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10/11/2025
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O papel das igrejas na inserção de cristãos no mercado de trabalho brasileiro

Foto: NDABCREATIVITY / Adobe Stock

Por Lilia Barros

Em meio às crises econômicas e às exigências de qualificação profissional no mercado de trabalho, muitas igrejas têm expandido sua atuação também fora do âmbito espiritual, oferecendo programas e lançando mão de iniciativas que aumentam as chances de empregabilidade de seus membros e da comunidade local. E, segundo o estudo recente realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nas cidades de Belo Horizonte (MG), do Rio de Janeiro (RJ) e de São Paulo (SP), os crentes em Jesus estão em vantagem na corrida do emprego: a imagem de honestidade, disciplina, confiabilidade e comprometimento atribuída aos evangélicos facilita a inserção no trabalho.

Por meio dessa análise, os pesquisadores comprovaram a atuação das comunidades de fé evangélicas como redes de recomendação, principalmente para as pessoas de baixa renda e com pouca escolaridade, e que o boca a boca continua sendo uma ferramenta eficiente de conexão profissional, mesmo com a expansão das mídias digitais. Os estudiosos sugerem que a religião passe a ser considerada um parâmetro relevante nas análises futuras do mercado de trabalho no Brasil.

O empresário Fábio Hertel vê a igreja como uma ponte de capacitação, colocação e recolocação no mercado de trabalho
Foto: Arquivo pessoal

As conclusões dessa análise da UFMG, conduzida pelo Prof. Silvio Salej Higgins, estão descritas no artigo, em inglês, Earnings attainment in the three main cities of Southeastern Brazil: Social networks and communities of worship (em tradução livre: Crescimento de renda nas três principais cidades do Sudeste do Brasil: redes sociais e comunidades de culto), publicado na revista acadêmica germano-britânica Springer Nature. Na pesquisa, com a participação de 900 entrevistados, foram feitas perguntas relativas à obtenção de seus empregos, à frequência de contato com a pessoa que os indicou para a vaga e foi necessário informar se esse indivíduo fazia parte da mesma comunidade religiosa deles.

O empresário José Carlos Bergamin sugere: “As igrejas deveriam ter um balcão de emprego, de talentos, para poder oferecer ao mercado um perfil de trabalhador com todos esses valores e atributos que as congregações formam e defendem”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

Para o empresário Fábio Hertel, pós-graduado em Marketing, os cristãos têm uma grande oportunidade de se abençoar mutuamente, ao levarem em conta que a comunhão no templo é, também, uma plataforma de networking – uma rede de pessoas que trocam informações e conhecimentos entre si – a qual pode ser muito poderosa para a carreira profissional. Ele lembra que é fundamental que membros da comunidade cristã encorajem uns aos outros, prestigiando, recomendando, servindo e cuidando uns dos outros.“Este é um dos papéis da igreja, não como um balcão de empregos, e sim como uma ponte de capacitação, colocação e recolocação no mercado de trabalho.”

Na opinião de Hertel, as comunidades cristãs deveriam expandir seus serviços, criando departamentos e cursos de capacitação voltados ao empreendedorismo. “Imagine um pai de família despreparado e sem qualificação, dependendo financeiramente de irmãos da igreja. O ideal é promover uma série de encontros e palestras que preparem os membros de maneira que consigam ter uma fonte de renda”, aconselha ele, para quem a participação nos cultos e o estilo de vida cristão no ambiente de trabalho – pautado por princípios, como respeito, justiça, verdade e ética – abrem caminho para uma contratação. “Qualquer empregador adoraria ter pessoas éticas, resilientes e com ‘sangue nos olhos’.”

