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Pesquisadora fala sobre a ligação entre a fé cristã e as neurociências
Por Patrícia Scott
Referência cristã no campo das neurociências, Rosana Alves, 42 anos, é graduada em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e possui três pós-doutorados, um deles em Neurofarmacologia Molecular pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2013, ela reside nos Estados Unidos, onde fundou o Eurogenesis Institute, que presta serviços a empresas e pessoas, oferecendo soluções com base nas neurociências, área do saber que estuda o sistema nervoso e suas implicações no funcionamento do organismo como um todo.
Com mais de 20 anos de experiência profissional, a pesquisadora possui mais de 70 artigos científicos publicados e já orientou 300 trabalhos acadêmicos. Autora do livro A Neurociência da felicidade, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, ela discorre acerca da relação entre a fé e seus estudos científicos.
Como se deu seu ingresso no universo da ciência?
Fui uma criança bastante curiosa. Queria saber o que acontece dentro do corpo humano e pensava, por exemplo: Como pode a cenoura que comi ficar tão pequena e chegar à minha vista para eu enxergar melhor? Sempre gostei de estudar e, quando fui para a graduação, encontrei uma professora que era neurocientista. Assim, descobri o caminho que desejava seguir. Trabalhei com ela no laboratório e recebi o convite para tomar parte no projeto de mapeamento cerebral da ansiedade.
Já enfrentou algum preconceito por causa de sua fé?
Tive o privilégio de iniciar nas neurociências sendo orientada por uma professora também cristã. O posicionamento público dela, em defesa de sua fé, levou-me a admirá-la no mesmo instante em que a conheci. Iniciar a trajetória científica ao lado de alguém que crê em Deus me trouxe segurança e amparo. Várias vezes, fui desafiada e rechaçada publicamente por acreditar na Bíblia. Já tive de escolher entre me manter firme em minhas convicções ou ceder à pressão. Ser honesta com aquilo em que acredito está acima de qualquer benefício profissional que eu possa ter.
A ciência pode caminhar ao lado da fé?
Sim. A ciência é um campo complexo de investigação, bem como a religião cristã. Ambas buscam dar mais sentido à existência humana e explicar certos fenômenos. Para nós, cristãos, Deus criou todas as coisas. Então, fica mais fácil encontrar respostas para determinadas perguntas. É confortável pensar que as maravilhas existentes no mundo foram feitas por Ele.
Em suas palestras nas igrejas, a senhora defende que entender a ciência aproxima o cristão de Deus. Por quê?
O texto de João 8.32 evidencia: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se alguém está em privação de sono, por exemplo, poderá ter experiências esotéricas, mas elas não serão um contato com o Senhor. O conhecimento científico é oportuno para termos uma vida cristã mais plena, com mais sentido e respeito ao organismo que o Altíssimo formou com tanta complexidade.
De que maneira as neurociências podem contribuir para a fé cristã?
Diversos estudos estão ligados à religião e à espiritualidade, como aqueles que demonstram os benefícios da oração, da religiosidade, da espiritualidade para o cérebro e para as relações humanas. Quando descobrimos mais sobre a mente, como somos afetados positiva ou negativamente pelos pensamentos, estamos contribuindo para melhorar a qualidade de vida das pessoas. A base do cristianismo é reconhecer que Deus nos criou. O Senhor também tem interesse na nossa saúde física e emocional, assim como as neurociências. Elas não falam sobre o Criador, no entanto mostram a existência dEle quando evidenciam a perfeição com que o cérebro funciona ou a complexidade de um neurônio. Somente o Altíssimo poderia elaborar tudo isso.
É possível utilizar a ciência como ferramenta de evangelização?
A ciência tem se curvado diante da existência de Deus. Ele disse: Haja luz. E houve luz [Gn 1.3b]. Tudo foi existindo pelo poder da voz do Senhor. Sendo assim, a menor partícula do Universo teria de ser uma vibração sonora. Então, toda criação tem a marca dAquele que a fez existir. Esse é um bom argumento para usarmos na pregação do Evangelho e falarmos do amor do Pai celeste às pessoas.
A senhora escreveu um livro cujo tema é a felicidade. Afinal, o que é ser feliz?
É gostar de viver. Podemos ter estratégias para alcançar esse sentimento. Cuidar dos relacionamentos, da saúde física, mental e espiritual, enfrentar as circunstâncias com otimismo, saber pedir ajuda e encarar os desafios são algumas delas. A tristeza, por sua vez, tem o seu lugar e faz parte do processo. Só há reconhecimento da felicidade se ela for comparada com a tristeza. Também não podemos pensar na felicidade de maneira utópica, como em um mundo ideal: ela deve ser construída no dia a dia, gerando em nós a estima pela vida.
Rosana Alves
Neurocientista e psicóloga