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Enfrentando perigos e autoridades inescrupulosas, George Grenfell foi um dos pioneiros na pregação do Evangelho às margens do rio Congo
Por Élidi Miranda*
O caudaloso rio Congo é o segundo mais extenso da África – atrás apenas do Nilo –, e seus afluentes formam uma magnífica bacia hidrográfica no coração do continente. Entretanto, apesar de essa vastidão aquática ser quase desconhecida na metade do século 19, isso não foi um problema para o missionário inglês George Grenfell (1849-1906). Durante 25 anos, ele navegou por aquelas águas, explorando e mapeando a região, enquanto anunciava o Evangelho aos nativos.
Nascido em 21 de agosto de 1849, Grenfell cresceu em Birmingham, na região central da Inglaterra. Na adolescência, nos anos de 1860, converteu-se em uma igreja batista durante um avivamento que tomava conta do país. Na época, concluiu a leitura do livro Missionary travels and researches in South Africa (Viagens missionárias e pesquisas na África Austral, em tradução livre), do médico e missionário escocês David Livingstone (1813-1873).
Desde então, o jovem passou a cultivar grande interesse pelo continente ainda inexplorado. Depois de terminar a universidade, Grenfell foi aceito pela Sociedade Missionária Batista para servir na África. Em janeiro de 1875, desembarcou em Camarões, na costa oeste do continente, onde havia uma base missionária estabelecida. No início do ano seguinte, casou-se com Mary Hawkes. Entretanto, ficou viúvo menos de um ano depois. Mesmo em meio ao sofrimento pela perda da esposa, preferiu permanecer na África.
Ele acreditava que a missão deveria avançar para o interior. Nesses tempos, já estava ciente de que, ao sul de Camarões, o rio Congo desaguava no Atlântico. No entanto, embora conhecido desde o século 15, pouco ou nada se sabia acerca do curso do rio em direção ao interior da África. Até que, em 1877, o jornalista galês Henry Morton Stanley (1841-1904) se tornou o primeiro a cruzar o continente africano de leste a oeste, contornando um paredão de cataratas. Desse modo, exploradores, comerciantes e missionários, como Grenfell, colocaram em prática seus planos para a conquista do novo território.
Patrocinados pela Sociedade Missionária Batista, Grenfell e um grupo de outros evangelizadores alcançaram, em 1878, a foz do Congo e, após enfrentarem dificuldades, chegaram ao lago Stanley, acima das quedas d’água. Mais tarde, um benemérito inglês enviou um barco a vapor para ajudar na missão, o Peace. Nos anos seguintes, a embarcação foi o lar do missionário e de sua família: a nova esposa, Rose, com quem se casou em 1879, e os seis filhos do casal.
A bordo do vapor, ele testemunhava o sofrimento do povo originário, oprimido pelo pecado e pela própria maldade. Entre eles, não havia qualquer palavra equivalente a perdão. As superstições, os rituais de práticas contrárias ao Evangelho e a violência daquelas pessoas entristeciam o missionário. Certa vez, ele escreveu que nada se comparava à alegria de levar, pela primeira vez, a luz da vida para aquelas regiões de escuridão, crueldade e morte. Apesar da perda de diversos obreiros – mortos pelos moradores locais ou em decorrência de doenças tropicais –, Grenfell fundou uma igreja pioneira na base montada em Bolobo, atual República Democrática do Congo. Lá, foi realizado o primeiro culto de batismo em 1889, que contou com a presença de 70 nativos.
Indignação – Em suas viagens, George Grenfell prestou um serviço inestimável, mapeando áreas nunca navegadas. Contudo, além dos missionários, forças de outro tipo estavam em ação às margens do Congo. Nos anos de 1880, o rei Leopoldo II da Bélgica (1835-1909) se tornou senhor de uma vasta região nas proximidades daquela bacia hidrográfica, obrigando os nativos a trabalhar como escravos na extração de borracha. Aqueles que se rebelavam eram submetidos a açoites, prisões, mutilações e podiam até ser assassinados.
Em 1890, as autoridades belgas voltaram suas baterias contra o missionário e confiscaram o barco a vapor Peace para o próprio uso. Profundamente triste, Grenfell foi à Inglaterra, onde manifestou sua indignação às autoridades, que obrigaram os belgas a devolver a embarcação. De volta a Bolobo em 1892, montou uma gráfica, em meio ao trabalho crescente da igreja – um alívio diante de tantas dificuldades.
Quatro dos seis filhos do missionário morreram em território congolês, incluindo a primogênita, que deixara a Inglaterra para se juntar à missão. No entanto, Grenfell continuou firme em seu propósito de levar o Evangelho a tribos cada vez mais distantes, apesar dos obstáculos impostos pelas autoridades belgas. Em 1906, 25 anos depois do início do trabalho no Congo, seu ímpeto pioneiro permanecia intacto.
Entretanto, em uma viagem rio acima, em outubro de 1906, Grenfell apresentou febre, e a fraqueza tomou conta de seu corpo. Depois de lutar algumas semanas contra a enfermidade, o evangelizador sentiu que seus dias estavam terminando. Cercado por seus discípulos, declarou: Estou morrendo […] Jesus é meu. Deus é meu. Ao descrever o singelo funeral do missionário, um nativo disse: Então cantamos outro hino. Por último, fechamos o túmulo, recolocando a terra. E, assim, a morte de Tata [nosso pai] terminou. Todavia, a contribuição de Grenfell para o continente africano se tornou uma viva inspiração. Seu zelo santo e amor por Cristo e pela África permanecem imortais. (*Com informações de Wholesome Words)