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Apesar da intensa perseguição religiosa, o cristianismo avança na Ásia mostrando que nada pode parar o Evangelho
Por Evandro Teixeira
Todos os anos, a Missão Portas Abertas elabora a Lista Mundial da Perseguição (LMP), um ranking em que são elencados os 50 países onde os cristãos mais sofrem por expressarem suas convicções. No recorte por continentes, a Ásia vem disputando com a África o nada honroso protagonismo no cenário global da intolerância religiosa. Na edição de 2024, a Coreia do Norte, país do Leste Asiático, ocupou o topo da lista mais uma vez. O regime socialista, liderado pelo ditador Kim Jong-un, vê o cristianismo como uma ferramenta de colonização ocidental.
No território norte-coreano, a população é ensinada que a fé cristã é perigosa. Falar com qualquer pessoa sobre o Evangelho ou possuir uma Bíblia é crime passível de severa punição. “Ser descoberto como crente em Jesus se constitui efetivamente uma sentença de morte”, afirma o secretário-geral da Missão Portas Abertas Brasil, Marco Cruz. Segundo relatos da agência missionária, os servos de Deus podem ser enviados para campos de trabalhos forçados ou até mesmo assassinados.
Situação parecida acontece na China, onde o Partido Comunista Chinês (PCC) tenta reprimir o cristianismo fechando igrejas clandestinas, proibindo a venda das Escrituras Sagradas e prendendo líderes cristãos. A perseguição se estende ao mundo digital: de acordo com a Missão Portas Abertas, uma lei aprovada em 2018 limita a liberdade dos seguidores de Cristo de compartilhar suas crenças nas redes sociais. “O controle é tão sério que o governo [de Pequim] mantém mecanismos que fiscalizam a movimentação de qualquer pessoa no espaço virtual”, destaca Marco Cruz.
Esses não são os únicos países da Ásia em que a intolerância contra os cristãos é intensa. Entre as 50 nações elencadas na LMP, 26 estão situadas no referido continente. Ainda assim, apesar das manobras para impedir o progresso do Evangelho, a Igreja não para de crescer. Um relatório divulgado pelo Center for the Study of Global Christianity, um centro de pesquisas acadêmicas que monitora os dados sobre missões ao redor do mundo, revelou que a Ásia é o continente em que o cristianismo mais avança. Ligada ao Gordon-Conwell Theological Seminary (Seminário Teológico Gordon-Conwell), em Southampton, no estado de Massachusetts (EUA), a instituição mostrou que, desde 2020, a fé cristã vem se expandindo a uma taxa de 2,11% ao ano na região que abriga 415 milhões de cristãos. [Leia, no final desta reportagem, o quadro População cristã]
Crescimento contínuo – O Pr. Rodrigo da Silva Pereira dos Santos, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na África do Sul, começou a atuar em missões há 15 anos na Índia, uma das nações asiáticas com maior restrição à pregação das Boas-Novas de Cristo. Segundo ele, por não poderem expressar suas convicções em determinadas localidades, os seguidores do Mestre têm de se reunir secretamente ou em pequenos grupos. “Com frequência, os servos de Deus se encontram em lugares escondidos para adorá-Lo, orar e estudar a Bíblia”, relata o ministro.
Contudo, Rodrigo dos Santos observa que, historicamente, as dificuldades nunca impediram a Igreja Cristã de crescer. Para ele, as adversidades fortalecem a fé e o senso de pertencimento entre os salvos em Jesus. Apesar da intolerância, o servo fiel sabe que seu esforço de obedecer à Palavra será recompensado. “A força dos cristãos que moram em países fechados ao Evangelho se sustenta na esperança da vida eterna, no apoio da comunidade de fé e na presença reconfortante do Espírito Santo.”
Visão semelhante tem o Pr. Felipe Valeriano Menezes, que, desde 2022, está à frente da Igreja da Graça na Armênia, ex-república soviética localizada na fronteira entre a Europa e a Ásia. Ele ressalta a centralidade da tecnologia para propagar o cristianismo no continente asiático, mas faz um alerta. “É preciso usar a web com sabedoria ao divulgar informações, a fim de que elas preservem os encontros secretos, uma das principais estratégias usadas pelos missionários”, adverte.
