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Foto: Cleber Nadalutti

Evangelização digital

Pesquisa revela que muitas pessoas utilizam ferramentas de busca da internet para saber mais sobre a fé cristã

Por Ana Cleide Pacheco

Como estará o tempo amanhã?”; “O que vai funcionar no feriado?”; “Onde comprar um novo par de sapatos?”. Usar a internet para buscar informações sobre os mais diversos assuntos é um hábito difundido em todo o mundo. Diante de uma dúvida qualquer, basta “dar um Google”[ou seja, digitar uma palavra-chave nessa ferramenta de buscas on-line ou em similares, como Bing e Yahoo]. O resultado, invariavelmente, será um número quase infinito de links para blogs, vídeos, sites de todo tipo e até artigos científicos sobre o tema pesquisado.

Em geral, as pessoas repetem esse comportamento quando o questionamento se refere à fé cristã, segundo um estudo recente conduzido na Inglaterra o qual pretendia revelar o pensamento dos britânicos acerca de Jesus, dos cristãos e da evangelização. Indagados sobre onde buscariam obter informações a respeito do cristianismo, 26% dos não cristãos responderam que fariam isso no Google, enquanto 22% recorreriam à Bíblia. Outros 22% procurariam sanar suas dúvidas indo a uma igreja local, 15% conversariam com um amigo ou familiar cristão, 13% visitariam algum local de culto que estivesse aberto, e 12% tentariam encontrar o líder de uma comunidade cristã local.

Rachel Jordan-Wolf, diretora-executiva da Hope Together, assevera: Em uma era digital, a Igreja precisa pensar digitalmente quando se trata de evangelização. Isso é realmente importante
Foto: God Stories Today / Youtube

A pesquisa foi levada a efeito pela Aliança Evangélica do Reino Unido e outras organizações parceiras, entre elas, a Hope Together, associação que visa mobilizar diversas igrejas para difundir a Palavra de Deus no país. Em uma era digital, a Igreja precisa pensar digitalmente quando se trata de evangelização. Isso é realmente importante, destacou Rachel Jordan-Wolf, diretora-executiva da Hope Together, em um vídeo de apresentação do levantamento.

Para o Pr. Tiago de Medeiros Pena, 38 anos, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), saber que algumas pessoas estão atrás de informações sobre a fé cristã pela web, e de forma espontânea, é ótimo. “Sou da época em que o evangelismo era feito de porta em porta, e não existiam outras maneiras [de fazer esse tipo de evangelização]. Para participar de um culto, era preciso estar no templo ou em reuniões nas casas”, recorda-se ele, destacando ser “um dever” dos conhecedores da Palavra ajudar a quem está buscando saber mais sobre o Senhor.

O Pr. Tiago de Medeiros Pena recorda-se: “Sou da época em que o evangelismo era feito de porta em porta, e não existiam outras maneiras [de fazer esse tipo de evangelização]. Para participar de um culto, era preciso estar no templo ou em reuniões nas casas”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Tiago Pena, a internet é um instrumento importante na apresentação da Verdade àqueles que, por algum motivo, não conseguem estar em uma reunião cristã, pela distância, por problemas de locomoção ou outras limitações. “A web aumentou o alcance das igrejas, e, hoje, podemos ir mais longe. Diversas pessoas chegam aos cultos graças ao primeiro contato que tiveram com alguma pregação on-line”, assinala o pregador. Ele crê que a Igreja precisa orar e investir cada vez mais nessas ferramentas, a fim de alcançar um número ainda maior de pessoas. “À medida que o Espírito Santo for derramado, elas poderão viver as promessas do Pai. Assim também é para os cristãos, os quais devem buscar conhecer e prosseguir conhecendo o nosso Senhor, como está escrito em Oséias 6.3 [Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra]. Isso é maravilhoso”, alegra-se.

Bom uso – A psicóloga Adriana Duarte lembra que a internet é o veículo de comunicação que mais atrai crianças, jovens e adultos atualmente. Por isso, ela ressalta a necessidade de utilizar bem seus recursos para evangelizar, testemunhar e viabilizar o livre acesso à Bíblia. Para a especialista, com criatividade, é possível atingir pessoas que nunca se propuseram a conhecer uma Igreja, tampouco ler a Palavra.
“O mundo está mudando, e a pandemia acelerou a migração para o meio digital. Os jovens estão, a cada dia, dialogando com essa era virtual e, não raramente, muitos usam suas redes sociais para falar de Jesus.”

