Vida Cristã
01/12/2020
Telescópio – 257
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Abraão de Almeida

Paganismo, depravação e religiosidade

Desde o cativeiro iniciado no ano 605 a.C., sob Nabucodonosor, todos os acontecimentos envolvendo, de um lado, os impérios mundiais de Babilônia, da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma, e, de outro lado, o povo israelita, tiveram por finalidade preparar o mundo para o primeiro advento de Cristo. A Bíblia diz: Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho (Gl 4.4a). Essa plenitude dos tempos inclui, entre outras coisas, as condições políticas, religiosas e morais em que se encontravam as nações por ocasião do advento do cristianismo.

César Augusto, imperador romano de 31 a.C. a 14 d.C., sem que nada suspeitasse, teve sua participação no cumprimento das profecias bíblicas, ao convocar o recenseamento geral para todos os habitantes do seu vasto império. Em decorrência desse decreto, José e Maria tiveram de se dirigir a Belém, onde Jesus nasceu em uma estrebaria, cumprindo-se o texto de Miqueias 5.2: E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.

Foto: Zach Dyson / Unsplash

Superstição e infidelidade – Fora do âmbito do judaísmo, a religião predominante nos dias de Jesus se baseava na mitologia originária da antiga Babilônia, divinizadora das forças da natureza. Era tão terrivelmente impiedosa e imoral essa expressão de fé que a maioria dos seus sacerdotes pregava a necessidade de sacrifícios humanos, tanto de bebês como de adultos. A oferta de crianças recém-nascidas a Moloque era corrente havia séculos, de sorte que os sacerdotes do paganismo eram assassinos profissionais de menores.

Em diferentes rituais, variando de lugar e de época, as vítimas eram assadas vivas, degoladas ou surradas até a morte. Um exemplo disso era o culto a Moloque. Construído em metal e completamente oco, o seu interior era aquecido até o ponto de suas mãos abertas ficarem como brasas. Então, ao rufar de tambores, para que não se ouvissem os gritos das criancinhas, os pequenos eram colocados nas mãos do ídolo e assados vivos.

César Augusto (63 a.C. – 14 d.C.) Foto: Arte sobre foto de PxHere

A superstição e a infidelidade chegaram a extremos insuportáveis. Em seu livro clássico As catacumbas de Roma, o advogado e reformador social inglês, Benjamin Scott (1814-1892), cita um trecho de Basilio H. Cooper: É absolutamente impossível descrever detalhadamente as terríveis depravações do velho mundo pagão. No dizer do apóstolo, é vergonha mesmo só o falar daquelas coisas que faziam em secreto. O leitor não deve precisar de que lhe digam toda a miséria moral de uma religião cujos deuses eram debochados, bêbados, fratricidas, prostitutos e assassinos; cujos templos eram lupanares e antros dos piores vícios, chegando alguns a só serem tolerados fora das cidades […]; cujos espetáculos – as horríveis pugnas dos gladiadores, ou cenas tão impuras que um próprio Catão carcereiro não podia presenciar; cujas procissões eram cortejos de indecências; cujos altares, não raro, eram tingidos de sangue humano; cujas festas eram as célebres bacanais e saturnais; cujo ritual era o vício […]. No tempo de Augusto, o casamento tinha caído em desuso. Se existia, era apenas para tornar a mulher escrava. A esposa era que tinha de trabalhar, as concubinas e cortesãs é que eram as amigas do seu senhor […]. A lepra moral corrompia tudo e a todos. A crueldade campeava tanto como a sensualidade. A escravatura era universal.

Mundo judaico – A Palestina dos dias de Jesus constituía o mundo judaico. Jerusalém era a capital religiosa, e o monumental templo era ponto de encontro não apenas dos judeus palestinos, mas também daqueles da Diáspora – dos que habitavam em colônias, em outras regiões do vasto Império Romano.

O país dos judeus era pequeno: media, de norte a sul, entre Cesareia de Felipe e Berseba, a distância de 240km. De Jope, na costa, até Amon, atravessando toda a nação, a distância era de 121km. Pelo fato de ser assim tão pequena, a Palestina, por determinação das autoridades imperiais, ficou integrada à província da Síria, governada por Cirênio nos dias do nascimento de Jesus (Lc 2.2).

Dentro da Palestina, viviam, entre judeus e israelitas pertencentes aos restos das 12 tribos, cerca de 3 milhões de pessoas que falavam, pelo menos, três dialetos. Onde quer que fosse encontrado, o judeu estava sempre bem asseado. Entrava em negócios com estrangeiros, mas não se confraternizava com eles. Quando, por força das circunstâncias, emigrava para outras regiões, não se esquecia de Jerusalém e tudo fazia para retornar à cidade santa. Muito sentimentais, os judeus buscavam a comunhão com seus parentes e conservavam grande amizade entre si. Sumamente religiosos em sua maioria, preferiam a morte a transgredir qualquer mandamento da Lei de Moisés, principalmente o quarto, alusivo à guarda do sábado.

A estátua de Moloque Foto: Reprodução

O centro da vida judaica era o templo de Jerusalém, onde todos pagavam o imposto anual, equivalente a meio siclo de prata, constituído de uma moeda arredondada com os dizeres em uma de suas faces: Jerusalém Santa e, na outra, tendo esculpida uma tríplice açucena e a inscrição: Serei como o orvalho de Israel, crescerei como a açucena.

Havia em circulação, em Jerusalém, uma moeda romana, de ouro, mas a grande maioria dos judeus temia tocá-la, pelo fato de estar nela esculpida o retrato de César Augusto com as palavras: César Augusto, filho de Deus, pai da Pátria. Os judeus consideravam tal inscrição uma ofensa ao Deus verdadeiro, Jeová. Reagiam duramente contra qualquer espécie de imagem gravada, por mais inofensiva que fosse, e chegaram a protestar contra os estandartes romanos nos quais se via gravada a imagem de César, quando a décima segunda legião romana entrou em Jerusalém.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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