O Pr. Flávio Ulisses, diretor internacional assistente da agência missionária Pioneiros, que atua levando as Boas Notícias do Reino de Deus aos povos não alcançados de diversas partes do planeta, lembra que, ao falar de missões, é essencial ir além das estatísticas. De acordo com ele, outros fatores qualitativos evidenciam o crescimento do cristianismo: o número de missionários enviados, a manutenção de obreiros locais e as iniciativas de plantio de igrejas. Além disso, Ulisses reconhece a dificuldade de mensurar a expansão do Evangelho na Ásia devido à falta de dados oficiais em alguns países, obrigando as organizações a trabalharem com estimativas. “Atuei na Índia e pude constatar a presença de uma Igreja Evangélica forte nos grandes centros urbanos. Porém, no interior, ainda há muito a ser feito.”
“Uma evolução” – O Pr. Amauri Costa de Oliveira, teólogo, mestre em Ciências da Religião e presidente da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), destaca o fato de que a fé cristã disputa espaço com as religiões tradicionais no Oriente, como o islamismo, o hinduísmo e o budismo. Na visão dele, um aumento de 2,11% ao ano de pessoas que professam a fé em Cristo é significativo. “É uma evolução, um crescimento que implica desdobramentos. Os novos crentes geram discípulos que se tornam obreiros. Com isso, surgem mais seminários, impulsionando a demanda por literaturas e Bíblias traduzidas. Isso vem acontecendo em solo asiático”, compartilha.
Amauri Oliveira ressalta que esse crescimento não se deve somente ao aumento de membros das famílias convertidas na Ásia. A evangelização tem levado muitos a Cristo, e isso tem chamado a atenção dos governantes locais. De acordo com Oliveira, leis anticonversão estão sendo aprovadas em vários estados da Índia, porque o governo alega que as pessoas, especialmente as mais pobres, estariam sendo forçadas a aceitar a fé cristã, algo que as autoridades querem coibir. “Se o cristianismo não estivesse crescendo e se tornando evidente, não haveria tal preocupação. Entretanto, essas medidas não impedirão o avanço da obra missionária na Ásia”, enfatiza.
O presidente da APMT defende que o Evangelho crescerá mais no continente asiático se houver maior investimento na formação de obreiros dessa área geográfica. “Há povos com línguas e culturas complexas, então o trabalho de preparar um missionário estrangeiro é mais demorado.” Segundo ele, existem países nos quais se falam idiomas diferentes. Por essa razão, um nativo tem vantagem sobre o estrangeiro, porque domina três dessas línguas, amplia o seu alcance e acelera o treinamento. “A fé cristã se tornará ainda mais sólida quando conseguirmos plantar igrejas que preparem e enviem evangelistas locais.”
Para o missionário Alessandro Maciel, da Igreja Batista Ebenezer do Cantinho do Mar, em Rio das Ostras (RJ), pregar a Palavra em nações asiáticas é estar em uma grande batalha espiritual. Com a experiência de alguém que atuou na evangelização de asiáticos residentes na América do Sul, Maciel afirma que, ao encarar tal desafio, os obreiros precisam estar cientes de que há um caminho árido a percorrer. “Devido à dureza dos corações, principalmente das autoridades locais, à semelhança do que aconteceu com Israel no Egito, missionários e cristãos são submetidos a situações de sofrimento”, ressalta ele, observando que Jesus nos advertiu a respeito disso em Mateus 5.10,11: Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus; bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. “Apesar das hostilidades, os servos de Deus têm feito a obra prosperar.”
POPULAÇÃO CRISTÃ
Veja os países asiáticos que figuram na lista das 50 nações onde há maior perseguição aos cristãos. Entre parênteses, indicamos a posição do país no ranking e, ao lado, o número estimado de servos de Deus que se mantêm fiéis a Ele apesar das hostilidades:
– Coreia do Norte (1º): 400 mil
– Paquistão (7º): 4,2 milhões
– Afeganistão (10º): milhares*
– Índia (11º): 71,1 milhões
– Mianmar (17º): 4,5 milhões
– Maldivas (18º): centenas*
– China (19º): 96,7 milhões
– Laos (21º): 212 mil
– Uzbequistão (25º): 352 mil
– Bangladesh (26º): 950 mil
– Turcomenistão (29º): 66 mil
– Vietnã (35º): 9,6 milhões
– Butão (36º): 19,5 mil
– Indonésia (42º): 34,5 milhões
– Brunei (44º): 54,2 mil
– Tajiquistão (46º): 63 mil
– Cazaquistão (47º): 4,8 milhões
– Malásia (49º): 3,1 milhões
(*) Não há números específicos
(Fonte: Missão Portas Abertas)