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Foto: James Coleman / Unsplash

Buscando a Deus

Coronavírus faz cristãos e não cristãos se voltarem mais para a Bíblia

Por Ana Cleide Pacheco

Pandemia, mortes, colapso econômico. Eis alguns termos que certamente serão usados para definir 2020 nos livros de História. Por ora, enquanto este ano está em curso, bilhões de pessoas no planeta convivem com a ameaça de contaminação do novo coronavírus ou com os sintomas já instalados da covid-19, batalhando pela vida – nos casos mais graves – ou lutando pelo restabelecimento da saúde. Além disso, populações de várias partes do mundo sofrem as consequências econômicas do fechamento total ou parcial de milhões de empresas e do desemprego. 

Diante desse quadro devastador, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos – uma das nações mais afetadas pelo vírus – demonstrou que muitos têm buscado esperança na Palavra. A investigação comprovou o seguinte: um em cada cinco não cristãos passou a ler as Escrituras, a ouvir ensinos bíblicos e a assistir a pregações on-line. Os que se declaram cristãos não só estreitaram seu relacionamento com o Livro Sagrado, lendo-o com mais frequência, como também se dedicaram aos assuntos relacionados à obra de Deus, professando, com mais afinco, a sua fé, principalmente, por meio das redes sociais. 

Ainda segundo a sondagem – levada a efeito em março pelo instituto McLaughlin & Associates, sediado nos EUA, e encomendada pela organização não governamental cristã The Joshua Fund –, a pandemia estimulou os não crentes a se engajarem em conversas com temas espirituais. Na opinião de 22% desse grupo, o contágio descontrolado do coronavírus é um alerta para as pessoas se voltarem para o Criador – entre os cristãos entrevistados, esse percentual foi de 40%. Os resultados são claros: essa crise global sem precedentes está fazendo os americanos começarem a ler a Bíblia e a ouvir o ensino dela e as pregações on-line, mesmo que geralmente não o façam; que procurem, na internet, o ensino da profecia bíblica e o futuro de Deus para a humanidade e participem de diálogos mais espirituais com familiares e amigos, resumiu Joel C. Rosenberg, fundador do The Joshua Fund.

Joel C. Rosenberg, fundador do The Joshua Fund: Os resultados são claros: essa crise global sem precedentes está fazendo os americanos começarem a ler a Bíblia e a ouvir o ensino dela e as pregações
Foto: Divulgação / Wingmen

Outras investigações apontaram na mesma direção da análise feita por Rosenberg. Um estudo da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, verificou as buscas, na internet, durante o mês de março em 75 países. De acordo com os pesquisadores, o número de procura relacionada à oração dobrava a cada 80 mil novos casos da covid-19 identificados no globo. 

Formas diferentes – Embora não haja averiguações semelhantes acerca da realidade nacional, a observação cotidiana das mídias digitais, das reportagens de TV, jornais e revistas e dos comentários feitos nas notícias postadas em portais jornalísticos mostra que os brasileiros têm seguido o mesmo caminho. A instrumentadora Tatiana Enes, 42 anos, é um exemplo. Seus posts com louvores e reflexões sobre Cristo se tornaram constantes. “Em consequência do que vivemos, envio orações, todos os dias, para a família e os amigos, e percebi que os compartilhamentos aumentaram”, sublinha ela, frequentadora da Igreja Batista da Lagoinha em Niterói (RJ). 

Tatiana ressalta que diversos conhecidos começaram a divulgar mensagens on-line de cunho religioso, falando de Jesus e mostrando profecias sobre o fim dos tempos. “Não com o intuito de assustar, e sim com o objetivo de levar alento e indicar uma saída para esse período conturbado. Recebo sempre mensagens de orações e louvores, que chegam por meio de vídeos, textos e áudios.”

A instrumentadora Tatiana Enes: “Em consequência do que vivemos, envio orações, todos os dias, para a família e os amigos, e percebi que os compartilhamentos aumentaram”
Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, a pedagoga Maria das Graças Santiago Pret dos Santos, 51 anos, frisa que o ser humano, ao se sentir ameaçado, acaba se voltando para o Onisciente. Para ela, as redes sociais, de um modo geral, têm sido excelentes ajudadoras nessa fase complicada. “Quando nos sentimos impotentes, nossa tendência é procurar proteção em Deus. Como, atualmente, não podemos congregar, o ambiente virtual se tornou uma espécie de igreja”, avalia Maria, diaconisa da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra do Fonseca, em Niterói (RJ). Em seu ponto de vista, entre lives (transmissões ao vivo), ministrações e cultos, é perceptível o quanto as pessoas estão querendo assistência, alento e paz. “Esse é o papel da Igreja. Então, vamos usar a tecnologia a favor do Reino, transmitindo a Palavra de vida, que consola, conforta, cura, restaura e salva”, conclama. 

