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Abraão de Almeida

Os primeiros passos da Igreja

Não poderíamos acompanhar a trajetória do povo de Israel no primeiro século cristão sem nos referirmos ao nascimento e aos primeiros passos da Igreja, pois esta alterou fundamentalmente a história da nação judaica. Segundo a profecia bíblica das 70 semanas, desde a morte de Cristo, foram os israelitas cortados da boa oliveira, para que, no lugar deles, os crentes fossem enxertados. É como se o tempo parasse para os judeus até que, novamente, Deus trate com Israel e sejam cumpridas as profecias acerca do surgimento e da manifestação do anticristo, da Grande Tribulação e da batalha do Armagedom.

O termo igreja (do grego, ekklesía) ocorre no Novo Testamento cerca de 114 vezes – mais da metade (cerca de 65) nas epístolas paulinas –, sempre com a concepção de assembleia, agrupamento, reunião dos primeiros discípulos de Cristo para a celebração do culto. A Igreja cristã propriamente dita nasceu em Jerusalém por volta do ano 28, no dia de Pentecoste – no 50º dia após a Páscoa e no 10º dia após a ascensão de Cristo. Naquele tempo, Jerusalém abrigava peregrinos judeus de diversas nações: partos, medos, elamitas, mesopotâmicos e forasteiros da Judeia, Capadócia, Ásia, Frígia, Panfília, das regiões da Líbia e do Ponto.

O livro de Atos, escrito pelo médico Lucas, cobre somente um período de pouco mais de 30 anos: do Pentecoste até a chegada de Paulo a Roma, onde este ficou preso. Acredita-se que as chaves mencionadas por Jesus a Pedro – E eu te darei as chaves do Reino dos céus (Mt 16.19a) – foram usadas pelo apóstolo em Jerusalém, para os judeus, no dia de Pentecoste, quando 3 mil deles aceitaram a fé, e em Cesareia, para Cornélio e seus familiares (gentios), algum tempo mais tarde. A importância desses dois grandes eventos narrados em Atos não pode ser subestimada. No discurso do dia de Pentecoste, muitos judeus estrangeiros se converteram, foram batizados e levaram para suas terras a mensagem do Evangelho. Na casa de Cornélio, o Espírito Santo desceu quando Pedro falava, mostrando a universalidade do Evangelho, destinado a todos os povos, a todas as raças, tribos e nações, tantos quantos cressem no Senhor.

Foto: Thaï Ch. Hamelin / ChokdiDesign – Unsplash

A controvérsia surgida com a entrada dos gentios para a Igreja foi muito grave. Vários judeus acreditavam que o cristianismo fosse apenas uma seita judaica e, por isso, muito fizeram para impedir a admissão dos gentios no mesmo nível de igualdade, tese que foi refutada mais tarde pelo apóstolo Paulo: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28).

Grande debate – Para desfazer dificuldades doutrinárias decorrentes da conversão dos gentios, reuniu-se em Jerusalém, sob a presidência de Tiago, o primeiro concílio cristão, ao qual compareceram Paulo, Barnabé, os apóstolos, os anciãos da igreja e grande número de discípulos. E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem (At 15.7).

Com a perseguição movida aos discípulos em Jerusalém, por ocasião do martírio de Estevão, ocorrido por volta do ano 35 d.C., a Palavra alastrou-se rapidamente. Alguns fugitivos iam por toda parte anunciando aos judeus as Boas-Novas de salvação, do que nasceram fortes comunidades em Samaria, Galileia e Antioquia, capital da Síria na época, onde também a mensagem de Cristo foi anunciada aos pagãos, resultando na conversão de vários deles.

Ao tomarem conhecimento da expansão da Igreja em Antioquia, os apóstolos enviaram Barnabé àquela cidade. Este, maravilhado com o fervor dos novos cristãos, foi a Tarso em busca de Saulo, que tivera uma maravilhosa conversão no caminho de Damasco, cerca de cinco anos antes. E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos (At 11.26).

Foto: Anton Mislawsky / Unsplash

Saulo de Tarso foi um dos mais denominados heróis da fé cristã. Era judeu da tribo de Benjamim, natural de Tarso da Cilícia, cidade na qual o Império Romano concedia o elevado privilégio da cidadania romana aos israelitas. Ao ser batizado, Saulo mudou o seu nome para Paulo (pequeno). Viajante incansável, o apóstolo percorreu cerca de 8 mil km do mundo antigo, fundando igrejas na Síria, na Cilícia, em Chipre, na Ásia Menor, na Macedônia, em Atenas e em outras cidades. E, para exortar as igrejas e orientar pastores de comunidades, Paulo escreveu suas famosas epístolas – as primeiras, em 51; a última, em 67, ano em que foi martirizado em Roma.

É verdade que alguns autores, como John T. Tucker, apontaram alguns elementos que contribuíram para a expansão do Evangelho na Era Apostólica, tais como a difusão geral de uma só língua (a grega) e a propagação do culto judaico por diversas partes. Contudo, o fator mais importante na divulgação da mensagem de Cristo no período apostólico foi o derramamento do Espírito Santo. Foi na força do Espírito que os discípulos encararam toda sorte de perseguições, suportaram longas viagens e pregaram as Boas-Novas.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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