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Foto: Marcelo Santos modificada por IA

“SOBERANIA DE DEUS”

Teólogo destaca a doutrina da eleição sob a perspectiva da fé reformada e o impacto na propagação do Evangelho

Por Marcelo Santos

No meio evangélico, um dos principais temas geradores de acalorados debates é a doutrina da eleição. Essa perspectiva trata da escolha soberana de Deus para a salvação de alguns, desde antes da fundação do mundo, e sua relação com o livre-arbítrio, a capacidade humana de tomar decisões de maneira independente. “Tanto os fins quanto os meios são, e foram, estabelecidos por Ele”, acredita o teólogo Clinton Ramachotte, 31 anos, formado em Teologia pela Escola de Teologia Cristã Reformadores (ESTEC-REF) e autor de títulos como Os cinco Solas e eu: a prática piedosa da Reforma Protestante e A verdade de Deus no mundo: a importância de receber e crer, pela fé, na Palavra de Deus.

Ramachotte, que também é missionário, tem se debruçado sobre esse assunto, sob a visão da fé reformada. “Pregamos o Evangelho com o intuito de que pessoas conheçam a Deus, enquanto os resultados desse anúncio estão nas mãos dEle”, observa o membro da Igreja Batista em Moraes Prado, na zona sul de São Paulo (SP), com a esposa Giovanna, 24 anos.

Atuante na evangelização e no ensino na Escola Bíblia Dominical em sua congregação e mestrando em Teologia Filosófica no Instituto Bíblico de Educação Teológica (IBETEC), Clinton enfatiza a centralidade das Sagradas Escrituras e a autoridade divina na salvação, temáticas que permeiam tanto sua vida ministerial quanto acadêmica. Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, ele destaca a doutrina da eleição e os seus impactos na pregação do Evangelho, discute o papel dos cristãos na missão evangelística e fala da relação entre a soberania do Senhor e a responsabilidade humana.

Se Deus já escolheu Seus eleitos, por que pregar o Evangelho?

Há uma ordem explícita dada por Cristo (Mt 28.18-20). Assim, anunciar o Evangelho está atrelado à obediência a uma ordenança do Senhor. Deus ter Seus eleitos faz com que o evangelismo jamais seja um fracasso, pois Aquele que estabeleceu os fins, que é a salvação, também determinou os meios, ou seja, a evangelização. A Escritura mostra que Ele escolheu Seu povo (Jo 15.16, Rm 9.15-24, Ef 1.4, 2 Ts 2.13 e 2 Tm 1.9) e decidiu como salvá-lo: pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9), pela fé em Cristo (Jo 3.15-17) e por meio da pregação do Evangelho (Rm 10.13-17). Temos, na Escritura, o Deus que opera de eternidade a eternidade, no tempo e fora do tempo. Ele é soberano!

O Ide de Jesus é um mandamento para todos os cristãos? Como ele se relaciona com a doutrina da eleição?

A ordem de Jesus em Mateus 28.18-20 deve ser cumprida por todos os crentes, pois Ele é o Senhor, e somos Seus servos. Deus salva pecadores, até aqueles que parecem estar mortos em ofensas e pecados
(Ef 2.1) e em rebeldia (Rm 3.10-18). A salvação é obra do Salvador, não do pecador, e Deus controla tudo, inclusive aqueles que não crerão. Isso nos dá a certeza de que a missão, em vez de ser um fardo, é um prazer.

Que exemplos na vida de Jesus ilustram a importância da pregação no contexto da eleição divina?

A passagem bíblica de João 6 é um exemplo disso. Jesus Se apresenta como o pão da vida e prega à multidão, apesar de saber que muitos não creriam e O deixariam. Em João 10, Ele afirma que apenas Suas ovelhas ouvem Sua voz e O seguem, mostrando que, embora alguns rejeitem a mensagem, os que pertencem a Deus serão atraídos. Esses capítulos evidenciam que a pregação de Cristo reflete a doutrina da eleição, sendo essencial para chamar os eleitos.

De que maneira o apóstolo Paulo conciliava a missão evangelística com a crença na soberania de Deus sobre a salvação?

O apóstolo Paulo é, sem dúvida, o autor bíblico que mais tratou da eleição. É interessante: um ex-fariseu que se tornou missionário, enviado por Deus para pregar as Boas-Novas aos gentios, sustentava essa doutrina com convicção. Há um teor extremamente doutrinário nas epístolas paulinas, mas também existe um incentivo aos crentes para viverem de acordo com a crença que professam. Filipenses 2.12,13 é o melhor exemplo disso: no verso 12, Paulo os incentiva a desenvolverem a salvação, um ato prático; mas, no versículo 13, afirma que Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. A soberania de Deus na salvação e na santificação é expressa em todo o pensamento paulino.

Qual é a importância da pregação na edificação da Igreja, mesmo que nem todos os ouvintes sejam considerados eleitos?

A Palavra de Deus é o alimento do povo eleito e o instrumento que endurece o coração daqueles que a rejeitam. O profeta Isaías afirma que a Palavra nunca volta vazia (Is 55.11), mas cumpre o seu propósito e faz tudo o que o próprio Criador deseja. Sendo assim, ainda que nem todos os ouvintes sejam eleitos, a pregação cumpre o Seu objetivo: edificar os santos e endurecer os réprobos [maus]. O próprio Jesus experimentou situações semelhante em João 10.26, quando disse aos fariseus que eles não criam nEle, porque não eram do Seu rebanho.

A onisciência de Deus implica que o destino de cada pessoa já está traçado?

O fato de o Altíssimo ser onisciente significa que Ele conhece o passado, presente e futuro. O Senhor é atemporal, embora aja no tempo. Portanto, o Pai celeste não apenas conhece o destino de cada pessoa, como também tem um propósito para cada ser vivo; afinal, Ele é Rei sobre todos. O Criador tem direito sobre cada vida, e é maravilhoso reconhecer essa verdade, especialmente sabendo que o Eterno é justo, santo e bom.

Qual é o papel do livre-arbítrio diante da onisciência do Criador?

O livre-arbítrio é uma contradição de terminologia em qualquer campo acadêmico, teológico, científico ou filosófico. A Bíblia ensina que o arbítrio humano foi corrompido desde a queda (Gn 3) e completa: E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente (Gn 6.5). Como é possível que o arbítrio seja livre se o coração de todo ser humano é escravo do pecado? Tal liberdade é ilusória. O que temos, com certeza, é responsabilidade. Não fomos criados à semelhança de robôs ou androides, mas à imagem de Deus. Possuímos vontades e desejos, mas eles foram corrompidos pela transgressão. Sendo assim, somos, por natureza, filhos da ira (Efésios 2.1-3).

Fabrício Costa
Pastor, escritor e palestrante

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