Na opinião de Duarte, esse novo mundo representa um desafio ainda maior para a Igreja, a qual tem procurado cumprir seu papel de anunciar as Boas-Novas por todos os meios possíveis. “Ela continua propagando o Evangelho que salva com amor, atrai, aquece, conforta e acolhe”, sublinha a psicóloga. Adriana também assinala, entretanto, que, para obter mais êxito nessa tarefa, a membresia precisa não apenas falar sobre Cristo, mas também ouvir o que os sedentos por Ele têm a dizer. “O ambiente virtual é enriquecedor, e esse assunto deveria ser mais abordado pelas comunidades de fé, já que o Brasil é um dos países no qual as pessoas passam mais tempo on-line.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Realidade nacional]

A psicóloga Adriana Duarte lembra: “O mundo está mudando, e a pandemia acelerou a migração para o meio digital. Os jovens estão, a cada dia, dialogando com essa era virtual e, não raramente, muitos usam suas redes sociais para falar de Jesus”
Foto: Arquivo pessoal

A análise da Aliança Evangélica do Reino Unido, citada no início da matéria, mostra que os cristãos também buscam informações na internet sobre sua fé e, para isso, lançam mão do Google a fim de aprimorar seus conhecimentos bíblicos. O jornalista e pastor
Josias Cruz, 53 anos, acredita que, de fato, a web pode facilitar o estudo da Palavra, o que é sempre proveitoso e bem-vindo. “Em tempos passados, para estudarmos o Evangelho, precisávamos de dicionários, enciclopédias bíblicas, bíblias de estudo, além de um tempo de pesquisa muito maior”, salienta o líder da sede regional da IIGD no Méier, zona norte do Rio de Janeiro (RJ).

Contudo, na opinião do pastor, o cristão precisa fazer bom uso da tecnologia, já que, por meio da rede mundial de computadores, ele pode ter acesso a todo tipo de informação, inclusive aquelas que não combinam com os ensinamentos do Altíssimo. “Devemos alertar e aconselhar nossas crianças, nossos jovens e mesmo os membros de nossa igreja a tomar cuidado, pois hoje é muito fácil ‘cair’ no erro.”

Fator cultural – O psicanalista Gilberto Sattler, 46 anos, concorda com o Pr. Josias Cruz. Para o especialista, buscar aprender acerca da Palavra de Deus e da fé cristã na internet pode ser bom, desde que a pessoa se preocupe com as informações falsas disseminadas no mundo digital. “É preciso atentar para as armadilhas teológicas apresentadas como caminho para a salvação, que distorcem a Verdade, roubam o lugar de Jesus e desfocam a imagem do único e suficiente Salvador.”

O jornalista e pastor Josias Cruz salienta: “Em tempos passados, para estudarmos o Evangelho, precisávamos de dicionários, enciclopédias bíblicas, bíblias de estudo, além de um tempo de pesquisa muito maior”
Foto: Arquivo pessoal

Por outro lado, de acordo com Sattler, há décadas, os meios de comunicação têm exercido um papel relevante na evangelização. “A internet potencializou isso de forma global”, ressalta ele, lembrando que, embora a grande rede seja capaz de colocar as pessoas em contato com a mensagem cristã, jamais substituirá o contato pessoal. “Esse ‘estar presente’ faz muitos verem os servos de Deus como amigáveis, atenciosos, bem-humorados e generosos.” Sattler refere-se a outro ponto da pesquisa, o qual mostrou as principais características dos seguidores de Jesus, indicadas pelos não cristãos. São elas: amigáveis ​​(62%), atenciosos (50%), bem-humorados (33%) e generosos (32%).

