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Foto: Arte sobre foto de Pexels / Pixabay

Base bíblica

Pastores e especialistas defendem a importância da família, igreja e escola atuarem juntas na formação religiosa dos pequenos

Por Evandro Teixeira

Especialistas de diversos campos do conhecimento são unânimes ao afirmar que a família é o núcleo social primário de uma criança. No lar, ela recebe e codifica as primeiras informações a respeito do mundo. E os primeiros intérpretes dos símbolos, dos gestos e das palavras são os pais ou responsáveis, que devem ajudar os filhos a entender o que veem e ouvem, mostrando-lhes o certo e o errado, indicando o caminho e orientando-os na jornada deles.

Nos lares cristãos, esse processo de instrução deve ter como base a Palavra de Deus. Entretanto, com o passar do tempo, surgem outros agentes que contribuem com a formação das crianças, como a escola e a igreja. Estudiosos evangélicos afirmam que o ideal seria que esses três “núcleos de ensino” estivessem em concordância e atuassem em parceria. Desse modo, família, escola e igreja forjariam, ao longo de quase uma década e meia, rapazes e moças capazes de chegar à fase adulta com o preparo necessário para enfrentar os desafios da vida com sabedoria, conhecendo e praticando os ensinamentos das Escrituras Sagradas e tendo Cristo como seu maior exemplo.

O educador André de Souza Lima, membro do Comitê de Gestão de Conhecimento da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (AECEP), assinala: “Cremos que a educação religiosa é algo inerente ao ser humano. Dessa forma, em tudo o que ele fizer, Deus deverá ser glorificado”
Foto: Arquivo pessoal

Contudo, não é o que acontece hoje em boa parte do Brasil e do mundo. Pesquisadores do assunto asseguram que a escola, geralmente, é o núcleo que menos se encaixa nesse esforço conjunto. Em muitos casos, as instituições de ensino podem inclusive apresentar aos alunos visões de mundo contrárias ao que é ensinado em casa. Para o educador André de Souza Lima, membro do Comitê de Gestão de Conhecimento da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (AECEP), organização que promove o desenvolvimento de escolas e educadores dentro de uma abordagem reflexiva e de fundamentação cristã, há pessoas que tratam a vida religiosa como um elemento à parte do cidadão. “Cremos que a educação religiosa é algo inerente ao ser humano. Dessa forma, em tudo o que ele fizer, Deus deverá ser glorificado.”

Foto: Arte sobre foto de Pexels / Dids

Pelo fato de o núcleo escolar não comungar dos mesmos objetivos da família e da igreja, muitos pais optam por matricular seus filhos em colégios confessionais evangélicos ou que ministram a disciplina de ensino religioso conforme as doutrinas protestantes. Hoje, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inclui o ensino religioso entre as áreas do conhecimento a serem desenvolvidas no ciclo fundamental (1º ao 9º ano), permitindo que essas aulas tenham caráter confessional (voltado para uma religião específica) ou interconfessional (de viés laico, com base na diversidade cultural e religiosa). Segundo uma decisão tomada em 2017 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as unidades públicas de ensino podem oferecer aulas confessionais, desde que sejam facultativas e respeitem a diversidade religiosa nacional. Já os colégios particulares são livres para ofertar a disciplina como desejarem.

O Pr. Niger Silva Martins considera relevante que a disciplina de ensino religioso esteja presente também no currículo do Ensino Médio e das universidades: “É necessário que haja instituições fundamentadas na Palavra voltadas para jovens e adultos, com professores capacitados”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião do educador André de Souza Lima, seja em uma escola particular confessional seja em um colégio público, os pais cristãos precisam estar atentos ao ensino religioso repassado aos seus filhos no ambiente educacional. Para Lima, os responsáveis devem conhecer a base curricular da instituição, seu programa escolar e sua filosofia pedagógica. “Mesmo que seja uma instituição de confissão religiosa, as aulas de formação cristã visam apenas auxiliar os pais na construção de um pensamento fundamentado nos princípios bíblicos”, alerta o pedagogo.