O economista Sebastião Demuner avisa: “Além de ser bem preparado tecnicamente, é importante que o profissional possua inteligência emocional, sendo assim capaz de superar seus limites”
Foto: Arquivo pessoal

O empresário José Carlos Bergamin, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), faz coro com Fábio Hertel e ressalta a questão de o empregador preferir um profissional voltado para o bem, com boa reputação, referência de caráter, projeto de vida e comprometimento. “Esses atributos são inerentes ao crente. Então, as igrejas deveriam ter um balcão de emprego, de talentos, para poder oferecer ao mercado um perfil de trabalhador com todos esses valores e atributos que as congregações formam e defendem”, sugere.

Etienne Tottola: “Os empregadores buscam profissionais engajados, capazes de se autogerenciar, que sejam responsáveis por suas entregas e tenham visão de equipe”
Foto: Arquivo pessoal

Perfil e qualificação – A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), compilada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 16 de setembro, indicava que o desemprego recuou de 7% no primeiro trimestre para 5,6% no segundo – menor índice do período desde 2012. O país tinha, no fim de julho, ao todo 6,118 milhões de pessoas desocupadas, enquanto o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu um patamar recorde: 39,1 milhões. Assim, o nível de ocupação, percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, manteve o percentual recorde de 58,8%, conforme esse levantamento.

O Pr. Paulo Henrique Miranda Araújo diz que, na Bahia, existe a necessidade de as comunidades cristãs ajudarem as pessoas, investindo na formação profissional dos crentes
Foto: Arquivo pessoal

Na análise do economista Sebastião Demuner, esses dados têm impacto positivo na engrenagem econômica do Brasil, assim como na melhoria da qualidade de vida das famílias. Entretanto, Sebastião adverte que os empresários continuam enfrentando um problema, até o momento, sem solução: a falta de profissionais capacitados. “Há muitas pessoas formando-se em áreas sem grande demanda de vagas ou que não correspondem às necessidades atuais do mercado. Por isso, quem se dedica e busca se preparar acima da média consegue se destacar com mais facilidade”, garante Demuner, que é consultor de empresas e especialista na área de Recursos Humanos (RH). De acordo com ele, o novo modelo de empregabilidade está muito voltado ao comportamento, incluindo diferenciais, como determinação e resiliência. “Além de ser bem preparado tecnicamente, é importante que o profissional possua inteligência emocional, sendo assim capaz de superar seus limites.”

O Pr. Hamilton Vieira observa que as igrejas desempenham um papel essencial na empregabilidade dos membros, ao oferecerem uma direção bíblica acerca das promessas do Altíssimo a quem busca orientação e trabalho
Foto: Arquivo pessoal

Ao ser indagado sobre o papel das igrejas nessa questão, Sebastião observa que as congregações cristãs prestam um serviço relevante na vida de quem busca uma oportunidade de emprego. “É natural que o pastor influencie seus liderados a valorizarem o trabalho. Nesse sentido, a igreja atua com mentoria, orientação e acompanhamento”, afirma Demuner, destacando que, no momento atual, o ambiente eclesiástico é propício a orientar a juventude de hoje, caracterizada pela insatisfação e impaciência. “Muitos jovens não têm disposição para construir a carreira. Não querem mais começar em uma empresa pelo almoxarifado, depois passar para vendas e, eventualmente, tornarem-se gerentes. O jovem quer já entrar em posição de destaque, como diretor, mas o mundo corporativo não funciona assim.”

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Etienne Tottola, diretora executiva da Agha Desenvolvimento de Recursos Humanos, analisa o comportamento das empresas no processo de recrutamento. “Há vagas disponíveis, mas faltam candidatos qualificados ou dispostos a seguir as regras de direcionamento e o tempo necessário para progressão de carreira”, aponta a especialista, indicando o aumento da busca por profissionais mais experientes, inclusive aposentados, a fim de conseguir suprir a necessidade de uma mão de obra comprometida e responsável. Ela concorda com a ideia de que as novas gerações mantêm uma relação diferente com o trabalho, tendo expectativas que, muitas vezes, não correspondem às exigências das empresas. “São imediatistas e ansiosas em relação ao crescimento na carreira. Por sua vez, os empregadores buscam profissionais engajados, capazes de se autogerenciar, que sejam responsáveis por suas entregas e tenham visão de equipe.”

