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Líderes cristãos destacam a importância de os pais intercederem pelos filhos, ensinando-lhes a orar e andar nos caminhos do Senhor
Por Patrícia Scott
A história de Jó normalmente é lembrada pelo terrível sofrimento que esse personagem bíblico enfrentou sem jamais blasfemar contra Deus. Entretanto, logo no primeiro capítulo do seu livro, as Escrituras relatam que esse homem se levantava de madrugada para interceder por seus filhos, oferecendo sacrifícios a fim de santificá-los: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente (Jó 1.5).
Assim como esse servo fiel, o Livro Sagrado destaca outras pessoas que adotaram a prática da oração. Entre eles, estão: Abraão, que orou por Ismael (Gn 17.18); Isaque, que, mesmo tendo sido enganado por seu caçula Jacó, pediu a bênção do Senhor sobre o moço (Gn 27. 28, 29). Esse mesmo Jacó, que muito tempo depois teve seu nome mudado para Israel (Gn 35.10), abençoou seus filhos individualmente na velhice pouco antes de morrer (Gn. 48.11-22; 49). No Novo Testamento, há o episódio de Jairo, cuja filha foi dada como morta (Lc 8.40-56). No entanto, por ter pedido a Jesus em favor da menina, o chefe da sinagoga contemplou o milagre: Mas ele, pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te, menina! E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer. E seus pais ficaram maravilhados, e ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia sucedido (Lc 8. 54-56).
A Bíblia orienta que, além de orar pelos filhos, os pais precisam lhes ensinar a terem fé no Senhor e a conhecerem a Sua Palavra. Em um dos momentos mais marcantes da história de Israel, quando Moisés estava prestes a morrer, o líder se dirige ao povo: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te (Dt 6.4-7). “Não é interessante que essa definição da fé de Israel inclua a transmissão, com persistência, aos filhos?”, questiona o pastor e teólogo brasileiro René Breuel, da Igreja Hopera, em Roma. “É importante orar pelos filhos, mas também com eles. Os pais não podem terceirizar a formação espiritual dos pequenos para a igreja, a escola bíblica ou o grupo de jovens. É um trabalho de equipe, e o papel dos responsáveis é fundamental e deve ser feito com exemplo e palavras.”
Segundo Breuel, ao se unirem em oração, os mais velhos transmitem aos jovens um valioso ensinamento: eles podem confiar no Senhor e clamar a Ele quando passarem por dificuldades, mesmo depois de adultos. “Desse modo, é criada uma cultura de oração, sinceridade e proximidade”, assegura o pastor, exemplificando com Jacó, que, por desejar tanto a bênção paterna, foi capaz de se passar por seu irmão mais velho, Esaú. “É uma história trágica, que mostra a importância da intercessão de um pai sobre um filho. Graças à bondade do Senhor, Jacó conseguiu orar pelos 12 filhos antes de morrer. A oração dele pelos filhos de José é especialmente marcante (Gênesis 48.10-22).”
Inspiração e encorajamento – O versículo 3 do Salmo 127 declara que os filhos são herança do Senhor. O capítulo seguinte reforça essa ideia: Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos, como plantas de oliveira, à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor! (Sl 128.1-4). A passagem de Provérbios 20.7 segue a mesma linha ao afirmar: O justo anda na sua sinceridade; bem-aventurados serão os seus filhos depois dele. “Filhos são tesouros preciosos que foram confiados a nós para amarmos, zelarmos por eles e conduzi-los a Deus”, explica a teóloga Alvarina Nunes, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Guaíba (RS). Ela salienta a necessidade de ensinar-lhes o caminho do Senhor, para que desfrutem das bênçãos celestiais por toda a vida. “A fé vem pelo ouvir a Palavra e meditar nela. Assim, é possível ter a certeza de que são abençoados.”
A Pra. Tatiane Joslin, da Igreja Renovo, no bairro Órfãs, em Ponta Grossa (PR), acredita que o hábito de orar e instruir os filhos a fazer o mesmo torna os pais uma fonte de inspiração e encorajamento. “Eles se sentem protegidos e amados quando escutam uma palavra de bênção proferida pelo pai ou pela mãe”. A ministra frisa que existe uma autoridade delegada aos pais pelo Senhor: “Há poder na palavra liberada por eles, que trazem ao plano natural as realidades do mundo espiritual que desejam para seus filhos.” Para ela, a infância é um tempo especial e fundamental para orar com os pequeninos, incentivando-os a desenvolver comunhão com o Criador à medida que crescem.