A dona de casa Manuela Araújo de Jesus diz que procura guiar as filhas no caminho de Deus até hoje: “Sempre peço ao Senhor sabedoria para ajudá-las em todas as situações”
Foto: Arquivo pessoal

Todas as idades – Já o Pr. Niger Silva Martins, da Igreja Nova Vida Ministério É de Deus, em Cascadura, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), considera relevante que a disciplina de ensino religioso esteja presente também no currículo do Ensino Médio e das universidades, e não apenas no Ensino Fundamental, como exige a BNCC. “É necessário que haja instituições fundamentadas na Palavra voltadas para jovens e adultos, com professores capacitados”, sugere o ministro. Entretanto, Martins alerta para a responsabilidade das famílias em não descuidar do papel de difusoras da Palavra de Deus e dos valores cristãos, dentro de casa, em todas as fases da vida.

A dona de casa Manuela Araújo de Jesus, 36 anos, cumpre bem a responsabilidade de orientar as filhas, Emanuelle, 21, e Marcela, 18, mesmo já crescidas. Casada com o motorista Marcos Célio Silva dos Santos, 48 anos, Manuela diz que procura guiá-las no caminho de Deus até hoje. “Sempre peço ao Senhor sabedoria para ajudá-las em todas as situações”, compartilha a membro da sede regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Rio das Ostras (RJ). “Apesar dos desafios que enfrentam e continuarão enfrentando, minhas meninas se mantêm firmes na fé”, celebra a mãe.

O Pr. Gilberto Suzano de Mattos afirma: seja qual for a faixa etária dos filhos, os pais devem instruí–los em casa, por meio de um discipulado sério e comprometido com a Palavra
Foto: Arquivo pessoal

Para o Pr. Gilberto Suzano de Mattos, da Igreja Batista do bairro Cehab, em Itaperuna (RJ), seja qual for a faixa etária dos filhos, os pais devem instruí-los em casa, por meio de um discipulado sério e comprometido com a Palavra. Assim, os rebentos terão as ferramentas necessárias para testemunhar a fé em Cristo onde estiverem, influenciando outros no caminho do Senhor. “Eles precisam de uma boa bagagem, pois, certamente, serão questionados sobre sua crença”, pondera o pastor.

A dona de casa Thaís Martins de Souza Bacharel entende a importância de seu papel na formação cristã dos filhos: “Estou ciente de que prepará-los para viver sob uma perspectiva cristã é uma empreitada que requer tempo e dedicação”
Foto: Arquivo pessoal

A dona de casa Thaís Martins de Souza Bacharel, 33 anos, concorda com o Pr. Gilberto de Mattos. Casada com o ferroviário José Augusto, 40, e mãe de Jully Ane, 13 anos, e Jhonatan, 7, ela entende a importância de seu papel na formação cristã dos filhos. Membro da Igreja da Graça em Barbacena (MG), Thaís relata que busca lhes ensinar a terem comunhão com Deus e respeitar os Seus mandamentos. De acordo com ela, é essencial preparar as crianças para os questionamentos e desafios que virão no ambiente social, especialmente a falsa ideia de liberdade que conduz muitos jovens a um fim trágico. “Estou ciente de que prepará-los para viver sob uma perspectiva cristã é uma empreitada que requer tempo e dedicação”, observa, destacando sua preocupação em transmitir os princípios da Palavra por meio de conversas e dos relatos bíblicos. “Além de nos mantermos firmes na tarefa de ensinar a Palavra, temos de estabelecer um canal transparente de diálogo com nossos filhos.”

A Pra. Fernanda Simões Jerônimo garante: “Se as questões associadas ao Reino de Deus forem priorizadas na família, as crianças, a partir de exemplos, não terão dificuldade para desenvolver um caráter fundamentado nos princípios cristãos”
Foto: Arquivo pessoal

Pensamento semelhante tem a Pra. Fernanda Simões Jerônimo, líder regional do ministério infantil da IIGD em Campos Elíseos, Ribeirão Preto (SP). Embora reconheça o empenho de alguns pais e da igreja em oferecer uma boa educação religiosa aos pequenos, a pregadora admite que é preciso fazer mais. Segundo ela, os responsáveis precisam adotar, nos lares, um modelo de vida no qual Cristo seja sempre o protagonista. “Se as questões associadas ao Reino de Deus forem priorizadas na família, as crianças, a partir do exemplo, não terão dificuldade para desenvolver um caráter fundamentado nos princípios cristãos.”

