Vida cristã
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Pastores e líderes falam sobre a advertência bíblica de honrar pai e mãe
Por Lilia Barros
A ordem dada por Deus a Moisés: Honra a teu pai e a tua mãe (Êx 20.12) estabelece que os pais devem receber tratamento afetuoso por parte dos filhos. O mandamento é seguido de uma promessa para quem o cumpre: ter vida longa e abençoada. Esse estatuto bíblico é perpétuo, não se limitando a período histórico, fronteiras geográficas ou culturas específicas. Por isso, deve nortear o comportamento de quem deseja se sentir realizado.
Indagado pela reportagem de Graça/Show da Fé, o Pr. Maiquel Marques, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Rio de Janeiro, ratificou que honrar pai e mãe significa dar-lhes atenção especial. “Nascemos deles e fomos criados por eles”, lembra o ministro, ressaltando que a consideração deve partir dos filhos biológicos e dos adotivos. “Devemos honrar nossos pais até o fim da vida, e não abandoná-los quando estiverem idosos”, aconselha.
O Pr. Paulo Sabino, líder estadual da IIGD em Pernambuco, cita José do Egito como exemplo de quem cumpriu essa ordenança. “Quando se tornou governador, ele mandou buscar Jacó, a fim de deixá-lo na boa terra de Gósen. Observe, ao honrarmos nossos pais, somos bem-sucedidos na Terra”, assegura Sabino. Ele ensina que, quando há honra, mesmo que o pai tenha sido incoerente e até injusto, o rebento colhe bons frutos. No entanto, se o filho agir ao contrário, não prosperará.
Questionado se pais e mães negligentes ou abusadores também seriam dignos de honra, o pastor afirma que o mandamento é o mesmo. “Há pessoas que não perdoam os pais, mesmo depois da morte deles, porque se sentiram injustiçadas. Elas não conseguem progredir por isso. Não perdoar é uma falta grave que tem conduzido jovens ao mundo do crime”, alerta Sabino, destacando que alguns se tornam adultos infelizes e frustrados. “Nada dá certo para eles. Vivem na tristeza”, lamenta. O ministro do Evangelho pontua que as consequências dos erros cometidos no passado não podem ser apagadas, mas oferecer perdão ao ofensor tem uma função reparadora: “O amor cura. É o dom supremo. Quem honra os pais honra o próprio Deus e prolonga a vida física e a espiritual.”
No Antigo Testamento, a palavra honra, no original hebraico, é kavod, que tem praticamente a mesma raiz de kaved, que significa peso. O termo é usado para designar a glória, a presença manifesta do Senhor no meio do Seu povo. Toda pessoa que alcança um nível de honra alcança um nível de glória. Nossos pais têm um peso de honra e glória. Sem eles, não existiríamos nem seríamos quem somos. O peso de glória é o quanto aquela pessoa é importante para nós. A honra é um princípio e, portanto, é incondicional e inegociável. Honra significa valorização, apreciação, estima. É reverenciar, tratar com distinção e deferência. Honrar alguém é ter alta consideração por ele, enxergá-lo como importante e precioso, explica o pastor e conferencista Joel Engel, em sermão postado no canal dele na plataforma YouTube. O pregador ensina que os pais devem receber a devida importância, tendo a presença dos filhos e sendo amparados financeiramente para levarem uma vida digna.
Conexão única – Criadora do projeto Mãe Posicionada, a psicopedagoga Marcela Cristina dos Santos Paulo, membro da Igreja Profetizando às Nações, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), atende mulheres que vivem crises existenciais e maternais. Para ela, seja qual for a situação, os pais merecem consideração. “Quando a Bíblia orienta que devemos honrá-los, trata-se de uma ordem direta aos filhos, independentemente de como sejam o pai e a mãe. Cabe assumir essa responsabilidade, pois a conexão com eles é única.”
Por sua vez, a escritora e palestrante Ilma Cunha alerta para o perigo de não honrar os pais: “A desonra lança o indivíduo a um lugar de orfandade, errância e vazio de paternidade, causando reações produzidas por feridas da alma”. Em seu ponto de vista, o filho que não honra pai e mãe permanece cativo emocionalmente, pois alimenta a ira, a fonte da desonra. “A raiva direcionada aos pais impede que os filhos lhes perdoem e cuidem deles. A desonra anestesia mentalmente essas pessoas, porque elas estão focadas apenas nas perdas”, analisa.
