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01/06/2022Medicina e Saúde – 277
01/08/2022O avanço da Reforma na Europa: introdução
Nesta edição, começaremos a falar do avanço da Reforma Protestante na Europa. Na segunda metade do século 14, Deus levantou o teólogo e professor inglês John Wycliffe (1328-1384) para cumprir uma grande tarefa: reunir as palavras-chaves dos 200 dialetos que eram falados em sua pátria, fazendo deles uma língua, e, em seguida, traduzir para essa língua as Escrituras Sagradas. Embora tenha sido duramente perseguido pela igreja oficial, Wycliffe conseguiu traduzir da Vulgata latina quase toda a Bíblia. Ao morrer, em 1384, sua monumental obra foi continuada pelo teólogo inglês John Purvey (1354-1414) e terminada em 1388. As cópias dessa Bíblia foram objeto de grandes queimas públicas nos anos de 1410 e 1413. Contudo, há 170 de seus manuscritos ainda hoje, atestando a ineficácia de qualquer perseguição ao Livro de Deus.
Outro grande homem do Senhor foi o linguista inglês William Tyndale (1494-1536), o qual resolveu fazer por seus patrícios o que Martinho Lutero, seu contemporâneo, fizera pelos alemães. Em 1524, Tyndale deixou a Inglaterra e chegou à Alemanha, a fim de traduzir a Palavra para sua língua, uma vez que, em sua terra, isso seria impossível. Ao cabo de um ano, ele estava pronto para publicar seu Novo Testamento inglês, baseado no trabalho de Wycliffe. Em 1526, cerca de seis mil cópias do poderoso Texto Santo foram distribuídas secretamente em toda a Inglaterra.
Contra-ataque – O bispo inglês Cuthbert Tunstall (1474–1559) e o influente cardeal católico inglês Tomás Wolsey (1471-1530), ao tomarem conhecimento dos fatos, lançaram-se ao contra-ataque, movendo uma intensa e severa perseguição contra a Palavra de Deus. Eles organizaram um grande espetáculo público em Londres, no lugar denominado Cruz de Paulo, e ali empilharam 150 cestos de Novos Testamentos, obrigando, em seguida, os “hereges” a atear fogo. Foi uma queima tão grande que o povo, agora curioso, estava disposto a pagar qualquer preço para conhecer o livro proibido, e os gananciosos comerciantes viram nesse arriscado negócio a possibilidade de enriquecer rapidamente.
Assim, as impressoras alemãs produziram novas edições do Novo Testamento, que foi contrabandeado em grande quantidade para a Inglaterra. Decepcionados e ainda mais furiosos, Tunstall e Wolsey prenderam dezenas de pessoas, condenaram todas à morte de fogueira e enviaram agentes à Alemanha para prenderem Tyndale e o levarem vivo à Inglaterra. Este, percebendo o perigo que corria, refugiou-se na casa de Filipe, o Magnânimo (1504-1567), amigo da Reforma. Ali começou a estudar o hebraico e a traduzir o Antigo Testamento para o inglês. Infelizmente, só conseguiu traduzir até Crônicas, pois uma terrível perseguição aos protestantes varria a Europa naquela época. Tyndale foi preso e, 14 meses mais tarde, no dia 6 de outubro de 1536, enforcado publicamente. Em seguida, queimaram o seu corpo.
Esses inimigos da Palavra de Deus e da Reforma tinham a seu favor o apoio de Henrique VIII (1491-1547), rei da Inglaterra, que odiava implacavelmente os protestantes. Assim o descreveu Lutero em um folheto: Uma serpente, uma praga, um cão raivoso, um lobo infernal, uma trombeta de orgulho, um autor de calúnias e cismas, que pretende mudar o nome do mais santo bispo de Roma em anticristo. Que grande membro do diabo é este que procura separar os membros cristãos da cabeça da Igreja.
Maneira estranha – Entretanto, as portas da Inglaterra, que pareciam tão fechadas à Reforma, foram abertas a ela de maneira bastante estranha. Apesar de toda sua fidelidade à igreja romana, Henrique VIII não foi devidamente correspondido pelo papa quando este, por razões especiais, negou-lhe o divórcio com Catarina de Aragão (1485-1536), filha dos reis católicos da Espanha. Indignado, o rei aboliu a autoridade da igreja na Inglaterra e fez-se o chefe dela. Isso se consumou em 1534.
Esse rompimento com Roma tornou possíveis algumas reformas na igreja levadas a efeito por gente que pagou com a vida tal ousadia. Poucos anos mais tarde, subiu ao trono inglês Maria, a “sanguinária” (1516-1558), filha da divorciada Catarina, que levou a nova igreja a submeter-se novamente ao domínio papal. Seguiram-se cinco anos de terror, nos quais as cabeças dos protestantes caíam sob o impiedoso machado de Maria, até que sua cabeça teve a mesma sorte. Sucedendo essa rainha, reinou Isabel I (1533-1603), filha de Ana Bolena, que restabeleceu a Igreja Anglicana. Vencia por fim a Reforma. Todavia, como o anglicanismo observava ainda diversas práticas romanistas, os que desejavam uma reforma mais profunda, como a de Lutero, formaram um partido religioso mais fiel aos princípios bíblicos, que ficou conhecido por “puritanismo”. Graças à poderosa influência da Bíblia, o anglicanismo foi, aos poucos, substituindo algumas práticas romanistas pelos ensinos bíblicos.
Nos países do Norte da Europa, as mudanças políticas favoreceram sobremaneira o alastramento da Reforma, principalmente na Suécia. Segundo a convenção de Calmar de 1397, Suécia, Dinamarca e Noruega viviam sob o mesmo cetro. Porém, no início do século 16, os suecos resolveram proclamar sua autonomia, o que levou Cristiano II, da Dinamarca (1481-1559), a apoderar-se da Suécia pela força em 1518, aprisionandon Gustavo de Wasa (1496-1540). Este conseguiu escapar do cativeiro no ano seguinte. Aproveitando-se do descontentamento geral de seus patrícios, Wasa foi proclamado rei da Suécia em 1523, favorecendo, desta forma, o luteranismo.
Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com