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01/09/2022Vãs filosofias
Estudo estadunidense levanta preocupação quanto à capacidade dos pais cristãos de fornecer aos filhos ensinamentos bíblicos
Por Patrícia Scott
A Bíblia fala claramente sobre a importância de os pais ensinarem os filhos a conhecer os mandamentos do Senhor. É o que registra, por exemplo, o livro de Deuteronômio: E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te (Dt 6.6,7). O autor do Salmo 78 afirma: Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que fez […] para que pusessem em Deus a sua esperança e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos (Sl 78.4-7). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo exorta: E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.4).
Contudo, hoje, vários pais que se identificam como cristãos estão abandonando essa prática, como demonstra uma pesquisa realizada pela Universidade Cristã do Arizona, nos Estados Unidos, em parceria com o instituto Barna Group. De acordo com o levantamento, boa parte dos pais estadunidenses – especialmente aqueles com filhos pré-adolescentes – está deixando de lado a prática de ensinar às novas gerações os princípios das Escrituras. Isso porque eles mesmos não creem, de fato, na Bíblia.
O resultado do inquérito, divulgado no primeiro semestre de 2022, apresenta respostas de uma amostra de 600 pais que se identificam como cristãos e têm filhos menores de 13 anos. A pesquisa mostrou, por exemplo, que menos da metade dos entrevistados (42%) vê a Bíblia como a exata Palavra de Deus. Ao serem questionados se criam que o propósito da vida é conhecer, amar e servir a Deus com todo o coração, mente, força e alma, apenas 28% deles responderam afirmativamente. Da mesma forma, somente 29% dos entrevistados acreditam que a base da verdade é Deus, revelado por meio da Bíblia.
O pastor e autor George Barna, fundador do instituto que leva seu sobrenome e responsável pela sondagem, alertou sobre o perigo da adoção de uma filosofia de vida confusa pelos pais que se autointitulam cristãos, mas não adotam para si mesmos o cristianismo bíblico autêntico. Para Barna, se a criança vai à igreja e aprende que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas, em casa, ouve dos pais que isso não é bem assim, crescerá com pensamentos contraditórios a respeito da fé. Quando as crianças são expostas a ensinamentos – por meio de palavras ou ações, formais ou informais – que são discordantes, elas naturalmente concluem que a fé cristã é inerentemente contraditória e, portanto, pode não ser o que elas procuram como filosofia de vida, alertou.
Ainda de acordo com Barna, a Bíblia atribui aos pais a responsabilidade primária de moldar a visão de mundo dos filhos e cabe àqueles equipar estes para que cresçam na comunhão com o Criador e no serviço a Deus. Isso requer o desenvolvimento intencional e consistente de uma cosmovisão [visão de mundo] bíblica na mente e coração das crianças, uma vez que a cosmovisão de cada pessoa começa a se desenvolver antes do segundo ano de vida, acrescentou.
Imitação e repetição – A escritora norte-americana Joyce Thompson, ao analisar a questão familiar, do ponto de vista bíblico, no livro Um guia para os pais: preservando uma semente de justiça (Graça Editorial), adverte: para que os filhos sejam cristãos verdadeiros, é necessário, primeiro, perceberem que os pais confiam no Senhor. A autora alerta tanto para os ensinamentos contrários à Bíblia quanto para os comportamentos dos pais opostos à Palavra de Deus. De acordo com ela, o velho chavão “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” é inútil para a educação dos filhos. Quando você estiver errado ou deixar de viver nos padrões elevados que Deus nos pede, desculpe-se com seus filhos. Ensine-os a fazer o mesmo. Dê um exemplo que diz: ‘Siga-me, como eu sigo Jesus’. Não entre no caminho de Deus dando mau exemplo. Nosso objetivo é criar adultos maduros e piedosos. Devemos ser um exemplo vivo de como queremos que nossos filhos sejam, afirma Thompson.
A psicóloga Alessandra Augusto concorda com a autora norte-americana e lembra que a conduta dos pais interfere no modo como os pequenos percebem tudo à volta deles. Além disso, segundo a especialista, não há limite de idade para os pais exercerem influência sobre os filhos. “Enquanto estiverem vivos, estarão persuadindo. O grande desafio é que seja de maneira positiva.”