Foto: Arte sobre foto de Chanrothana Pech / Gerado com IA / Adobe Stock

Segundo o Pr. Paulo Henrique Miranda Araújo, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Bahia, existe a necessidade de as comunidades cristãs ajudarem as pessoas, investindo na formação profissional dos crentes. “Temos um projeto social, na Igreja, denominado Graça em Ação, o qual oferece cursos gratuitos para cuidador de idosos, vigias, porteiros e outros tipos de capacitação para o trabalho”, ressalta o ministro, acrescentando que as pessoas de 30 a 55 anos de idade são as mais interessadas em adquirir esses conhecimentos.

Ensino e prática – O Pr. Hamilton Vieira, líder regional da Igreja da Graça em Três Lagoas (MS), observa que as congregações de fé desempenham um papel essencial na empregabilidade dos membros, ao oferecerem uma direção bíblica acerca das promessas do Altíssimo a quem busca orientação e trabalho. “Oramos, determinamos a bênção, e Deus vai guiando cada pessoa até a porta de emprego que o Senhor tem para ela”, atesta Vieira, lembrando que a Palavra é a porta principal e que “as demais bênçãos vão sendo acrescentadas”.

O Pr. Rogério Postigo ressalta que a principal missão da Igreja é pregar as Boas-Novas do Evangelho, para que, de fato, os indivíduos mudem de mentalidade
Foto: Rodrigo Di Castro

O ministro testemunha que seu pai, proprietário de uma padaria no interior de São Paulo, possuía os recursos necessários para prosperar, mas não sabia como utilizá-los, o que dificultava o avanço dos negócios. No entanto, por meio da Palavra do Senhor, ele encontrou direção e prosperidade. “Ele acompanhava o Missionário R. R. Soares pela TV e participava de campanhas de prosperidade e libertação na Igreja da Graça, na Praça da Sé, com toda a família, até que Deus abriu o seu entendimento”, afirma  o pastor, revelando que a padaria começou a crescer, permitindo que seu pai contratasse funcionários. “Desde então, passamos a viver guiados pelas Escrituras, as quais dizem: Cantem e alegrem-se os que amam a minha justiça, e digam continuamente: O SENHOR, que ama a prosperidade do seu servo, seja engrandecido (Sl 35.27).

O Pr. Rogério Postigo, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Minas Gerais, ressalta que a principal missão da Igreja é pregar as Boas-Novas do Evangelho, para que, de fato, os indivíduos mudem de mentalidade. “Com a transformação de vidas, as pessoas serão melhores pais de família, melhores filhos e melhores cidadãos – atributos que refletem, de maneira positiva, na sociedade. A igreja faz seu papel social, mas sempre buscando anunciar a Palavra.”

O teólogo e administrador de empresas Josué Campanhã afirma: “Ter o caráter de Cristo e ser, a cada dia, mais parecido com Ele, é o que faz a diferença, inclusive no local de trabalho”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

O teólogo e administrador de empresas Josué Campanhã pensa como Postigo, acentuando a ideia de que não é necessariamente obrigação da igreja ajudar as pessoas a se colocarem no mercado de trabalho. Ele também reforça que cabe à congregação fazer discípulos de Jesus e equipá-los para serem líderes e fazerem a diferença, qualificando-os para o trabalho e a vida. “O caráter e a integridade, obviamente, abrem portas em todos os lugares”, afirma o especialista, apontando que tais qualidades colocam a pessoa em vantagem dentro de um processo de qualificação, de disputa de emprego. Segundo Campanhã, ser membro de uma igreja não torna alguém, necessariamente, honesto, resiliente ou ético. “Ter o caráter de Cristo e ser, a cada dia, mais parecido com Ele, é o que faz a diferença, inclusive no local de trabalho”, conclui.


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