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Diretor e pesquisador teatral diz que a arte cristã está em expansão, mas ainda busca reconhecimento
Por Patrícia Scott
O que caracteriza a arte cristã é a capacidade de comunicar o Evangelho e os ensinamentos de Cristo no seu tempo”, afirma o diretor e pesquisador teatral Fabiano Moreira, 47 anos. Presidente da Associação Cristã de Artistas (ACRIART), com sede em São Paulo (SP), ele explica que o objetivo dessa organização é reunir artistas de todas as áreas e linguagens que estão dispostos a projetar, desenvolver e produzir trabalhos contínuos de cunho cristão. “Obras que expressem os valores do Evangelho e contribuam para a existência de uma tradição apoiada nos pilares da fé, da educação cristã e da assistência social”, explica Fabiano. Entre os projetos da associação, está a criação do Centro de Empreendimento de Arte e Cultura que, de acordo com ele, será um polo para a formação de artistas empreendedores.
O diretor lembra que a arte cristã é produzida desde o primeiro século, por meio de um tipo de manifestação cultural conhecida como arte paleocristã ou primitiva. “É encontrada, principalmente, nas antigas catacumbas, devido à forte perseguição do Império Romano aos cristãos”, informa o diretor, que congrega na Bola de Neve Church, no bairro da Lapa, na zona oeste da capital paulista.
Ele lembra que a Bíblia também apresenta vários exemplos de expressões artísticas. “Davi dançou com a chegada da arca da Aliança [2 Sm 6.14]. Eliseu chamou um músico ao ser procurado pelos reis em meio à batalha [2 Rs 3.15]”, exemplifica, destacando que o próprio Jesus ensinou por meio de historietas, muito comuns em culturas orientais, conhecidas como parábolas.
Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, Fabiano Moreira fala da importância das manifestações artísticas que expressam os ensinos do Messias.
Como avalia a arte cristã neste momento?
Está em processo de expansão. Há diversos trabalhos em produção. No entanto, penso que ainda não encontrou seu verdadeiro valor na sociedade. Está bastante fragmentada, limitada a interesses evangelísticos, sem força para um lugar de destaque. Para que seja evidenciada na sociedade, além dos interesses evangelísticos, é preciso haver mais projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a promoção e a preservação desse modo de pensar e produzir arte. A arte cristã precisa figurar como expressão simbólica do povo brasileiro e como potencial para o desenvolvimento econômico do país.
Qual é a importância da arte cristã para a sociedade?
Historicamente, a arte sempre foi a expressão do homem em seu tempo. Mostra as referências sobre os costumes, a beleza, o pensamento, as dores e as marcas de uma sociedade em sua época. Com a arte cristã, não poderia ser diferente. Ela tem o papel de expressar os valores e ensinamentos de Cristo, servir como um canal que faz o homem refletir sobre a sua existência em Deus. A importância para a sociedade é imensa: alegra, renova, salva, cura, traz o caráter e os ensinamentos de Jesus; representa o Reino dos Céus com a responsabilidade de marcar e conectar as gerações ao Evangelho.
Existe preconceito com a arte cristã?
Na maioria das vezes, esse preconceito está na mente do artista, como “fortalezas” que precisam ser destruídas. Estamos em um país livre de perseguições religiosas, e, assim, há liberdade de expressar, também na arte, os valores do cristianismo. O preconceito com a arte cristã surgiu no fim da Idade Média, quando os artistas renascentistas passaram a apresentar em suas obras temas humanos, explorando a beleza e a racionalidade, contrariando os padrões de arte adotados pela Igreja. Isso permanece até hoje, de certa forma, em um discurso que separa sacro de profano, cristão de secular.
É difícil captar recursos para viabilizar projetos cristãos em nossa nação?
Levantar recursos para projetos artísticos no Brasil é difícil por natureza. Por décadas, há um processo de desvalorização artística. Os investimentos do setor são muito mais para o lado assistencial, tanto de grupos e artistas que se intitulam os “trabalhadores da cultura” quanto para organizações que utilizam da arte para cumprir um papel social. O projeto artístico cristão encontra viabilidade na captação de recursos quando a iniciativa prevê atividades voltadas para essas organizações sociais, mas há uma barreira imensa quando o foco é comunicar o Evangelho. Na maioria das vezes, soa como cunho religioso e deixa de ser interessante para as empresas que, hoje, investem em trabalhos artísticos e culturais no país.
A arte cristã é ferramenta para a formação de opinião?
Arte é arte, independentemente de ser cristã ou não. Historicamente, a arte é usada para formar opinião popular e, muitas vezes, é determinante para modificar o comportamento humano e o rumo do povo. Isso é verdade tanto nos dias de hoje quanto em exemplos deixados nas Escrituras. A arte cristã não só é uma ferramenta poderosa para formar opinião, como também deve ser amplamente explorada. Se não é a arte cristã que está sendo utilizada para formar opinião na sociedade, alguma outra expressão artística está desempenhando esse papel.
Como funcionará o Centro de Empreendimento de Arte e Cultura?
Vários artistas cristãos possuem trabalhos e sonhos de grande potencial para o setor da economia criativa, no entanto têm pouco espaço no mercado. O Centro de Empreendedorismo de Arte e Cultura da ACRIART será um polo para a formação de artistas empreendedores que, além de desenvolverem seus trabalhos artísticos, estarão empenhados em expandir o setor e criar oportunidades. O centro está em fase de planejamento e estratégia para formação de parcerias. A perspectiva é iniciar as atividades no início de 2022. Nossa ideia é oferecer oficinas, workshops, palestras, consultorias, estudos e treinamentos para especializar e profissionalizar os artistas, com o intuito de dar ferramentas para a sustentabilidade de suas carreiras. E, assim, poder gerar oportunidades e contribuir para o crescimento do setor da economia criativa.
Fabiano Moreira
Diretor de produção e presidente da ACRIART