Já o psicólogo Jimmy Magalhães ressalta que, na infância, o aprendizado se dá, principalmente, por imitação e repetição. “Os pais são as primeiras referências dos filhos. Eles irão cunhar seu desenvolvimento intelectual, social e emocional, assim como a fé, a partir do que aprendem com os responsáveis”, pontua. Ele acrescenta que o aprendizado é maior a partir do exemplo do que das palavras. Por isso, o especialista concorda que, se os pais são cristãos, e não agem ou pensam conforme as Sagradas Escrituras, vão permitir que os filhos cresçam com muitas dúvidas e conflitos a respeito da fé. “Eles perceberão que o ensinamento bíblico não é seguido e que podem fazer o mesmo.” Em sua opinião, somente com compromisso e amor pelo Evangelho, será possível firmar os filhos na presença de Jesus. “Não deve ser algo imposto, e sim compartilhado. Os filhos precisam compreender os benefícios de seguir as práticas cristãs.”
Exemplo e palavras – O Pr. Carlos Alberto Mendes, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Praia de Leste, Pontal do Paraná (PR), reforça a relevância de os pais serem exemplos de fé para os filhos. “Eles são a base, o espelho. Se ensinarem na direção, nos princípios do amor, da Verdade e no temor de Deus, os filhos seguirão na direção correta”, assegura.
É justamente esse o preceito que orienta a obreira Cristiene Ferreira Machado, 37 anos, na criação de sua filha, Iauanny, 13. “Não é pelo falar que os filhos aprendem, mas pelos exemplos. Procuro dar o meu melhor, como serva de Deus e como mãe, para o caráter dela ser moldado. Aos 13 anos, minha filha é batizada nas águas e ajuda no ministério infantil. Não forcei. Foram escolhas pessoais”, revela Cristiene, obreira da IIGD em Jardim Oriente, na cidade de Valparaíso de Goiás (GO). Em sua visão, o maior desafio é mostrar à filha, por meio do próprio exemplo, a necessidade de ela depender totalmente do Senhor, em qualquer situação. “Ensino que nada pode ocupar o lugar de Deus no nosso coração e que Jesus permanece no controle, não importando as circunstâncias.”
A empresária Alessandra Vilela Moscardini Vaneli, 41 anos, também procura ensinar o filho, Lucas, 13, tanto pelo exemplo quanto por palavras. “Acredito que os dois tipos de ensinamentos se completam e tornam a educação mais eficiente”, avalia ela, que é casada com o Pr. Narciso Vaneli, 44 anos, líder regional da IIGD de Governador Valadares (MG). À frente do ministério Mulheres Que Vencem (MQV) em sua cidade, Alessandra frisa que não há desafios na educação dos filhos quando os pais são guiados pelo Espírito Santo.
Primeira responsabilidade – Na opinião de Kênia Ribeiro Ferreira, líder do ministério infantil da Igreja da Graça em Jardim Oriente, Valparaíso de Goiás (GO), não é difícil identificar crianças que moram em lares onde os pais, que se dizem cristãos, vivem de forma incoerente com a Bíblia. “Elas relatam situações vividas em casa que demonstram a total falta de sabedoria dos pais na maneira de falar e de agir”, lembra-se Kênia, a qual enumera algumas características dessas crianças. “São agitadas, carentes, inseguras e agressivas.”
Líder do ministério Fortalecendo a Família, o Pr. Sérgio Leoto cita o texto mostrado no início desta reportagem (Dt 6.6,7) e aponta o significado desses versículos bíblicos. “Antes de falar sobre o que devemos transmitir aos filhos, a passagem destaca uma atitude devocional pessoal que os pais devem cultivar diante de Deus.” De acordo com Leoto, pai e mãe precisam ensinar o que têm vivido e aprendido dEle, aproveitando situações comuns do cotidiano. “Só os pais têm essas ótimas oportunidades.” Ele reconhece que a Igreja pode ajudar a comunicar o Evangelho aos pequenos, mas adverte que essa responsabilidade é primordialmente dos pais. “Instrua seus filhos a conhecer, a amar e a buscar o Senhor, obedecendo à Sua Palavra!”