Igreja
22/12/2023Missões – 293
22/12/2023Resposta necessária
A importância de a Igreja abordar o problema da ansiedade, condição que afeta milhões de pessoas em todo o país
Por Ana Cleide Pacheco
Taquicardia, falta de ar e vontade de chorar: esses são alguns dos sintomas que a estudante do 5º período de Medicina Veterinária W. S. L., 23 anos, sente com frequência. A jovem, identificada pelas iniciais para garantir seu anonimato, revela que esses problemas se intensificam em épocas de provas ou durante entrevistas de estágio ou emprego. Segundo a universitária, tais sinais surgiram quando ela teve de deixar a casa da família, no interior, para cursar a graduação. “Senti muito, porque sempre morei em uma cidade pequena, onde todos se conheciam. Ao me deparar com a realidade de uma metrópole, fiquei assustada. Então, quando tinha de sair para resolver algo, ou mesmo para assistir às aulas, passava mal”, revela W. S. L., que é evangélica. “O que me ajudou, e tem me ajudado bastante, é a minha fé em Deus.”
A discente faz parte das estatísticas que colocam o Brasil como o país mais ansioso do mundo. O último mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017, mostrava uma prevalência de transtornos de ansiedade entre a população brasileira. Enquanto a média global de portadores desse distúrbio era de 3,6%, o Brasil liderava o número de casos com 9,3% da população com algum tipo de ansiedade patológica. Em segundo lugar, aparecia o Paraguai (7,6%), seguido de Noruega (7,4%), Nova Zelândia (7,3%) e Austrália (7%).
Especialistas afirmam que esse quadro de saúde se agravou 25% com a pandemia de covid-19. Eles explicam que a ansiedade é uma resposta natural do corpo diante de uma situação de perigo ou desafio. No entanto, quando ela se torna recorrente, pode se transformar em uma condição patológica, afetando diretamente o cotidiano do indivíduo e causando grandes prejuízos à qualidade de vida dele.
Uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada em agosto de 2023, lançou mais luz sobre a questão da ansiedade patológica no país: 14% dos homens entrevistados disseram se sentir sempre ansiosos;entre as mulheres, a taxa quase dobra: 26%. O levantamento, que ouviu 2.500 pessoas, revelou ainda como os participantes classificariam a saúde mental deles: 70% consideraram boa ou ótima; 23% disseram ser regular, e apenas 7% escolheram a opção ruim ou péssima. Entre os respondentes com idades de 16 a 24 anos, o estudo mostrou o pior resultado: 13% consideram a própria saúde mental ruim ou péssima.
O Pr. Edson Pinheiro Pedersane, 60 anos, da Primeira Igreja Batista em Santa Amélia, em Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, acredita que o imediatismo que rege a atualidade favorece um comportamento impaciente entre os mais novos, criando-se, assim, um ambiente favorável à ansiedade. “É a geração da internet, das redes sociais, do agora”, pontua o líder, afirmando que questões emocionais não tratadas podem gerar desordens mais graves. Na opinião do pregador, as igrejas podem ajudar as famílias e os jovens a lidarem de forma mais sábia com as demandas deste tempo por meio do ensino bíblico. “Que possamos usar as ferramentas digitais com responsabilidade e equilíbrio, apoiados na Palavra de Deus.”
“Não é pecado” – O Pr. Adriano Correia da Silva, 42 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Santo Ângelo (RS), concorda com o ministro batista. Para Silva, as redes sociais suscitam nos jovens o sentimento de comparação e ressalta que a internet deu demasiada visibilidade a pessoas que se tornaram bem-sucedidas financeiramente muito rápido. Ao exibirem uma vida aparentemente perfeita, transmitem a ideia de que, com pouco esforço, é possível conquistar qualquer coisa. “Na busca de alcançar esse padrão, muitos desenvolvem crises de ansiedade ou outras patologias”, pontua o pregador.
De acordo com o Pr. Neilson Flaudivio dos Santos, 61 anos, da Segunda Igreja Batista em Três Rios (RJ), todos sentem algum nível de ansiedade no cotidiano. Tais sensações são oriundas de situações desconfortáveis e estressantes, ou são causadas por eventos muito aguardados ou importantes. Para ele, o problema é quando essas emoções se tornam um obstáculo para a vida diária, fazendo com que a pessoa seja incapaz de arcar com as próprias responsabilidades e de desenvolver seus relacionamentos. “Nós, cristãos, também sentimos ansiedade, e isso não é pecado. Ela não vem para apontar nossas falhas e limitações em relação à confiança em Deus, e sim para mostrar que dependemos dEle e precisamos esperar no Senhor.”