De acordo com a Pra. Gilvania Cabral de Alvarenga Silva Teles, líder de adolescentes e jovens da Igreja do Evangelho Quadrangular em Santa Eugênia, Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, para que haja a construção de uma formação cristã entre os mais jovens, deve existir um alinhamento entre as famílias e as igrejas. Ela esclarece que a família tem primeiro a responsabilidade na formação espiritual dos filhos e lembra que os pais também precisam estar abertos à orientação pastoral. “Há aqueles que não aceitam conselhos e acabam cedendo a todas as exigências das crianças”, observa a líder, assinalando que tanto as lideranças precisam estar preparadas para ouvir e dar suporte pastoral às famílias, quanto os responsáveis devem estar abertos para escutar as orientações dos líderes. “É essencial terem a consciência de que, em tudo, Deus deve ser priorizado.”

A Pra. Gilvania Cabral de Alvarenga Silva Teles afirma: “É essencial [famílias e igrejas] terem a consciência de que, em tudo, Deus deve ser priorizado”
Foto: Arquivo pessoal

Capacidade de assimilação – A pedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira, da Assembleia de Deus em Cabuçu, Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, destaca que as igrejas podem contribuir nessa equação, oferecendo um ensino eficiente e estratégico aos pequenos. “As crianças são, por natureza, intuitivas. Trata-se de uma característica que pode facilitar no aprendizado. Sabemos que elas tendem a absorver melhor os ensinamentos por meio de atividades recreativas”, observa.   

No entanto, a especialista afirma que não existe uma estratégia única de ensino e que seja totalmente eficaz. Porém, se bem executadas, todas as ferramentas pedagógicas podem contribuir para o bom desenvolvimento da garotada na igreja e em casa. Evanize ressalta que, para alcançar esse objetivo, é necessário levar em conta a capacidade de assimilação das crianças – algo que não corresponde necessariamente à idade cronológica, e sim à capacidade cognitiva de cada uma. “É preciso orientá-las, levando em consideração o nível de compreensão delas. Pais e educadores devem estar atentos a isso.”

A pedagoga Evanize Rodrigues Flôres de Oliveira observa: “Sabemos que elas [as crianças] tendem a absorver melhor os ensinamentos por meio de atividades recreativas”
Foto: Arquivo pessoal

A líder do ministério infantil da IIGD no Setor Garavelo, em Aparecida de Goiânia (GO), Poliana Fernandes Silva de Amorim, 39 anos, concorda com Evanize. Ela acredita ser fundamental conhecer cada fase de desenvolvimento dos pequenos, a fim de obter bons resultados com o ensino religioso. Do contrário, a falta desse conhecimento pode levar pais e professores a cometerem erros. “Temos de buscar sabedoria para acolher e instruir nossos filhos. A paciência é uma virtude necessária.”

A líder do ministério infantil Poliana Fernandes Silva de Amorim lembra: “Temos de buscar sabedoria para acolher e instruir nossos filhos. A paciência é uma virtude necessária”
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Poliana de Amorim acrescenta que famílias e igrejas precisam se adaptar à Era da Informação, uma vez que, no mundo atual, é impossível imaginar uma infância sem tecnologia. Esses recursos, sublinha ela, podem ser aliados dos pais, desde que eles saibam usá-los de forma inteligente, estabelecendo limites e selecionando bem os conteúdos disponíveis à criança. A mesma orientação vale para os professores voluntários nas igrejas. A líder acredita que, em todo esse processo de ensino, o mais importante é que cada um dos agentes envolvidos – família, igreja e, em alguns casos, escola – busquem a orientação divina, estabelecendo uma relação de parceria equilibrada de modo que Deus seja o centro de tudo. “Temos de deixar um legado de fé para a futura geração”, conclui.


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