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Entrevista – 267

Revista Show da Fe / Tragédia no Japão / Rev. Ageu Cirilo de Magalhães , diretor do seminário presbiteriano JMC. Acredita que os eventos no Japão não correspondem ao "fim dos tempos” / Fotos: Fernando Oliveira/Repórter: Marcelo Santos/Data: 18-03-2011/Local: R. Pascal - Campo Belo - SP - Brasil

Foto: Arquivo Graça – Tele Fotos / Fernando Oliveira

“Médico de almas”

Diretor de seminário destaca o estudo aprofundado das Escrituras Sagradas como elemento obrigatório na formação pastoral

Por Patrícia Scott

Os evangélicos representam hoje pouco mais de 31% da população brasileira, segundo estimativas do instituto de pesquisas Datafolha. Em números absolutos, somariam mais de 66 milhões de pessoas. Em 2010, eles perfaziam 22,2% – algo em torno de 42 milhões – de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que o “rebanho” tem crescido ano após ano, fazendo-se bastante necessária a formação de novos pastores que conduzam ao aprisco as ovelhas de Jesus.

Na visão do Rev. Ageu Cirilo de Magalhães Júnior, 49 anos, a preparação pastoral deve passar necessariamente pelo aprendizado da Teologia Cristã (área do conhecimento que estuda a revelação divina por meio do Livro Santo). Diretor do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, em São Paulo (SP), ele defende que o ensino teológico é uma ferramenta da qual o líder não deve abrir mão. “É importante para alguém que deseja ser médico fazer uma faculdade de Medicina? Ninguém diria que não. O pastor é o médico que lida com a alma das pessoas: precisa estar bem preparado”, argumenta.

Ageu Magalhães Júnior lembra que a Igreja primitiva não era perfeita, mas é exemplo para a atual, pois mantinha seu foco em quatro aspectos centrais: doutrina, comunhão, partir do pão e oração. “Doutrina significa ensino da Palavra, e, para isso, o pastor precisa possuir profundo conhecimento bíblico e teológico”, frisa ele, destacando que, geralmente, a igreja é um reflexo de sua liderança. “Se é dedicado às coisas de Deus, sério no estudo da Palavra do Senhor e piedoso na vida, a tendência é a igreja se espelhar nele”, opina Ageu, que está à frente da Igreja Presbiteriana de Vila Guarani, na zona sul paulistana.

Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, ele fala sobre os desafios do ministério da Palavra e da formação de novos pastores na atualidade.

Quais devem ser as bases fundamentais da preparação pastoral?

O pastor que esteja realmente disposto a ensinar a Bíblia ao seu povo, com autoridade e profundidade, deve fazer um curso sério de Teologia. Nele, ele terá uma boa carga horária de Filosofia para entender esse “século”, no sentido usado por Paulo em Romanos 12.2. Ou seja: perceber como o pensamento atual chegou a essa configuração. Também o futuro pastor deve estudar as línguas originais do Texto Sagrado – o hebraico e o grego – e ter mais tempos de Teologia Sistemática para aprofundar-se nas verdades bíblicas e suas doutrinas. Disciplinas que igualmente o ajudarão são História da Igreja, Hermenêutica Bíblica, Homilética, Língua Portuguesa e Aconselhamento. Enfim, todo o curso de um seminário teológico visa preparar o futuro ministro do Evangelho para ele ter condições de pregar a Palavra tanto às pessoas mais simples da igreja, quanto aos mais instruídos.

Em sua opinião, quais são os maiores desafios da preparação pastoral?

Aquele que se prepara terá de estudar muito, além de cuidar da família, do seu trabalho e, muitas vezes, de uma igreja. O grande desafio é ter tempo para lidar com todas essas questões sem se descuidar da vida devocional. A leitura diária da Bíblia aliada a uma vida de oração são elementos obrigatórios na formação do pastor.

Atualmente, quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos pastores na condução do rebanho?

Creio que são o mundanismo e o secularismo. Cada vez mais os cristãos tendem a pensar e agir da mesma forma que os ímpios. Eles se esquecem de que o servo de Deus deve ser, pensar, falar e agir de maneira diferenciada. Somos discípulos de Cristo, sal e luz. Jesus disse: Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens [Mt 5.13]. Os cristãos têm de se conscientizar de que, embora estejam neste mundo, não pertencem a ele.

De que forma o líder consegue combater o relativismo dentro da igreja?

Trata-se de um mal da nossa geração. O remédio é a Palavra de Deus, com sua verdade eterna. À medida que ela é pregada, e os membros da Igreja creem nela, todo o relativismo cai por terra.

Como o cristão pode identificar se tem um chamado pastoral?

Charles Spurgeon [1834-1892], pastor batista inglês, dizia ser necessário existir o testemunho interno e o testemunho externo. Testemunho interno é um desejo tão forte pelo ministério pastoral que nenhuma outra ocupação ou profissão pode superá-lo. Testemunho externo tem a ver com as pessoas ao redor dizendo e confirmando que tal homem deveria ser pastor, pois este tem os dons necessários.

Que características essenciais são necessárias para o desenvolvimento do ministério pastoral?

Na carta que escreveu a Timóteo, Paulo orienta que ele deve ser irrepreensível, isto é, ter uma vida correta (ser honesto, bom pagador, cumpridor de seus deveres), marido de uma só mulher, ter domínio próprio, não ser vaidoso, ser hospitaleiro, capaz de ensinar a outros, não ser viciado em vinho, ser calmo, não briguento, não avarento, e que governe bem a sua própria família, criando os filhos nos caminhos do Senhor. Ele não pode ser novo na fé e deve ser visto por todos como alguém que deveria ser pastor [1 Tm 3.1-7].

O pastor também precisa ser pastoreado?

Jesus é o nosso Supremo Pastor, segundo 1 Pedro 5.4 (ARA). Quando o pregador está cansado e sobrecarregado, é para Ele que deve correr. Todavia, esposa e amigos confiáveis são bênçãos de Deus em nossa vida para nos corrigir e animar.

Qual é a essência do ministério pastoral?

É amar Jesus. Tudo o que fazemos deve ser em amor a Ele. Pedro foi restaurado ao ministério com as seguintes palavras de Cristo: Apascenta os meus cordeiros. Porém, antes, veio uma pergunta: “Pedro, tu me amas?” [Jo 21.15]. Não há como apascentar as ovelhas de Jesus se não O amarmos de todo o nosso coração.

Ageu Cirilo de Magalhães Júnior
Pastor e diretor do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, em São Paulo (SP)

10 Comments

  1. Muito bom estes testemunho

  2. Willians Viana disse:

    Muito boa a entrevista.

  3. Ludgero Bonilha Morais disse:

    Precioso o conteúdo deste entrevista. Responde perfeitamente o preceito confessional exarado no Catecismo Maior na resposta da pergunta 158.

    Parabéns Rev Ageu por sua coerência confessional .

  4. Ricardo disse:

    As reflexões do Rev. Ageu são sempre fonte de edificação espiritual.

  5. Welerson Duarte disse:

    Uma pena que os princípios expostos pelo Rev Ageu deixem de ser observados por alguns que desejam o ministério pastoral. Basta ver a quantidade de cursos rasos oferecidos diariamente nas redes sociais.

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