Idealizadora do ministério Maternidade com Graça, que orienta mães a desempenharem sua função com base nos ensinamentos bíblicos, a pregadora lembra que os pais exercem papéis complementares na educação dos rebentos. “O homem deve ser o líder do lar, fornecendo direção e proteção, e sendo exemplo de fé e sabedoria. Por sua vez, a mulher é chamada para gerar e nutrir os filhos natural, moral e espiritualmente. Juntos, marido e mulher compõem uma equipe equilibrada para a formação emocional e espiritual dos filhos.” A ministra do Evangelho ressalta que os pais devem viver por fé, com a expectativa de que Deus fará a boa obra em sua prole, confiando na graça e no amor do Pai. “Ele realiza aquilo que não conseguimos. É preciso decidir crer mesmo quando não vemos mudanças com os olhos naturais.”
Por sua vez, o Pr. Diogo Bulhões, da Igreja da Graça no Centro de Anápolis (GO), destaca “a importância de incluir, na intercessão pelos filhos, temas, como família, profissão e emprego, ainda que sejam crianças ou adolescentes”. Além de não cessarem de pedir que seus descendentes tenham caráter, sabedoria e discernimento. O pastor cita a história de Ana, uma mulher estéril que desejava engravidar. Ela orava a Deus por isso e, em suas petições, prometeu que, se o Altíssimo lhe concedesse o desejo do seu coração, ela consagraria a criança a Ele e a entregaria no templo para servir-Lhe integralmente (1 Sm 1). “Ana deu à luz Samuel. Depois, cumpriu o seu voto quando o entregou ao sacerdote Eli”, afirma o ministro, destacando que Samuel foi o último juiz de Israel e o primeiro profeta do período monárquico. “Seu nascimento não somente beneficiou Ana, mas teve também um propósito maior na história do povo de Deus, impactando gerações futuras e cumprindo a vontade divina. A vida de Samuel testemunha o cumprimento da promessa do Senhor e a consagração resultante da oração de sua mãe.”
Não se desviará – O pastor e teólogo Junior Rostirola, da Igreja Reviver, em Itajaí (SC), considera que pai e mãe devem interceder por seus filhos. “É importante orar por eles todo o tempo, entregando-os a Deus, a fim de que os desígnios do Pai sejam realizados”, destaca o autor do livro Café com Deus Pai (Editora Vida). Segundo Rostirola, é fundamental que a criança e o adolescente orem com os pais, cumprindo Provérbios 22.6: Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele.
Ele aponta que o Texto Sagrado ensina seus leitores a serem perseverantes na oração (Cl 4.2) nos dias bons e nos cenários desfavoráveis (1 Ts 5.17). Desse modo, afirma o teólogo, quando alguém se sente desanimado, “precisa correr para a Palavra, confiante nas promessas. Mesmo que leve tempo ou que as circunstâncias mudem, a oração deve continuar”, atesta Rostirola, mandando um recado aos pais: “Não vivam por sentimentos, e sim pelo que a Palavra de Deus garante, e serão surpreendidos, para a glória do Senhor”.
Por sua vez, o Pr. Jônatas Luiz dos Santos Lourenço, da IIGD em Imperatriz (MA), ensina que a oração tem o poder de mover o mundo espiritual e atrair o favor do Senhor, conforme está registrado em Mateus 21.22: E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis. “Ao confiarmos nEle, podemos clamar por proteção, livramento e todo tipo de beneficência para os nossos filhos.” Segundo o pastor, é fundamental que pai e mãe tomem posse da Palavra revelada no Salmo 112.1, 2: Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer. A sua descendência será poderosa na terra; a geração dos justos será abençoada. Para o ministro, ao compreender essa verdade, as circunstâncias desfavoráveis se tornarão irrelevantes, pois o foco da família será a promessa do Senhor. “Educar filhos é uma missão. Mas, ao nos alicerçarmos em Deus, ela será cumprida, mesmo diante das lutas que pareçam grandes. A confiança na Bíblia não pode ser abalada.”
De acordo com Lourenço, o bom exemplo – de moral, ética e dos princípios espirituais – começa em casa. “Os filhos são influenciados pelo meio em que vivem. Quando os pais desempenham bem suas funções, a família permanece equilibrada, e isso se reflete no desenvolvimento da prole”, assegura o líder, alertando que descumprir essa tarefa é uma falta grave. “Não é possível fugir da responsabilidade de cuidar dos filhos, o que envolve também o aspecto espiritual. Cobri-los com oração demonstra o cuidado nesse sentido, assim como Jó fazia”, afirma o pregador, citando 1 Timóteo 5.8: Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.