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Homens cristãos falam sobre como educam seus filhos e lhes transmitem os valores bíblicos, sem deixar de lado a afetividade
Por Marcelo Santos
Quando o pequeno Luís Augusto, de apenas oito anos, em sua inocência, ouviu que o preço do pacote de figurinhas de futebol seria de 60 centavos, ficou em êxtase. “Vamos conseguir completar o álbum!”, comemorou. Na fila, à frente de outras pessoas e diante do balcão, a criança estava acompanhada de seu pai, Carlos Roberto da Silva, pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) e líder estadual do ministério Homens que Vencem (HQV) em São Paulo.
Carlos estava acostumado a comprar figurinhas para o álbum de seu filho durante os passeios e sabia que o preço cobrado estava subfaturado. “Expliquei ao moço que aquele valor estava incorreto, pois, geralmente, eu pagava em torno de quatro a cinco reais por pacote, jamais 60 centavos.” O vendedor achou estranho que, diante de uma oportunidade de adquirir as figurinhas por um preço irrisório, o homem insistisse que ele checasse aquela informação. Assim, depois da conferência ser feita, o preço foi ajustado. “Posso levar vantagem aqui, mas não posso esconder nada de Deus. Devemos sempre fazer o que é correto”, informou o pastor ao vendedor, sob o olhar atento do filho, que aprendia, naquele momento, uma valiosa lição sobre ética e temor a Deus.
Pai de Teodora, 11 anos, e de Luís Augusto, e casado com a Pra. Thaís Benevente, 39 anos, líder estadual do ministério Mulheres que Vencem (MQV) em São Paulo, o Pr. Carlos Roberto da Silva diz que ninguém nasce sabendo ser pai. “Estou aprendendo todos os dias”, enfatiza o líder, destacando que as lições começaram assim que Teodora chegou ao mundo. “Quando minha filha nasceu, entendi que precisaria cuidar dela com carinho e amor, ensiná-la e dar bom testemunho. Além disso, eu deveria deixar um legado”, enumera.
Como qualquer pai, ele tem sonhos para seus filhos, mas o principal deles não é que tenham boas profissões e sejam bem-sucedidos financeiramente: “Desejo vê-los – a exemplo do apóstolo Paulo no caminho de Damasco [At 9.1-18] – tendo um encontro com Jesus. Eles precisam firmar esse compromisso pessoal com o Senhor, e é essa minha oração”. Para tanto, o pastor não tem poupado esforços: faz questão de estar ao lado da esposa, dando um sólido testemunho de família; leva e busca as crianças no colégio e fala de sua fé aos pequenos. “Quando eles estão com alguma dor, ensino a orar em Nome de Jesus para obterem a cura. Quando estão com dificuldades na escola, oriento-os a buscar sabedoria, pois, como a Bíblia diz em João 14.26, o Espírito Santo nos ensina todas as coisas.”
Assim, a cada aprendizado e vitória dos seus filhos, o pastor celebra como sendo dele, além disso, procura passar esses princípios a seus liderados. “Costumo conversar com os homens do nosso ministério sobre essa urgência de transmitir valores aos filhos. Precisamos saber ouvi-los e não desprezar suas dificuldades.”
Caminho da salvação – Da mesma maneira que ocorre com o Pr. Carlos da Silva, assim é com o representante comercial Paulo César Fidélis, 55 anos. “O sonho de todo pai é ver seu filho feliz, e o meu é muito feliz”, garante ele, abrindo um imenso sorriso. Casado com Sueli Fidélis, 57 anos, e pai de Paulo César Fidélis Filho, 30, conhecido como Paulinho, ele é obreiro na Igreja Internacional da Graça de Deus em São Miguel, na zona leste de São Paulo (SP) e coordenador do ministério Homens que Vencem (HQV) naquela congregação.
Ao falar à reportagem de Graça/Show da Fé, Paulo declarou que vive a paternidade de uma maneira especial: Paulinho, seu filho, é autista não-verbal – transtorno em que a pessoa não se expressa por meio da fala e, muitas vezes, apresenta dificuldades em demonstrar aquilo que sente e pensa por outras formas de comunicação. Ele relata que a condição foi descoberta quando o menino tinha de três para quatro anos de idade. “Ele já sabia ler, mas se distanciava de outras crianças. Isolava-se”, informa.
Quando veio o diagnóstico, Paulo sentiu que teria de deixar algumas expectativas de lado e viveu assim, por dez anos, até que seu casamento entrou em crise por causa de sua dependência de drogas. “Estava para me separar quando minha esposa começou a frequentar os cultos na Igreja da Graça”, testemunha ele, lembrando-se de que decidiu ir a algumas reuniões. E, em uma sexta-feira, dia de libertação, fez um desafio a Deus. “Se fosse liberto do vício, eu me entregaria ao Senhor. Já são 20 anos servindo a Jesus no mesmo lugar onde me converti”, revela.
