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Foto: Nathan Mullet / Unsplash

Em busca do Pai

Pastores e especialistas analisam o aumento do número de jovens nas igrejas evangélicas do país

Por Patrícia Scott

Ajuventude brasileira está se aproximando cada vez mais das igrejas evangélicas. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, ainda em 2020, mostrou que, na faixa dos 16 a 24 anos, dois em cada dez jovens do país (19% dos brasileiros neste grupo etário) pertence ao segmento protestante – cerca de 12,4 milhões de pessoas. O número é muito próximo ao dos jovens da mesma faixa de idade que se identificam como católicos: 13,7 milhões.

O Pr. Rodolfo Capler informa: A interpretação dos dados […] nos permite concluir que a juventude brasileira caminha a passos largos para se tornar predominantemente evangélica – Foto: Arquivo pessoal

Porém, na visão do Pr. Rodolfo Capler, escritor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), levando-se em conta que o segmento protestante não para de crescer, os jovens do Brasil continuarão a engrossar cada vez mais o rebanho evangélico. A interpretação dos dados […] nos permite concluir que a juventude brasileira caminha a passos largos para se tornar predominantemente evangélica, informou Capler, em artigo publicado no blog de Matheus Leitão no portal Veja.

Na mesma postagem, o pesquisador destaca que a adesão dos jovens brasileiros ao protestantismo se dá, principalmente, nas classes mais baixas e que os segmentos pentecostais e neopentecostais são os principais responsáveis por abraçar esse público. Ele também acredita que a contextualização da mensagem da fé, que se adapta à realidade sociocultural de grande parte da juventude, contribui para esse cenário. Segundo o pastor, a música gospel – a qual abarca vários estilos musicais, do samba ao rock – seria outro fator importante nessa equação, além da presença social das igrejas nas periferias.

O Pr. Kenner Terra salienta que, para além da questão socioeconômica, a experiência religiosa em si, a construção de sentido da vida e a internet também contribuem para a adesão da juventude às fileiras protestantes – Foto:Arquivo pessoal

Ferramenta valiosa – Já o Pr. Kenner Terra, doutor em Ciências da Religião, salienta que, para além da questão socioeconômica, a experiência religiosa em si, a construção de sentido da vida e a internet também contribuem para a adesão da juventude às fileiras protestantes. “A rede social é outro fator importante, pois as igrejas, especialmente as carismáticas e pentecostais, usam bem esse espaço onde a juventude está em peso”, avalia.

Os meios digitais, de uma forma geral, tornaram-se uma ferramenta ainda mais valiosa para as igrejas evangélicas e para os ministérios de jovens durante a pandemia da covid-19. Diante da impossibilidade da realização de cultos e programações presenciais, o uso das redes se tornou praticamente obrigatório. “Investimos nas redes sociais, principalmente no Instagram, para evangelizar e consolidar os jovens, de modo que não ficassem dispersos”, revela a Pra. Carla Pontes, líder estadual do ministério Jovens Que Vencem (JQV), da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Amazonas.

A Pra. Carla Pontes lembra a estratégia usada para evangelizar durante a pandemia: “Investimos nas redes sociais, principalmente no Instagram, para evangelizar e consolidar os jovens, de modo que não ficassem dispersos” – Foto: Arquivo pessoal

Pontes lembra que, mesmo com o retorno das atividades presenciais, o trabalho nas redes continuou, porém, agora, com possibilidades maiores de levar os jovens para mais perto da igreja. Ela destaca que a realização de eventos específicos para esse público, como o Papo Reto (para rapazes) e o Quarto Rosa (para moças), são iniciativas importantes no sentido de ajudá-los a enfrentarem seus conflitos pessoais e se firmarem na Palavra. Segundo ela, na sede estadual da Igreja da Graça em Manaus, eles também têm a oportunidade de se engajarem nas atividades de ação social, por meio do programa Amar Mais. “É um trabalho de visitas a famílias, hospitais e asilos, com entrega de cestas básicas”, informa.

A pastora faz, entretanto, um alerta: o número de jovens depressivos e com baixa autoestima é muito grande nas igrejas. Daí a importância do trabalho ministerial que os ajude a se firmarem na Palavra de Deus, tornando-os dedicados na propagação do Evangelho e prontos a ganhar outros jovens para Cristo. “Eles despertam muito rápido para as necessidades do Reino. São fortes e corajosos”, assegura a ministra, citando o texto de 1 João 2.14: […] Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Jovens de valor]

O Pr. Jessé Guidelli de Oliveira recomenda: “Acredito que deve haver uma volta ao Evangelho genuíno e simples, com ênfase na leitura, explicação e aplicação das Escrituras Sagradas no cotidiano da juventude, semanalmente” – Foto: Arquivo pessoal

Vazio da alma – No entendimento do Pr. Jessé Guidelli de Oliveira, da Assembleia de Deus de Alto Ginásio, Sertãozinho (SP), a permanência da juventude na Igreja depende da oferta de programações sadias, que preencham seu tempo ocioso. “Infelizmente, várias denominações têm criado cópias de sistemas mundanos, demonstrando, assim, incoerência com a Bíblia. Acredito que deve haver uma volta ao Evangelho genuíno e simples, com ênfase na leitura, explicação e aplicação das Escrituras Sagradas no cotidiano da juventude, semanalmente”, recomenda.