Santos enfatiza que essa sensação de incapacidade surge porque o ser humano é essencialmente orgulhoso e sempre almeja a independência em relação ao Senhor. “O cristão precisa se fortalecer na Palavra e conhecer os ensinamentos do Criador, a fim de enfrentar este mundo hostil e as armadilhas de Satanás, que veiopara roubar, matar e destruir, como lemos em João 10.10.”
Na opinião do Pr. Robson Carlos de Matos Ferreira, 51 anos, da Primeira Igreja Batista Novo Alvorecer, em São Leopoldo, Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, ao se sentir ansioso, o crente em Jesus precisa lembrar que existe um Pai amoroso que cuida de Seus filhos, como garantem diversas passagens bíblicas. O ministro do Evangelho cita o Salmo 94.19: Multiplicando-se dentro de mim os meus cuidados, as tuas consolações reanimaram a minha alma, e as palavras de Jesus registradas em Mateus 11.28-30: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.
Além disso, o pregador defende a ideia de que as igrejas podem colaborar de maneira poderosa para ajudar os membros que sofrem de ansiedade. “Como servos de Deus, devemos abordar temas sobre saúde emocional e mental, a fim de motivá-los a se abrirem e falarem a respeito do que lhes causam dores. Isso pode contribuir para que haja muitas curas e, assim, proporcionar qualidade de vida a quem precisa.”
A professora e orientadora educacional Eunice Florindo de Paula Almeida, 61 anos, concorda que a Igreja pode desempenhar um papel relevante na conscientização sobre o bem-estar mental, oferecendo suporte a todos que buscam ajuda nessa área. “Falar sobre saúde mental é fundamental, pois cria um ambiente de apoio e compreensão para os que sofrem”, assegura ela, destacando que as comunidades de fé podem oferecer programas de aconselhamento, criar grupos de assistência e abrir espaço para que profissionais ensinem sobre o assunto. “A Igreja pode ajudar a combater o estigma em torno desses problemas e promover a compaixão e o amor ao próximo”, defende Eunice, membro da Primeira Igreja Batista em Parque Fluminense, em Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense.
“Compaixão e apoio” – Pensamento semelhante tem a terapeuta cristã Patrícia Cristina da Silva Espim, 51 anos, líder do ministério Restaurando Vidas, Equipando Restauradores (Rever) no Rio de Janeiro (RJ), movimento de promoção de saúde mental. “É fundamental que as igrejas falem sobre esse tema, pois isso tem sido uma das maiores dificuldades enfrentadas pela sociedade nos últimos tempos”, assinala a especialista. Para ela, cabe à Igreja levar mais conhecimento e esclarecimento por meio da pregação da Palavra e oferecer palestras e seminários que ensinem sobre os problemas da atualidade. “Ao abordar essas questões, a Igreja demonstra compaixão e apoio às necessidades reais de seus fiéis.”
Na opinião de Viviane Barros Rodrigues Musquim, 41 anos, líder do ministério de famílias da Primeira Igreja Batista em Vila de Cava, Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, não é possível ignorar os efeitos da ansiedade a longo prazo. “A questão não é ter ansiedade, e sim o que fazer com ela”, frisa a líder, sublinhando que é fundamental ter, dentro das congregações, uma rede de apoio firme e segura para quem apresenta essa condição.
De acordo com Viviane, as comunidades de fé já são lugares de acolhimento, por sua própria natureza e missão. No entanto, podem também orientar as pessoas na busca por ajuda profissional, especialmente em um cenário nacional de tanta ansiedade. “A Igreja precisa atentar para o seu papel no processo de sofrimento psíquico do indivíduo, a fim de dar suporte e tratar cada um de forma singular. Quanto mais falarmos de saúde mental, mais saudáveis ficaremos”, conclui.
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O importante é reconhecer a existência da ansiedade e procurar um profissional da área: psicólogo( a), terapeuta ou em alguns casos um psiquiatra que possa orientar e acompanhar o paciente.
Exatamente!