Entrevista – 293
22/12/2023
Vida Cristã
30/01/2024
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Foto: Arquivo pessoal

Influência significativa

Neurocientista destaca, à luz da ciência e da Bíblia, o poder das palavras sobre o pensamento, o comportamento e o corpo humano

Por Patrícia Scott

A linguagem faz parte da essência humana. Entretanto, de acordo com a Bíblia, o que sai da boca – ou mesmo o que permanece apenas no nível dos pensamentos – tem poder de gerar vida ou morte (Pv 18.21). As palavras podem não só ferir, traumatizar e destruir, mas também animar, motivar e melhorar o dia de uma pessoa. “Isso porque elas moldam as crenças, desencadeiam emoções e influenciam o comportamento”, explica a neurocientista Sibeli Arsenio, 56 anos, membro da Igreja Metodista
Wesleyana em Itaquera, zona leste de São Paulo (SP).

A especialista lembra também a existência de estudos que demonstram a influência da língua sobre o corpo por meio de vários mecanismos. “Por exemplo: o sistema imunológico é responsável por nos proteger de infecções, mas o estresse causado pelas palavras negativas pode enfraquecê-lo, enquanto as positivas tendem a fortalecê-lo”, informa Arsenio, pontuando que a fé é muito importante, porque tem o poder de promover o pensamento positivo. Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, Sibeli destaca a influência das palavras a partir do que diz a ciência e a Bíblia.

Qual é a diferença entre pensamento positivo e fé?

Isoladamente, o pensamento positivo não faz acontecer. Ele pode gerar algumas mudanças na forma de pensar, produzir bons sentimentos e autoconfiança, bem como afastar o pessimismo. No entanto, deve estar associado a ações. Por outro lado, sabemos que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem (Hb 11.1). Ela propicia ações e não está fundamentada em sentimentos. A fé não duvida da Bíblia, mas nos leva a crer em algo maior do que nós mesmos. O pensamento positivo e a fé parecem estar interligados, mas não são a mesma coisa. No pensamento positivo, a pessoa acredita ser possível alcançar algo usando a positividade; na fé, essa certeza se dá pela comunhão com Deus.

O pensamento tem poder de fato?

Depende. Se for um pensamento ruim, mas casual, que passa pela mente, porém não é “alimentado”, tudo bem. Por outro lado, pensar demais pode intoxicar o cérebro e causar fadiga mental. Além disso, é preciso cuidado com os pensamentos a respeito de si mesmo. Por exemplo: não se considerar suficientemente bom, sentir-se inferior aos outros. Isso atingirá a autoestima e influenciará o comportamento, levando a sentimentos desagradáveis. Da mesma maneira, pensamentos constantes sobre erros ou mágoas do passado tendem a levar à ruminação mental, aumentando a probabilidade de transtornos, como depressão ou ansiedade patológica. O texto de Provérbios 4.23 diz: Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos (NTLH).

Como nutrir bons pensamentos?

Comece a ser grato todos os dias, inclusive pelas pequenas coisas, como ter um amigo. Quando algo desagradável invadir a sua mente, tire o foco dele. Traga à memória uma lembrança boa ou converse com alguém sobre outro assunto. A Bíblia orienta a respeito disso: Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4.8). E ainda: Quero trazer à memória o que me pode dar esperança (Lm 3.21– ARA).

Como os pensamentos se processam na mente humana?

O pensamento é uma representação mental de informações. Ele tem uma base física – a comunicação entre os neurônios por meio de sinapses elétricas ou químicas – e outra simbólica, formada pelas informações recebidas de forma externa ou interna. Os pensamentos podem influenciar os comportamentos, as emoções e a percepção da realidade. Grande parte das nossas concepções ocorre a partir da linguagem – falamos dentro da nossa cabeça. Então, quanto mais a linguagem é aperfeiçoada, mais aperfeiçoado é o pensamento.

Por que os pensamentos agem diretamente nas emoções?

Eles são construções mentais interpretadas pelo cérebro como se realmente estivessem acontecendo. Por exemplo, quando ouço o barulho familiar de alguém mexendo na porta, estando sozinha, posso experimentar uma resposta emocional de medo e ter os batimentos cardíacos acelerados. Os pensamentos também podem influenciar de forma indireta. Quando alguém se considera incapaz de fazer algo, ele pode evitar ou desistir da situação, ou ficar extremamente ansioso e experimentar um sentimento de inferioridade. Isso acontece porque os pensamentos e as emoções estão interligadas no cérebro.

As palavras têm poder?

Sim, porque são capazes de criar significado e construir uma realidade na mente. Podem ser uma força poderosa para o bem ou para o mal. Elas são capazes de influenciar os pensamentos, as emoções, o comportamento e os relacionamentos. São poderosas, mas não onipotentes. Há sempre a escolha de reação ao que ouvimos. Na vida de uma criança, podem ser construtivas ou destrutivas. Se ela sempre ouvir dos pais que não é boa no que faz e que não será nada no futuro, talvez se torne um adulto inseguro. Porém, se for incentivada com palavras de afirmação, provavelmente será uma pessoa segura e mais
equilibrada emocionalmente.

Como as palavras positivas atuam na mente?

Elas fazem o cérebro liberar dopamina e serotonina, neurotransmissores que proporcionam sentimentos de bem-estar. Além disso, palavras positivas influenciam os pensamentos, as emoções e os comportamentos, motivando o indivíduo a alcançar seus objetivos. Os pensamentos são mais seguros e podem levar a comportamentos mais construtivos e confiantes.

E as palavras negativas?

Tendem a desmotivar, gerando um reflexo profundo na vida e na saúde mental. Estudos mostram que o impacto delas pode gerar ansiedade, depressão e até mesmo problemas cardíacos. Guarda a tua língua do mal, diz o Salmo 34.13.

Qual é a importância da comunicação nas conexões interpessoais?

É fundamental, pois permite expressar sentimentos e necessidades; além disso, ajuda a construir laços saudáveis e duradouros. Não é realizada apenas por palavras, mas também pela comunicação não verbal, como a linguagem corporal e a expressão facial. A comunicação é essencial para construir confiança, resolver conflitos e fortalecer vínculos. Não é fácil se comunicar de maneira assertiva. É necessário disposição dos interlocutores para ouvir sem julgamentos, a fim de que ocorra maior compreensão do que o outro quer transmitir. Não ouça pensando no que responderá; apenas tente compreender o ponto de vista alheio. Depois, você poderá falar com mais empatia.

Sibeli Arsenio
Neurocientista

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