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Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

Fé sob risco

Correspondente internacional da Missão Portas Abertas revela a realidade da Igreja Perseguida no Oriente Médio e no Norte da África

Por Patrícia Scott

A perseguição aos cristãos é uma realidade permanente em vários países. Em algumas nações, se alguém for visto lendo a Bíblia, poderá ser preso, torturado e até morto. É nesse contexto arriscado que atua a correspondente internacional da Missão Portas Abertas, Leyla Samar (nome fictício, por questões de segurança), de 44 anos. A função dela é fazer contato com esses cristãos, apurar informações e trazê-las para a esfera pública, a fim de conscientizar a Igreja Ocidental acerca das necessidades dos crentes em situação de perseguição.

A agência missionária trabalha com as igrejas locais, socorrendo os cristãos em suas necessidades físicas, psicológicas e espirituais. “A oração é o primeiro pedido de quem passa por isso”, informa Samar, que esteve no Brasil no final de 2023. Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, a correspondente detalha os desafios enfrentados pelos servos de Jesus, especialmente no Oriente Médio e no Norte da África, onde o islamismo representa a principal força contrária à fé cristã. “Dos 50 países da Lista Mundial da Perseguição, 30 têm como fonte de perseguição a opressão islâmica”, informa. 

Estatísticas recentes mostram o crescimento mundial do islamismo. O que explica esse avanço?

Em todos os países, o islamismo tem crescido mais por causa do número de nascimento de crianças nas famílias que professam essa fé. Além disso, o muçulmano é proibido de mudar de religião. Se o fizer, poderá perder os vínculos familiares e sociais, suas raízes e sua identidade. Assim, é muito difícil o evangelismo em Estados em que o islamismo é a religião totalitária. A imposição da Sharia [conjunto de leis religiosas baseadas nos livros sagrados do islã, particularmente o Corão e o Hadith] e do islamismo radical, que têm estabelecido califados [áreas governadas por pessoas consideradas herdeiras diretas do profeta Maomé], complicam ainda mais a propagação do Evangelho e a permanência de ex-muçulmanos convertidos a Cristo nesses locais.

Quais os principais desafios da Igreja no Oriente Médio?

Diversos lugares – cidades e até países inteiros – são absolutamente muçulmanos e governados pela Sharia, como os Emirados Árabes, a Arábia Saudita, a Turquia e o Irã. Nesses espaços, é proibido se declarar cristão e falar de Jesus. Os convertidos ao Evangelho vivem secretamente. Muitas vezes, nem as próprias famílias deles sabem de sua fé. Se descobertos, eles perdem o emprego e são expulsos de casa ou da comunidade. Mulheres convertidas ao cristianismo são rejeitadas, ficam vulneráveis e podem perder a guarda dos filhos. No Iraque e na Síria, onde existem conflitos internos, os cristãos são severamente perseguidos pelo Estado, pelas autoridades, por grupos terroristas, por suas comunidades e por suas famílias.

E no Norte da África?

O mesmo se aplica nessa área. No Marrocos, na Mauritânia e no Egito, o cristianismo é aceito para estrangeiros, mas a pregação do Evangelho aos moradores locais e a conversão de nativos são consideradas crimes. Com frequência, há intolerância da comunidade e da família, o que pode acarretar castigos, obrigando o salvo em Cristo a renunciar à nova fé.

Nos países em que a presença cristã se manteve ao longo dos anos com as igrejas históricas, os cristãos são tratados como cidadãos de segunda classe. Eles são marginalizados e só são “respeitados” se não compartilharem o Evangelho com muçulmanos nem exigirem direitos iguais. Em nações como a Argélia, há perseguição do Estado às igrejas locais, com leis que exigem que essas instituições sejam registradas pelo governo. No entanto, nenhum registro foi concedido desde a criação dessa legislação. Esse mesmo controle não é aplicado às instâncias islâmicas. A ação de radicais muçulmanos é comum. Os ataques podem ser contra indivíduos ou comunidades inteiras, principalmente em datas de celebração ocidentais, como a Páscoa e o Natal.

A propagação do Evangelho aumenta nessas regiões?

Apesar da perseguição, o Evangelho está crescendo de modo orgânico e natural. É comum a Palavra ser propagada onde há um cristão ou um grupo de cristãos. O cristão local deve ser cuidado, apoiado, consolado, discipulado e treinado, para que se torne um líder e propagador da fé. Nós o fortalecemos, para que fique no país enquanto for seguro. 

Qual foi o momento mais difícil que a senhora enfrentou em suas viagens aos cenários de perseguição religiosa?

Quando fomos à Síria após os terremotos [ocorridos em fevereiro de 2023]. O lugar estava devastado, e os cristãos enfrentavam os mesmos desafios do restante da população, mas com uma vulnerabilidade maior, por já serem perseguidos devido à fé. Lá, fez-se necessária uma força-tarefa. Mesmo antes dos terremotos, a Igreja na Síria, com apoio de Portas Abertas, havia criado os Centros de Esperança, que prestavam apoio aos cristãos sírios durante a guerra e a invasão do Estado Islâmico. São instituições que servem à comunidade em várias frentes: ajuda emergencial, comida, abrigo, remédios e apoio psicológico e espiritual, além de programas para jovens, com treinamento bíblico e discipulado, e ações educacionais (reforço escolar, aulas de inglês e cursos profissionalizantes).

Como você avalia o futuro da obra missionária nos lugares onde existe perseguição?

De acordo com a Bíblia, o cristão que vive em santidade e comunhão será perseguido [2 Tm 3.12]. A propagação do Evangelho cresce à medida que a perseguição se intensifica. A resiliência do cristão perseguido vem da oração e da ajuda dos irmãos das igrejas livres, como a Brasileira. Isso o faz crescer e perseverar apesar das adversidades. Enquanto houver um servo do Senhor em países hostis ao Evangelho, a Palavra será propagada ali.

Qual é a relevância do acesso à Bíblia para o avanço do Evangelho nessas áreas em que há violação à liberdade de culto?

A Missão Portas Abertas nasceu da necessidade de levar as Escrituras Sagradas para países em que ter ou carregar um de seus exemplares levaria à prisão ou morte. O irmão André [1928-2022], fundador da instituição, iniciou o projeto com o contrabando de Bíblia para a Cortina de Ferro [antiga União Soviética]. O Evangelho estará onde houver um cristão lendo a Palavra, seguindo os passos de Jesus e sendo fortalecido pelo Altíssimo.

Leyla Samar
Correspondente internacional da Missão Portas Abertas

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