POR QUE O MAL EXISTE?
15/12/2024
VERDADE LIBERTADORA
09/01/2025
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Foto: Michele / Adobe Stock

FÉ DESAFIADA

Em meio a guerras civis, conflitos e crises humanitárias, a Igreja de Jesus segue sua vocação de anunciar o Evangelho

Por Marcelo Santos

Em algumas regiões do planeta, pregar o Evangelho significa enfrentar desafios extremos: riscos de conflitos civis, guerras entre países vizinhos, ataques de grupos terroristas, opressão governamental e perseguição ou falta de liberdade religiosa. Diante de tantos perigos, missionários, pastores, evangelistas e obreiros estão sujeitos à detenção, prisão, tortura ou morte. Além disso, por causa do contexto social e político atual, tais servos do Senhor ainda precisam, em muitos casos, encarar as crises humanitárias: milhões de refugiados e desalojados.

O missionário brasileiro Homero Aziz, pastor da Igreja O Brasil para Cristo, e sua esposa, Débora Aziz, sabiam de todos esses desafios quando, há dez anos, escolheram pregar o Evangelho no Oriente Médio. Naquela época, eles definiram como destino a Jordânia (país árabe situado na margem leste do rio Jordão) que passara a receber centenas de milhares de pessoas que fugiam da Síria, então em plena guerra civil – desde 2011. Naqueles dias, a ascensão do grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS) elevou o nível da violência na região, sobretudo contra os crentes em Jesus. Apesar de tantas más notícias, Homero e Débora resolveram sair do Carrão, bairro da zona leste de São Paulo (SP), em 2014, enfrentando um voo de mais de 17 horas de duração para percorrer uma distância de 10.707 km.

O missionário brasileiro Homero Aziz, ao lado de sua esposa, Débora Aziz: “Cada desafio é uma oportunidade para fortalecer nossa missão e amparar mais pessoas. A fé nos dá força para continuar mesmo em condições adversas”
Foto: Arquivo pessoal

Ao chegarem, eles se depararam com um quadro caótico: até aquele ano, a Jordânia já havia recebido mais de 600 mil refugiados da Síria e alguns milhares de iraquianos e palestinos, gerando sérios impactos na economia e na infraestrutura local. Diante daquele cenário, Homero Aziz decidiu fundar uma igreja em Fuheis, bairro da zona sul da capital Amã, para oferecer apoio social e espiritual. A congregação, instalada próxima ao aeroporto internacional, tornou-se um centro de assistência, o qual permitia que os refugiados participassem de projetos remunerados enquanto aprendiam novas habilidades. “Distribuíamos alimentos e também prestávamos atendimento médico e apoio psicológico”, relata o pastor.

Enquanto ampliava a ajuda humanitária, criando até uma escola para crianças iraquianas, Aziz enfrentava as tensões provocadas por grupos extremistas, que tornavam o ambiente inseguro e instável para ele e sua família. Em 2018, a situação se agravou quando a região começou a ser atingida por mísseis disparados pelo Irã. “Durante o ataque, vi os mísseis passando sobre a nossa cabeça. O sistema de defesa da Jordânia interceptou a maior parte, mas um caiu muito perto de nossa casa”, recorda-se o pastor, assinalando que, apesar do susto, até recolheu pequenos pedaços do projétil como lembrança. “Cada desafio é uma oportunidade para fortalecer nossa missão e amparar mais pessoas. A fé nos dá força para continuar mesmo em condições adversas”, afirma Aziz.

A afegã Khada, um exemplo de fé e capacidade de enfrentar, e vencer, situações dolorosas
Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

Extrema violência – A Missão Portas Abertas, uma das principais organizações dedicadas ao apoio de cristãos perseguidos, está presente em territórios marcados pela violência, como o Afeganistão. Lá, o cotidiano dos cristãos é permeado por uma luta constante pela sobrevivência física e espiritual em um ambiente de imensa opressão. Esse país asiático figura na 10ª posição da Lista Mundial da Perseguição de 2024, ranking que aponta as 50 piores nações para um cristão viver.

A afegã Khada – nome fictício usado por questão de segurança – é um exemplo de fé e capacidade de enfrentar, e vencer, situações dolorosas. Ela entregou sua vida a Jesus após ouvir a Palavra de Deus por intermédio de uma amiga do trabalho. O esposo de Khada seguiu o mesmo caminho e se converteu ao cristianismo. Quando meu marido e eu começamos a ler as Escrituras, encontramos respostas para nossas perguntas e decidimos nos dedicar a Cristo, relata.

Francisco Cuellazos, com a filha Valentina: ameaças constantes em Cauca, na Colômbia, após sua conversão a Cristo
Foto: Arquivo pessoal

No entanto, aquela alegria foi interrompida abruptamente: Khada enfrentou momentos angustiantes devido ao desaparecimento do marido e, posteriormente, à dor do luto pela morte dele. Depois de dois dias, ele foi encontrado morto com sinais de tortura. Foi uma experiência tão traumática que entrei em coma, testemunha a afegã, que encontrou forças na oração e na leitura das Escrituras Sagradas para prosseguir em sua caminhada com Cristo.