A pedagoga Maria das Graças Santiago Pret dos Santos diz que é perceptível a busca por assistência, alento e paz: “Quando nos sentimos impotentes, nossa tendência é procurar proteção em Deus”
Foto: Arquivo pessoal

Medo da morte – A manicure J. A. [que prefere não se identificar] enxergou, nesse cenário caótico, a necessidade de retornar aos caminhos do Senhor. “Foram quase seis meses longe de Cristo, e, sinceramente, não desejo isso a ninguém. É uma sensação de vazio horrível e uma tristeza inexplicável na alma. Na segunda quinzena de março, quando deram início ao isolamento social no Brasil, eu me sentei no sofá e chorei.” Naquela hora, J. A. entendeu que deveria retornar à presença do Pai e seguir com Ele. “Recebi mensagens de amigos, vi pregações na internet, e isso foi edificante demais. Tive bastante medo; entretanto, mais do que temer a morte, o que me motivou foi a vida, e a vida em Cristo. Como está em Filipenses 1.21: Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.”

O Pr. Rogério Luzitano, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Cabo Frio (RJ), assevera que todos têm seus medos, sendo, entre eles, o mais comum o da morte, seja a própria seja a de entes queridos. “A insegurança e a incerteza do futuro, somadas ao fato de que essa doença tem grandes proporções e bastante repercussão, fazem muitos se desesperarem e buscarem refúgio no Salvador. Infelizmente, a maioria das pessoas só O busca em suas aflições, e, quando estas são resolvidas, algumas viram as costas novamente”, lamenta-se. Mesmo assim, Luzitano ressalta que a Igreja deve se esforçar ainda mais, nessa crise, na propagação das Boas-Novas. “Podemos aproveitar todas as oportunidades que, graciosamente, o Senhor nos concede. Portanto, nessa época de quebrantamento, temos de mostrar ao próximo que toda essa situação é bíblica e que nada está fora do controle do Altíssimo.”

O Pr. Rogério Luzitano observa: “Infelizmente, a maioria das pessoas só O busca em suas aflições, e, quando estas são resolvidas, algumas viram as costas novamente”
Foto: Arquivo Pessoal

Preparo e assistência – O Pr. Tiago Stachon, da Sky Church, no bairro Água Verde, em Curitiba (PR), concorda com o Pr. Rogério Luzitano. Para ele, a sociedade está diante da realidade da morte, a qual gera uma reflexão, exigindo das comunidades cristãs um preparo para oferecer suporte aos anseios espirituais da população. “O momento é de as igrejas abrirem as portas, ainda que virtuais [por causa das proibições de aglomeração em virtude da pandemia], a fim de atender o maior número possível de gente que precise de auxílio. Esse atender é no sentido literal, dar assistência.” 

O Pr. Tiago Stachon salienta que o cristão pode ser bênção dando apoio no luto, orando por quem se recupera da covid-19 ou que esteja em depressão, pensando em tirar a própria vida
Foto: Arquivo pessoal

Stachon salienta que o cristão pode ser bênção dando apoio no luto, orando por quem se recupera da covid-19 ou que esteja em depressão, pensando em tirar a própria vida. Tal amparo também pode ser a doação de mantimentos aos necessitados ou, até mesmo, um simples telefonema para os solitários. “Esse é o papel da Igreja.”

A Pra. Rosana Maria dos Santos, do Ministério Tabernáculo do Brasil de Barreira, em Engenheiro Paulo de Frontin (RJ), acredita que a web pode ser um meio poderoso para edificar vidas. Ela, que faz transmissões diárias ao vivo, vê esse problema universal como uma oportunidade de as Boas Notícias serem espalhadas. “As lives têm sido uma ótima ferramenta para as congregações, que precisam manter as portas fechadas.” 

A Pra. Rosana Maria dos Santos atesta: “Agora, cada lar tem manifestado que são pequenos santuários de adoração. Isso é lindo, é cuidado de Deus! Um vírus não pode parar o Evangelho”
Foto: Arquivo pessoal

Santos se alegra pelo fato de, mesmo diante da proibição dos cultos públicos, a Igreja de Cristo seguir, inabalável, comunicando Seu amor e mostrando que ela não se resume ao prédio físico. “Sim, temos nossos espaços onde nos reunimos, o que é maravilhoso. Mas, agora, cada lar tem manifestado que são pequenos santuários de adoração. Isso é lindo, é cuidado de Deus! Um vírus não pode parar o Evangelho.” 


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