Preocupação demasiada

Ansiedade é um mal na vida de muitos brasileiros, mas a Palavra oferece conforto àqueles que buscam nela alívio para seus temores

Por Patrícia Scott

A ansiedade é uma reação normal diante de situações que provocam temor, dúvida ou expectativa. Especialistas também a definem como excesso de medo ou insegurança quanto ao futuro, o que impede o indivíduo de viver o presente. O filósofo cristão dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) acreditava que esse sentimento era o melhor professor do ser humano, uma vez que podia ajudar o homem a desenvolver autoforça, termo conhecido atualmente como resiliência emocional, que orienta o indivíduo em direção à maturidade. Mesmo reconhecendo a ansiedade como algo desagradável, Kierkegaard a enxergava como uma experiência poderosa que, ao ser usada de maneira positiva, como guia para uma melhor tomada de decisões, permitiria o crescimento e desenvolvimento do ser humano.

Contudo, quando ela é recorrente prejudica o bem-estar físico e mental e pode se tornar um transtorno, uma doença. De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo inteiro: 19,4 milhões de habitantes (o correspondente a 9,3% da população). Esse cenário advém de fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.

A vendedora Maria Aparecida de Paiva Freitas, 47 anos, sabe bem o que é sofrer de ansiedade patológica. “Era uma agonia ficar dentro de casa. Às vezes, de madrugada, acordava apavorada e pedia ao meu marido que me levasse à rua de carro. Ficávamos horas rodando pela cidade até eu ficar calma”, revela. As alterações, segundo ela, eram motivadas pelo medo de morrer e pela preocupação de deixar o filho de 12 anos.

Certo dia, durante uma crise, Maria Aparecida ligou a televisão e sintonizou no programa Show da Fé. “As palavras do Missionário R. R. Soares me fizeram refletir. Fui buscar socorro espiritual na Igreja da Graça. Depois, participei de uma campanha de libertação e aceitei Jesus como Senhor e Salvador”, testemunha ela, que congrega na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Caratinga (MG). O resultado, disse ela, não poderia ter sido outro: “As crises passaram. A ansiedade acabou. Abandonei os medicamentos faz dois anos”.

A psicóloga Solange Sátiro de Sousa explica que há vários tipos de transtornos de ansiedade, sendo os mais comuns o generalizado e o social. O primeiro seria o caso de Maria Aparecida, relatado anteriormente, quando o indivíduo apresenta um quadro com sintomas, como preocupação diária excessiva, ideias distorcidas sobre si e o mundo, insônia, falta de concentração, alteração no apetite, mudanças no humor e angústia profunda. “Geralmente, a pessoa sofreu determinada violência física ou psicológica que lhe causou traumas.” Por sua vez, a ansiedade social é caracterizada pela timidez exagerada. “Essas pessoas sentem medo demasiado de serem julgadas, criticadas, avaliadas. Muitas vezes, são tidas como arrogantes, estranhas, justamente porque não conseguem se relacionar.”

A especialista frisa que a psicoterapia é fundamental para lidar com o problema, a partir do autoconhecimento. “Além disso, o paciente aprenderá técnicas, como exercícios de respiração, que o ajudarão nos momentos de crise”, completa.

“Controle da ansiedade” – A psicóloga Vânia Aparecida Neivas aponta que uma predisposição genética pode contribuir para o desenvolvimento da ansiedade, sem contar os fatores ambientais, tais como estresse no trabalho e na família, mudança de cidade ou emprego, dificuldades nos estudos e traumas na primeira infância. “Não há causas específicas para todos os indivíduos que sofrem dela.”

Entretanto, estratégias podem ser usadas no enfrentamento do problema. Além da ajuda profissional (com um psicólogo e psiquiatra, quando necessário), a prática de atividade física pode auxiliar bastante. Os exercícios são indicados por estudiosos como poderosas armas na prevenção e no combate à ansiedade. “Fisiologicamente, quando nos exercitamos, nosso corpo produz uma gama de hormônios, entre eles, a endorfina, que causa sensação de prazer e bem-estar”, afirma o professor de Educação Física Fabiano Câmara. Ele recomenda que a pessoa escolha uma atividade de sua preferência para ter disposição de realizá-la com frequência. “Pode ser caminhar, nadar, pedalar, correr ou mesmo praticar luta. O importante é criar a rotina, o hábito de se exercitar”, avalia Fabiano, assinalando que “a socialização proporcionada pela prática esportiva contribui para o controle da ansiedade”.

A alimentação é outro item que precisa ser levado em consideração. A nutróloga Tânia Apelbaum Novak aconselha uma dieta balanceada com alimentos ricos em vitamina C, ácido fólico, vitamina B6, triptofano e vitaminas do complexo B. “Ovo, noz, castanha, lentilha, feijão azuki, brócolis, espinafre, semente de abóbora, aveia, arroz integral, farinha de linhaça e chocolate amargo”, enumera a médica, a qual não deixa de recomendar a ingestão de frutas, como mamão, banana, tangerina, limão, abacate e melancia. “Uma banana cozida à noite, meia hora antes de dormir, ajuda a pessoa a ter um bom sono, assim como uma xícara de leite morno.”

Por outro lado, Novak lembra que alimentos ricos em cafeína deixam o sistema nervoso acelerado, portanto não são recomendados para quem é ansioso. “Café, chá preto, chá branco, chá mate e refrigerantes com cola devem ser evitados.”

Dedicação a Deus – Mudar a maneira de encarar os acontecimentos do cotidiano é igualmente bom. Assim garante a empresária Jocelma Souza de Jesus, 43 anos. Ela relata ter experimentado momentos de ansiedade ao perceber que as amigas estavam se casando, mas ela continuava solteira. “Chorava com frequência. Queria que a questão fosse resolvida do meu jeito e no meu tempo, o que gerava mais ansiedade”, relata Jocelma, obreira da IIGD em Vargem Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). 

A empresária, há quase quatro anos, tornou-se uma nova pessoa. Decidiu desviar-se do foco no casamento e buscar outras realizações pessoais, que lhe deram suporte para reorganizar sua mente e, consequentemente, suas emoções. “Fui estudar. Concluí a faculdade de Gestão em Turismo e abri um ateliê de costura”, testemunha Jocelma, evidenciando que o envolvimento na obra do Senhor foi primordial para a sua mudança. “A dedicação à casa de Deus muda a nossa vida, o nosso comportamento. Compreendi que o tempo e o agir são do Criador e não meus.” E, com essa convicção, ela pôs em prática as palavras do apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses: Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus (Fp 4.6,7). 

Indagado sobre o tema, o Pr. Wilson Nobre, líder regional da IIDG em Itaboraí (RJ), evidenciou que a ansiedade tira a paz das pessoas e, portanto, nada tem de positivo. O antídoto para enfrentá-la, destaca ele, encontra-se na Palavra, que ensina o cristão a apresentar todos os seus pedidos diante do Senhor. “Deus é sempre um refúgio seguro para o Seu povo. Ele deseja que Seus filhos descansem e confiem nEle”, prega o pastor, citando o exemplo bíblico de Ana, a qual desejava ser mãe (1 Sm 1). “Ela levou sua petição ao Senhor e engravidou não somente de Samuel como também de mais cinco filhos. Deus fez mais do que Ana pediu”, recorda o líder, acrescentando o ensinamento de Jesus sobre a ansiedade, que não deve ter lugar na caminhada do cristão: Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal (Mt 6.31). 

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