Jornal das Boas-Novas – 268
01/11/2021
Teologia
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Foto: Travis Yewell / Unsplash

Comendo melhor

Brasileiros estão mais atentos ao que colocam à mesa, mas preços altos e falta de conscientização ainda impedem muitas pessoas de ter uma alimentação saudável

PorAna Cleide Pacheco

A pandemia da covid-19 mexeu com a vida das pessoas sob todos os aspectos, inclusive no que se refere à alimentação. Afinal, diante do risco de adoecer gravemente e até perder a vida, muita gente repensou a necessidade de manter o sistema imunológico em dia, revendo os hábitos à mesa.

Algumas pesquisas sobre o tema têm demonstrado uma preocupação maior dos brasileiros com relação ao que se coloca no prato. É o que aponta um levantamento feito de 14 a 28 de maio deste ano pela indústria farmacêutica Abbott. A empresa realizou um inquérito nacional, com mais de dois mil respondentes com idade igual ou superior a 25 anos. Intitulado O valor da saúde, o estudo mostra o que os entrevistados consideram os pilares de uma vida saudável nesse momento de crise mundial de saúde. No que se refere à alimentação, a maioria informou que se tornou mais seletiva e afirmou estar disposta a manter os novos hábitos alimentares adquiridos. Dentre as principais mudanças, destacam-se: 68% passaram a consumir pratos feitos em casa; 53% aumentaram a ingestão de legumes e verduras e 47% consomem agora mais frutas. Além disso, a sondagem revela que 61% reduziram o consumo de refrigerantes, 60% diminuíram a ingesta de hambúrgueres e 58% consomem menos alimentos industrializados. 

O trabalho realizado pela Abbott confirma as primeiras análises de outro levantamento, o NutriNet Brasil, um dos maiores estudos sobre nutrição e saúde feitos no país. A investigação, coordenada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), começou no primeiro semestre de 2020 e está aberta a quem desejar participar (https://nutrinetbrasil.fsp.usp.br/). Resultados preliminares demonstraram um aumento de 4,4% na frequência do consumo de alimentos in natura (não industrializados, como frutas, verduras, legumes, cereais e proteínas que não passaram por modificações industriais). Segundo as informações da NutriNet Brasil, a presença desses alimentos nas mesas brasileiras subiu de 40,2% no primeiro semestre de 2020 para 44,6% no segundo semestre do mesmo ano.

Joyce Alencastro dos Santos: maior consumo de ultraprocessados foi desencadeado por alta do desemprego e redução da renda Foto: Arquivo pessoal

O levantamento mostra ainda que, nas regiões Norte e Nordeste, houve aumento de consumo dos chamados alimentos ultraprocessados, aqueles altamente industrializados, muito pobres em nutrientes e que recebem grandes quantidades de sal, açúcar e gorduras. Os exemplos clássicos desse tipo de produto são os salgadinhos de pacote, biscoitos, sorvetes, refrigerantes, macarrões instantâneos, nuggets, salsichas e barrinhas de cereal. No restante do país, indivíduos com baixa escolaridade também foram os que mais aderiram a esse tipo de alimentação, de acordo com a análise.

Saudável é melhor – Para a nutricionista Joyce Alencastro dos Santos, 37 anos, o aumento do consumo de alimentos in natura ocorreu devido à permanência das pessoas em casa, durante boa parte do ano de 2020. O isolamento social, para ela, despertou em muitos o prazer de cozinhar. De acordo com ela, o segundo fenômeno apontado pela pesquisa da NutriNet Brasil – o maior consumo de alimentos ultraprocessados – foi desencadeado pelo aumento no desemprego e na diminuição de renda, já que algumas dessas mercadorias são opções mais baratas. A nutricionista adverte, no entanto, que “o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado ao aumento dos casos de câncer de estômago, intestino e reto, hipertensão arterial, dislipidemia [aumento dos níveis de gordura no sangue, entre as quais o colesterol ruim], diabetes, obesidade e acidente vascular cerebral”.