A profissional se dedica ao estudo e à pesquisa de temas relacionados à família e ao comportamento humano e aponta que honrar os pais é a base para a construção de relacionamentos interpessoais felizes. Cunha assinala que, a partir das vivências em casa, o filho se preparará para as conexões futuras. “Desse modo, a maneira como ele lida no convívio familiar define o sucesso e a direção que seguirá. É injustificável não honrar os pais, alegando imperfeições, pois ninguém é perfeito. Eles foram usados por Deus para nos trazer ao mundo.”
A especialista cita o caso de um funcionário de uma empresa em que prestou serviços. “Certa vez, ele me disse: Meu pai morreu para mim. Eu o matei dentro de mim. Então, perguntei se ele havia se tornado um sepulcro ambulante, carregando mortos-vivos dentro da alma dele”, recorda-se Ilma Cunha, revelando que aquele colaborador havia assumido uma posição de liderança na organização, mas sentia dificuldades para exercer a função, porque sempre se isolava dos liderados. “A fragilidade havia aflorado de um coração fechado para o pai, dentro de uma dor que o impedia de ocupar um lugar de autoridade na firma. Para que as pessoas não percebessem o quão frágil era, ele ficava recluso. Por essa razão, a honra aos pais tem uma função ampla para o filho”, argumenta.
Na opinião do Pr. Vanderlei Schueng, líder estadual da IIGD em Rondônia, honrar pai e mãe é a melhor maneira de fazer a vida valer a pena. “É agir de modo certo, trilhando os caminhos da honestidade. Afinal, os pais têm uma posição estratégica do ponto de vista biológico e espiritual”, afirma o pastor, mencionando as palavras do apóstolo Paulo em sua carta aos efésios: Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra (Ef 6.1-3). “É a nossa maior bênção. Quando os honramos, entramos no nível espiritual para receber a dádiva de uma vida longa e próspera, pois nossos pais são autoridades constituídas por Deus.”
Honra e glória – A escritora Patrícia Pedro defende que o direito à honra garantido pelo Senhor aos pais não lhes retira a responsabilidade de darem bom exemplo. Segundo ela, os responsáveis devem conquistar a honra, a admiração e a gratidão dos filhos. “Para que alguém honre o outro, este outro precisa carregar honra consigo. Os filhos precisam ver em casa atitudes de respeito, ética, dignidade, maturidade e sensatez. Testemunhando isso, eles serão atraídos para o peso da glória e da honra carregada pelos pais.”
De acordo com a autora, a estrutura familiar norteará a criança nos demais vínculos sociais que serão criados: primeiro, a partir da escola e, depois, em todas as outras esferas. “Os filhos precisarão ter extraído dos pais suas matrizes de princípios de honra”, afirma Patrícia, desmistificando chavões que não contribuem para esse processo. “O ditado: Faça o que eu mando, e não o que eu faço é problemático. O correto é: Faça o que eu faço. A frase: Me respeita, porque sou mais velho, como se a pessoa soubesse tudo, também não é válida. Há muitos jovens cheios de saber. Precisamos beber dessas fontes”, opina. “Às vezes, colocamos sobre os filhos a responsabilidade de serem iguais aos pais. Assim, tolhemos as análises deles”, conclui Patrícia, sublinhando que os pais precisam humanizar a relação deles com os filhos.
Como honrar?
Veja como honrar os pais no dia a dia:
– Reconheça e celebre as conquistas deles.
– Separe um tempo para ouvir as experiências deles.
– Celebre datas especiais, como aniversários.
– Valorize momentos em família.
– Não descumpra as ordens deles.
– Seja um aluno aplicado e um profissional bem-sucedido.
– Zele pela integridade física deles.
– Demonstre respeito, gratidão e seja atencioso.
– Não os trate mal quando estiver irritado.
– Acalme-se antes de resolver qualquer problema.
– Perdoe! Pais e mães não estão isentos de errar.
(Lilia Barros com informações dos entrevistados desta reportagem)