No entanto, curiosamente, o viés se torna negativo quando a instituição Igreja é avaliada. Nesse caso, consideram-na hipócrita (26%) e “mente fechada” (26%). Ao comentar esse resultado, a psicóloga Maria do Socorro Mello Brandão, 60 anos, não se mostrou surpresa porque, segundo ela, esse tipo de posicionamento é antigo. “O fato de as pessoas taxarem a Igreja dessa maneira é cultural, pois se convencionou dizer que muitos se mostram de uma maneira nos templos, mas, ao saírem dali, têm comportamentos completamente diferentes.”

A psicóloga Maria do Socorro Mello Brandão aconselha: “Acredito ser importante que a Igreja ouça a todos, mas sem negociar os seus valores”
Foto: Arquivo pessoal

A especialista destaca que é esperado ver as comunidades cristãs sendo taxadas de “mente fechada”, isso se deve ao posicionamento bíblico frente a temas polêmicos. “Acredito ser importante que a Igreja ouça a todos, mas sem negociar os seus valores. O fato de vários apontarem os cristãos como atenciosos, generosos e bem-humorados é uma prova de que aqueles que caminham com Deus têm, em sua vida, algo especial, capaz de alcançar outras pessoas.”

Palavras e ações – Justamente pelos cristãos serem considerados referência, não falta gente buscando saber mais sobre a fé dos crentes em Jesus. Por isso, segundo a psicóloga Neizi Batista de Santana, 58 anos, os servos de Cristo devem estar preparados e sentir alegria em poder compartilhar a Palavra. “Em Atos 2.43-47, podemos ler sobre a vida dos primeiros cristãos. Precisamos olhar para as ações deles e voltar a fazer o que faziam, ou seja, coisas relevantes no mundo espiritual”, frisa a especialista, membro da Assembleia de Deus Ministério Vale de Jaboque em Guilherme da Silveira, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). “É nosso dever declarar nossa fé, não só por palavras, mas também com ações”, afirma.

A psicóloga Neizi Batista de Santana opina: “Não precisamos ter medo de testemunhar Cristo quando vivemos com Ele e por Ele. Os primeiros cristãos tinham esse perfil. Nosso chamado é falar do Messias, levar a Palavra e amar o nosso próximo”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião da psicóloga, seja por meio da internet seja em uma conversa olho no olho, o crente em Jesus deve falar com ousadia sobre Aquele em quem tem posto a sua fé. “Não precisamos ter medo de testemunhar Cristo quando vivemos com Ele e por Ele. Os primeiros cristãos tinham esse perfil. Nosso chamado é falar do Messias, levar a Palavra e amar o nosso próximo.”

Realidade nacional

O potencial evangelístico da internet é gigantesco, a julgar pelo resultado da última edição da pesquisa TIC Domicílios, a qual expôs que 81% dos brasileiros acessaram a web em 2021. Sendo assim, mais de 170 milhões de pessoas estão conectadas, de acordo com esse levantamento, realizado pela organização Cetic.br, a partir de entrevistas feitas em 23.950 domicílios brasileiros entre outubro de 2021 e março de 2022.

Foto: Pexels / Andrea Piacquadio

O número de usuários da grande rede vem crescendo ao longo dos anos: em 2019, esse percentual era de 74%. A pesquisa mostra também que os jovens são os mais conectados: 94% dos entrevistados com idades de 16 a 24 anos declararam ter usado a internet em 2021. Em segundo lugar, estão as pessoas com 25 a 34 anos (91%), seguidas das que têm de 10 a 15 anos (90%), depois aquelas que estão na faixa etária de 35 a 44 anos (89%), indivíduos com 45 a 59 anos (78%) e quem tem 60 anos ou mais (48%).

Além disso, a população do Brasil está entre as que mais gastam tempo na internet. Um levantamento da empresa de serviços de rede privada virtual NordVPN sobre os nossos hábitos digitais mostrou que, em média, os brasileiros se conectam por volta das 8h30 e só se desconectam da web às 22h. Em sete dias, são, em média, mais de 90 horas on-line. Nesse meio tempo, os usuários passam pelo menos 12 horas semanais assistindo a vídeos no YouTube e gastam 11 horas por semana nas redes sociais, principalmente WhatsApp, Facebook e Instagram. A sondagem, feita em janeiro deste ano, apurou respostas apenas de pessoas maiores de 18 anos. (Élidi Miranda, com informações de G1 e Techtudo)


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