquei em voz alta: Ninguém acreditará em mim. Novamente, ouvia a mesma voz dizer: Pregue o Evangelho; Eu porei as palavras em sua boca e farei com que seus inimigos se tornem seus amigos.

Jarena Lee (1783-1869) viveu no período em que os historiadores chamam de Segundo Grande Avivamento dos EUA, e seu ministério itinerante foi marcado por sinais inegáveis da ação do Espírito Santo Foto: Reprodução

Jarena viveu durante o período em que os historiadores chamam de Segundo Grande Avivamento dos EUA (1790-1840), e seu ministério, que durou cerca de duas décadas, foi marcado por sinais inegáveis da ação do Espírito Santo. E ela só parou de pregar e viajar por motivo de saúde.

A data de sua morte não é precisa, porém acredita-se que tenha sido em 1849, pouco tempo depois de fazer uma revisão da autobiografia publicada 16 anos antes. O livro é a única fonte histórica disponível sobre a sua trajetória na Terra. Devido à sua condição racial desprivilegiada na época, se ela não tivesse escrito e publicado a obra, sua vida e seu ministério teriam caído em total esquecimento. (*Com informações de Christianity Today e Jstor Daily)


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