O caminho da salvação mudou a conduta de Paulo em casa. “Muita gente acha que ter um filho com deficiência é uma maldição. Embora essa palavra seja forte demais, sempre digo, conforme a Palavra nos ensina: Deus transforma qualquer maldição em bênção”, conforme Neemias 13.2 declara. E assim aconteceu: Paulinho não representa um infortúnio; o rapaz é seu grande companheiro na Igreja, nos passeios ou nas viagens que a família costuma fazer. “Quando vejo meu filho sorrindo – ele sorri de uma forma tão intensa e linda –, sei como está feliz e o quanto tudo tem valido a pena”, emociona-se.
Quando vem algum temor em relação ao futuro de Paulinho, o pai encontra, na Palavra de Deus, o conforto e a orientação de que precisa. “O texto de Provérbios 3.5 ensina: Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Tenho certeza de que, quando estivermos no Céu, não haverá mais nenhuma limitação. Eu e meu filho conversaremos. Terei uma eternidade toda para desfrutar disso.”
“Firmes e amorosos” – Diversas pesquisas demonstram que, para o desenvolvimento de um filho, é essencial a participação ativa do pai. Um desses estudos, conduzido nos Estados Unidos pelo Instituto para Estudos da Família (IFS, a sigla em inglês) e divulgado no final de 2023, mostrou que jovens criados com o pai e a mãe – juntos na mesma casa – são menos propensos a se envolver com o crime e ser presos e apresentam maior tendência a cursar o Nível Superior. O contrário é válido para os jovens criados por pais separados – geralmente apenas com a mãe –, os quais têm maior probabilidade de ir para a prisão e jamais concluir uma faculdade.
Esse contexto de divisão familiar, de ausência paterna é cada vez mais comum nos Estados Unidos e em outros países, como o Brasil. Somente no último ano em nosso país, de acordo com os dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN), o número de crianças nascidas e registradas sem o nome do pai foi de 6,9% do total (2,35 milhões): ou seja, as certidões de nascimento de 162,8 mil crianças nascidas em 2023 não trazem a referência paterna.
Para o pastor e escritor norte-americano Jaime Kemp, essas famílias sofrem porque muitos pais não assumem o papel de liderança nem agem sob a autoridade de Cristo na formação de um lar firmado em princípios bíblicos. Segundo ele, os valores fundamentais têm sido deixados de lado, além de nem todos os pais aceitarem cumprir a missão sublime da paternidade. “As intermináveis exigências profissionais, financeiras, sociais e pessoais têm desviado muitos de suas verdadeiras prioridades”, alerta Kemp, autor de mais de 50 livros sobre família – entre eles, Pai inteligente influencia o filho adolescente, publicado pela Graça Editorial.
Para Jaime Kemp, a ausência paterna não pode ser respondida com “eu me sacrifico para dar o melhor para meus filhos”. Ele afirma que isso é uma desculpa, uma tentativa de aliviar a consciência. Ao ser indagado por nossa reportagem sobre qual deveria ser o tratamento entre pais e filhos (em especial, os adolescentes), o autor asseverou que os pais têm de ser exemplos para os filhos. “Precisamos ter tempo com eles, criar momentos, seja uma viagem, seja uma pescaria. Temos de ouvi-los e falar sobre todos os assuntos. Precisamos ser firmes e amorosos.”
O paisagista Pedro José de Carvalho, 46 anos, coordenador do ministério Homens que Vencem (HQV) no bairro do Tatuapé, na zona leste paulistana, tem procurado colocar em prática com o filho Vitor, de dez anos, o que Kemp defende. “Somos grandes amigos. Eu o busco todos os dias na escola. Levo-o ao futebol duas vezes por semana, e, depois, conversamos sobre como melhorar no jogo e a respeito de outras coisas.”
Egresso do sistema penitenciário e ex-dependente de entorpecentes, Pedro acreditava que, por ter passado um período preso, nunca teria uma família nem filhos. No entanto, Deus tinha outros planos para a sua vida. Em 2013, após se casar com Edneuma Carvalho, 47 anos, mãe de dois meninos de outro relacionamento, ele se converteu ao Evangelho. “Vejo Daniel e Dansley como meus filhos também. Tenho uma família completa e um casal de netos. Sou um homem feliz e abençoado”, testemunha ele. “Posso falar que o Senhor faz muito mais do que aquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef 3.20), como ensina o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios”, frisa o paisagista, alegre por poder exercer plenamente a paternidade, com a bênção do Senhor.