O Pr. Eduardo Zocolotto diz que é necessário unir os assuntos do cotidiano aos ensinamentos bíblicos dentro de uma linguagem que alcance os jovens – Foto: Arquivo pessoal

Para o Pr. Eduardo Zocolotto, líder estadual do Jovens Que Vencem (JQV) no Paraná, é essencial também acolher muito bem os que chegam à igreja e trabalhar para firmá-los nos caminhos do Senhor. “Isso porque, de um modo geral, estão enfrentando alguma adversidade. E, qualquer ser humano, nesses momentos, deseja a presença de Deus”, frisa o líder. Ele acredita que o fato de os jovens buscarem apoio nas igrejas evangélicas nada tem a ver com classes sociais, e sim com a necessidade de preencher o vazio da alma. “Eles entendem que precisam do Pai para sarar as feridas e desejam saber qual é o melhor caminho a seguir.”

Segundo ele, muitos jovens chegam às comunidades cristãs buscando suporte para lidar com conflitos familiares e consolo nas áreas emocional e sentimental. Zocolotto aponta a existência de um grande desafio para quem decide trabalhar com esse público: a maneira como pensam e absorvem as informações, um processo que se dá, principalmente, pelas redes sociais, de forma bastante prática e dinâmica. “É necessário unir os assuntos do cotidiano aos ensinamentos bíblicos dentro de uma linguagem que os alcance.”

O Pr. Jâmesson Alves de Santana explica: “Temos de ser criativos e ousados para que permaneçam nos caminhos do Senhor e, assim, tenham envolvimento com a obra de Deus” – Foto: Arquivo pessoal

“Muitos frutos” – O Pr. Jâmesson Alves de Santana, líder estadual do ministério Jovens Que Vencem (JQV) em Rondônia, faz coro com o Pr. Eduardo Zocolotto. Ele assegura que trabalhar com a juventude é diferente do trabalho com adultos, pois requer altas doses de motivação. “Temos de ser criativos e ousados para que permaneçam nos caminhos do Senhor e, assim, tenham envolvimento com a obra de Deus”, explica o pastor, reiterando que inúmeros jovens vão às igrejas em busca de solução para seus dramas cotidianos. “Muitos estão depressivos, por exemplo, e procuram a cura na fé”, pontua.

O líder estadual do JQV do Pará, Valdenir Azevedo, avalia: “A juventude gosta de dinamismo, de movimento, por isso está sempre voltada para ações que quebram a rotina” – Foto: Arquivo pessoal

Outra característica dos jovens, segundo o líder estadual do JQV do Pará, Valdenir Azevedo, é a necessidade de ter contato, principalmente, com pessoas da mesma faixa de idade. Ele lembra que, no pico da pandemia da covid-19, diminuiu o número de jovens envolvidos no ministério. No entanto, aos poucos, com a flexibilização das medidas de proteção sanitária, a adesão às atividades do JQV paraense voltou a crescer. “Eles querem o contato, a interação, o presencial. O isolamento dificultou isso, mas agora já ganhamos fôlego. A juventude gosta de dinamismo, de movimento, por isso está sempre voltada para ações que quebram a rotina”, avalia.

Azevedo acredita que, mesmo em meio a todos os atrativos mundanos os quais tentam iludir os jovens, o Senhor os alcançará. “Darão muitos frutos para o Reino de Deus. O Senhor tem um chamado para todos eles, independentemente da classe social ou dos problemas que estejam enfrentando. Ele deseja resgatá-los para que sejam usados em prol do Reino”, conclui.

Foto: Vince Fleming / Unsplash

Jovens de valor

Ao longo de toda a história bíblica, o Senhor chamou e preparou moços para Lhe servirem com integridade e dedicação. Apesar da pouca idade, o compromisso deles com Deus os levou a realizar grandes obras e marcar seu tempo. Eis alguns exemplos:

José – Filho do patriarca Jacó, ele tinha revelações de Deus por meio de sonhos (Gn 37.1-17). Preferido de seu pai, foi vendido como escravo pelos irmãos (Gn 37.18-36). Levado ao Egito, mesmo na condição de escravo, destacou-se como bom administrador (Gn 39.1-18). Caluniado pela esposa de seu senhor, passou anos na prisão (Gn 39.19-23); porém, depois de interpretar os sonhos do copeiro e do padeiro do rei (Gn 40.1-23), interpretou também o sonho do Faraó (Gn 41.1-36) e, por isso, tornou-se governador do Egito (Gn 41.37-47).

Davi – Era pastor de ovelhas quando foi escolhido pelo Senhor para substituir Saul como rei de Israel (1 Sm 16.1-13). Destemido, o jovem Davi ousou enfrentar Golias, o gigante filisteu, e o derrotou (1 Sm 17.1-11). Ele entrou para o exército real, onde teve sucesso em várias campanhas militares, despertando a inveja de Saul (1 Sm 18.1-16), o qual passou a querer matá-lo (1 Sm 19.1-10). O jovem, então, viveu anos como fugitivo (1 Sm 21 e seguintes). Após a morte de Saul (1 Sm 31.1-13), Davi foi reconhecido como rei (2 Sm 2.1-7) e se tornou o mais notável monarca da história de Israel.

Timóteo – Converteu-se a Cristo ainda muito jovem. Tornou-se auxiliar de Paulo, durante a segunda viagem missionária do apóstolo (At 16.1-5). Dessa forma, o jovem viajou por várias cidades e ajudou seu “pai na fé” (1 Tm 1.1) a escrever algumas de suas epístolas (1 Ts 1.1, 2 Co 1.1). Nos últimos dias de vida de Paulo, este queria muito rever Timóteo e pediu ao jovem pastor, o qual liderava a igreja em Éfeso, que fosse a Roma para estar com ele, em sua hora final (2 Tm 4.9).

(Fonte: Bíblia Sagrada)


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