Por outro lado, Joyce dos Santos lembra que a opção pelos alimentos saudáveis é ratificada inclusive pela Bíblia. A especialista cita o exemplo do profeta Daniel, que renunciou às iguarias servidas à mesa do rei, para comer apenas legumes e, em lugar de vinho, preferiu água (Dn 1.12). “Ele teve êxito, mostrando que o saudável é sempre melhor. Acredito que, se fizermos isso, teremos uma população mais sadia”, recomenda ela, que é membro da Igreja Batista Imperial, em Recife (PE).

A nutricionista Bruna Fávaro Pereira diz que a falta de acesso à informação é outra causa de aumento do consumo de alimentos com baixo valor nutricional Foto: Arquivo pessoal

Na opinião da nutricionista Bruna Fávaro Pereira, 24 anos, além das questões econômicas, a falta de acesso à informação é outra causa de aumento do consumo de alimentos com baixo valor nutricional. “Muitas pessoas ainda não sabem o que são alimentos ultraprocessados e não fazem ideia de como diferenciá-los dos alimentos in natura, muito menos sabem o impacto deles sobre a saúde”, alerta a especialista, membro da Igreja do Evangelho Quadrangular em Nuporanga (SP), cidade da região metropolitana de Ribeirão Preto. “Como profissional, minha luta diária é fazer as pessoas entenderem a importância de consumir uma dieta equilibrada e, para isso, é preciso levar em consideração que o corpo precisa ser nutrido.”

Bruna Fávaro ressalta que os alimentos ultraprocessados têm baixíssimo valor nutricional e afetam o sistema imunológico porque liberam os chamados radicais livres, moléculas perigosas que atuam diretamente nas células e as impossibilitam de agirem corretamente. “Isso é muito sério, principalmente em um momento de pandemia”, explica a nutricionista, acrescentando que o sistema de defesa do organismo é formado por células as quais, se não estiverem bem nutridas, deixarão de agir como tal. Portanto, ela orienta que sejam consumidos alimentos in natura e que as pessoas busquem opções mais acessíveis economicamente. “Costumo dizer que esses alimentos criados pelo próprio Deus são completamente ricos em vitaminas e minerais. Eles podem oferecer todo o recurso que nossas células precisam para combater agentes infecciosos que nos afetariam de alguma forma.”

Necessidades nutricionais – A preocupação com a alimentação saudável dos brasileiros, aliás, transformou-se em um nicho de mercado interessante para vários empreendedores. Hoje, o Brasil ocupa a 7ª posição no mercado de alimentos e bebidas saudáveis no mundo, com consumidores buscando aliar praticidade com boa dieta. De acordo com levantamento realizado pela empresa de análise de mercado Euromonitor International, o setor cresceu 33% de 2015 a 2020. Espera-se que até 2025 o faturamento aumente 27%. O mesmo estudo mostrou que a indústria de alimentos saudáveis atingiu um tamanho de mercado de 100,2 bilhões de reais em 2020.

A microempresária e nutricionista Laísa Ramos Rodrigues, 24 anos, tem um negócio bem-sucedido nesse segmento. Ela conta que, após observar uma demanda do mercado, decidiu investir em cestas de café da manhã saudáveis. Seu produto, por exemplo, não contém itens cheios de açúcares e gorduras. “Percebi que, muitas vezes, as pessoas recebiam cestas de café da manhã e não podiam aproveitar de forma completa, porque tinham alguma comorbidade, como alta taxa de triglicerídeos, diabetes e hipertensão.” Para vencer essas barreiras, optou por adequar o produto às necessidades nutricionais de cada cliente, fazendo com que a cesta presenteada pudesse ser usufruída integralmente. “Empreender, em qualquer ramo, é sempre um desafio, mas vejo que as pessoas têm se preocupado mais com a saúde e buscado ter qualidade de vida. Isso faz toda a diferença no meu projeto”, afirma a empresária, que é membro da Igreja Batista da Lagoinha em Niterói (RJ).