Ameaças constantes – Do lado de cá, bem pertinho do Brasil, ser cristão também não é tarefa fácil. Em algumas aldeias da Colômbia, seguir o Evangelho exige um misto de coragem e resistência por causa das hostilidades de alguns grupos. É o que experimenta Francisco Cuellazos, morador do departamento [estado] de Cauca, no sudoeste colombiano. Músico e tesoureiro de sua igreja, Francisco enfrenta ameaças constantes, porque, após a conversão a Cristo, ele e outros irmãos na fé formaram um conselho cristão indígena. Essa iniciativa provocou a reação dos líderes indígenas da região, os quais tentaram fechar as igrejas e impedir o ensino dos valores bíblicos nas escolas.

De acordo com Francisco, ele e sua família vêm sofrendo perdas de direitos, como restrições à liberdade religiosa e ao acesso à educação. Sua filha mais velha, Valentina, passou a ser perseguida na escola e, por isso, teve de ser transferida para o Abrigo Lar Cristão, distante 15 horas de viagem. Ele diz que a mudança foi difícil emocionalmente, mas necessária para garantir a segurança da jovem. Ficamos tristes por mandar nossa filha para estudar tão longe, mas felizes por saber que ela não estaria mais em perigo, relatou, em depoimento à Missão Portas Abertas.

O Pr. Zachariah, que testemunhou, em maio de 2023, a devastação de Mangu, no estado de Plateau, no centro-oeste da Nigéria
Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

Imensos desafios – Cristãos de algumas partes do mundo são vítimas também de ações terroristas. É o caso de regiões como a África Subsaariana, parte do continente composta por 47 países (entre eles, Angola, Etiópia, Nigéria e Sudão) geograficamente localizados abaixo do Deserto do Saara. Segundo a edição 2024 do Índice Global de Terrorismo (GTI, a sigla em inglês), um relatório publicado anualmente, desde 2000, pelo Instituto de Economia e Paz, sediado em Sydney (Austrália), houve um aumento de mais de 2.000% nos casos de violência perpetrados por extremistas nos últimos 15 anos.

Na Nigéria, onde a população é praticamente dividida entre cristãos (46,18%) e muçulmanos (45,85%), multiplicam-se os atos de violência: 276 mortes e mais de 4 mil sequestros em 2023. Muitas vítimas são crentes em Jesus, como descreve o Pr. Zachariah – nome fictício usado por questão de segurança –, que testemunhou, em maio de 2023, a devastação de Mangu, a vila em que morava, situada no estado de Plateau, no centro-oeste nigeriano. Encontrei corpos e feridos na estrada, além de casas incendiadas, incluindo a minha. Entrei e procurei minha esposa e meu filho. Achei seus corpos na cozinha e fiquei devastado, descreveu o ministro.

Foto: Meysam Azarneshin / Adobe Stock

Em outros países, como República Democrática do Congo (ex-Zaire), Uganda, Burkina Faso, Camarões e República Centro-Africana, os cristãos têm sido forçados a deixar suas casas ou até mesmo fugir de sua terra natal por causa da perseguição de grupos terroristas islamitas. Nessas e em outras localidades da África Subsaariana, houve 4,6 mil mortes de seguidores de Jesus em 2023. E, ao todo, mais de 295 mil cristãos se tornaram refugiados. 

Na Ásia, centenas de igrejas não registradas (subterrâneas) da China foram fechadas pelas autoridades do governo de Pequim. Na Índia, no Paquistão e no Irã, tornou-se rotina a perseguição sistemática e a prisão de cristãos, incluindo detenções sem direito de defesa (ou seja, sem julgamento).

Na Nicarágua, na América Central, na Arábia Saudita, no Oriente Médio, e em Bangladesh, no Sul da Ásia, forças do governo ou de extremistas locais promovem ataques aos crentes em Jesus e impõem restrições severas à liberdade religiosa.

O Pr. Rafael Mariano aconselha: “Precisamos orar por nossas autoridades, mas sem ceder a pedidos condenáveis, obedecendo, assim, à Palavra de Deus”
Foto: Arquivo pessoal

Oração e fé – Na opinião do Pr. Rafael Mariano, reitor da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade), é essencial a atuação da Igreja em regiões de guerra ou com graves conflitos políticos. Nos casos em que há perseguição religiosa, opina Mariano, os crentes precisam dedicar tempo à oração e continuar fazendo a obra de Deus.

Indagado sobre aqueles países que passam por crises políticas, como a Venezuela, o reitor enfatiza “a importância de os cristãos não se envolverem em disputas partidárias” e se manterem firmes em oração, “para serem fortalecidos durante as dificuldades”. Citando o exemplo de Jesus, quando afirmou que Seu Reino não era deste mundo (Jo 18.36), Mariano frisa que a Igreja de Cristo deve se manter fiel ao seu chamado, sem se desviar dos princípios bíblicos. “Precisamos orar por nossas autoridades, mas sem ceder a pedidos condenáveis, obedecendo, assim, à Palavra de Deus.”

O Pr. Rafael Mariano destaca o trabalho de evangelização da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), que não apenas envia pastores, mas também produz e disponibiliza, via internet, farto conteúdo cristão. “A Igreja leva fé, esperança e conforto àqueles que sofrem”, enumera, pontuando que, embora muitos frutos desse trabalho só venham a ser conhecidos na eternidade, é crucial apoiar essas iniciativas. “Aqueles que não podem ir ao campo missionário devem, pelo menos, investir em programas evangelísticos, como os da Igreja da Graça, que realizam essa obra.”


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