A microempresária e nutricionista Laísa Ramos Rodrigues decidiu investir em cestas de café da manhã saudáveis: sem itens cheios de açúcares e gorduras Foto: Arquivo pessoal

Vontade de Deus – Háquem se sinta chamado para ajudar o próximo a se alimentarde modo correto. É o caso da nutricionista Thamires de Menezes Ezic Tavares, 30 anos, membro do Ministério Alcançando Vidas de Amendoeira, em São Gonçalo (RJ). “Como aprendemos na Bíblia, no texto de 1 Coríntios 6.12: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. Então, se sabemos disso, devemos nos adequar a essa verdade.”

No ponto de vista da profissional, manter uma alimentação saudável não é uma tarefa difícil. “Se passarmos a comer o que o Senhor criou, vamos nos aproximar, dia após dia, da Sua criação, e, assim, teremos nossa mente renovada por Ele. Assim, vamos experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade dEle para a nossa vida”, ao fazer referência à passagem de Romanos 12.2, garante Thamires.

A nutricionista Thamires de Menezes Ezic Tavares: “Se passarmos a comer o que o Senhor criou, vamos nos aproximar, dia após dia, da Sua criação, e, assim, teremos nossa mente renovada por Ele” Foto: Arquivo pessoal

Na visão da nutricionista, muitos cristãos ainda não compreenderam que os servos de Deus precisam glorificá-Lo com seu corpo e cuidar dele tão bem quanto cuidam da alma e do espírito. “É preciso entender o lugar que a comida ocupa em nossa vida. Não podemos ser conhecidos pelo pecado da glutonaria e não podemos fazer dela um ídolo como se fosse algo lícito”, adverte.

O Pr. Rogério Ferraz da Silva, 43 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) de Barra Mansa (RJ), concorda com a especialista. Para o líder, quando o assunto é educação alimentar, os cristãos ainda precisam percorrer um longo caminho. Mas ele reconhece que muitos crentes em Jesus já se conscientizaram e, assim, procuram fazer escolhas mais corretas na hora de comprar e de consumir produtos mais saudáveis. “Ainda temos a fama de comilões, mas muitos irmãos já entenderam a importância de se alimentar bem, de beber água e praticar atividades físicas. Ser fitness [estar em boa forma]virou moda e, em alguns casos, as pessoas chegam a exagerar. No entanto, quando existe equilíbrio, tudo funciona bem”, afirma o pregador, fazendo menção ao texto de 1 Coríntios 6.19 (Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?). “Ou seja, como filhos amados, temos que glorificar a Deus em nosso corpo e em nosso espírito, os quais pertencem a Ele”, ensina.

O Pr. Rogério Ferraz da Silva: quando o assunto é educação alimentar, os cristãos ainda precisam percorrer um longo caminho Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Alimentos mais nutritivos

Aaron Blanco Tejedor / Unsplash

Você sabe quais são os alimentos que fazem bem à nossa saúde?

Listamos alguns deles:

1. Linhaça

2. Frutas vermelhas (amora, morango, cereja, framboesa, groselha, mirtilo, jabuticaba, açaí)

3. Vegetais verdes escuros (espinafre, rúcula e brócolis)

4. Azeite de oliva (extravirgem)

5. Oleaginosas (castanhas, nozes)

6. Feijão

7. Vegetais crucíferos (couve-flor, couve de Bruxelas, agrião, rabanete, repolho, couve)

8. Suco de uva (tinto integral)

9. Chia

10. Gergelim

11. Quinoa

12. Batata-doce

13. Maçã

14. Arroz integral

15. Limão

16. Alho

17. Ovos

18. Peixes

19. Gengibre

20. Abacate

(Fontes: Hipolabor e Eigier Diagnósticos)


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